Acidente de trem na Grécia motiva protestos e greve de ferroviários; mortes vão a 57

Ministro dos Transportes renuncia, e novo chefe da pasta assume investigação da tragédia

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Atenas | Reuters e AFP

Gregos foram às ruas protestar contra a empresa ferroviária Hellenic Train na noite desta quarta-feira (1º), um dia após a tragédia causada pela colisão de dois trens na mesma linha.

O acidente, ocorrido perto de Larissa, cerca de 230 km ao norte de Atenas —provocou 57 mortes, segundo a contagem divulgada pelo governo nesta quinta (2), e foi chamado pela imprensa do pior do tipo no país.

Manifestantes participam de ato contra operadora nacional de trens em frente a escritório da empresa em Atenas - Louiza Vradi - 1º.mar.23/Reuters

Na capital, manifestantes atiraram pedras nos escritórios da companhia ferroviária antes de serem dispersados por gás lacrimogêneo usado pela tropa de choque. Atos também eclodiram em Thessaloniki.

Nesta quinta, os trens foram paralisados em um dia de greve do setor —os sindicatos alegam que sucessivos governos se recusam a ouvir suas demandas para melhorar os padrões de segurança.

"Estamos todos devastados por essa tragédia", afirmou à imprensa o porta-voz do governo, Giannis Oikonomou. "As perdas que esse acidente causou, os traumas físicos e mentais dos sobreviventes e a angústia do país são enormes e difíceis de administrar, principalmente agora."

Ele disse ainda que as autoridades investigarão as causas da tragédia e os "atrasos crônicos" na implementação de projetos ferroviários. "Isso está enraizado no setor público grego, uma distorção de décadas", disse, acrescentando que a gestão atual tentou resolver o problema, mas não conseguiu.

Assumindo a chefia do Ministério dos Transportes após a renúncia de Kostas Karamanlis, na quarta, Giorgos Gerapetritis afirmou que está à frente de um inquérito para estabelecer as causas do acidente.

Horas após o desastre, a polícia grega prendeu o chefe da estação, um homem de 59 anos não identificado, acusando-o de morte por negligência. Ele a princípio negou as acusações, atribuindo o acidente a uma falha técnica. Nesta quinta, sua defesa declarou que ele assumiu parte da culpa, mas que muitos outros fatores contribuíram para a tragédia. "Ele concorda que poderia ter sido mais cuidadoso e aceita sua responsabilidade nesse sentido, mas é isso", afirmou seu advogado, Stefanos Pantzartzidis.

O funcionário, que de acordo com a imprensa local comandava a estação há apenas um mês, terá que explicar como um trem de passageiros e um comboio de carga rodaram na mesma via por vários quilômetros antes de colidirem. Acusado de homicídio culposo e lesão corporal, ele pode ser condenado a prisão perpétua —a expectativa é a de que ele compareça diante da Justiça no sábado.

Uma gravação do diálogo entre o chefe da estação e o condutor de um dos trens, publicada no jornal grego Proto Thema, sugere que o acusado instruiu o colega a ultrapassar um farol vermelho. A ordem não pareceu estranha, uma vez que o sistema de sinalização não estava funcionando corretamente.

Enquanto isso, sindicatos reclamam da escassez crônica de funcionários. Nikos Tsikalakis, chefe do sindicato dos trabalhadores da operadora estatal de infraestrutura ferroviária do país, afirma que cerca de 750 trabalhadores estão hoje empregados no setor, número bem abaixo das ao menos 2.100 pessoas que inicialmente deveriam estar atuando para que o sistema ferroviário operasse de forma eficaz, de acordo com um plano aprovado pelo estado. A estatal não se manifestou.

Partes dos serviços ferroviários da Grécia foram privatizadas em 2017 sob um programa de resgate da União Europeia e do FMI. A Hellenic Train, unidade da Ferrovie dello Stato da Itália que adquiriu operações de passageiros e carga, disse que está trabalhando com as autoridades na investigação.

Os trens viajavam na mesma linha e se chocaram a cerca de 350 km de Atenas a velocidades que a mídia local reportou como superiores a 160 km/h, reduzindo um deles a uma massa mutilada de aço e fazendo as temperaturas dentro do primeiro vagão superarem 1.300°C. Havia cerca de 350 pessoas no trem.

"O momento mais difícil é esse, quando, em vez de salvarmos vidas, temos que resgatar corpos", afirmou o socorrista Konstantinos Imanimidis, 40, à agência de notícias Reuters, no local do acidente. "As temperaturas nos vagões não permitem que ninguém sobreviva." Muitas das vítimas eram estudantes universitários que voltavam para casa após um feriado prolongado.

Perto dali, dois irmãos choravam. Sokratis Bozos, 33, disse que buscava notícias do pai, já que o hospital não sabia informar se o corpo havia sido resgatado. Para identificar as vítimas, parentes, incluindo os irmãos Bozos, forneceram amostras de DNA em um hospital em Larissa. "Algum filho da p... tem que pagar por isso", gritou um parente do lado de fora do centro de saúde.

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