Em uma visita não anunciada previamente, o norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, a aliança militar ocidental, foi à capital da Ucrânia, Kiev, nesta quinta-feira (20), onde homenageou soldados do país mortos na guerra e caminhou entre blindados da Rússia que foram capturados.
Trata-se da primeira vez que ele visita o país invadido desde que o conflito começou, em fevereiro de 2022. A discrição em torno da viagem é uma praxe em visitas do tipo devido a questões de segurança.
Simbólica, a visita representa o contínuo apoio da aliança liderada pelos EUA ao país de Volodimir Zelenski. E incomoda, claro, os russos —uma das justificativas de Vladimir Putin para invadir o vizinho era afastar a Otan de suas fronteiras, ou seja, da órbita de países que integravam a União Soviética.
O episódio foi usado pelo líder ucraniano para reiterar os pedidos de ingresso da Ucrânia no clube militar, que recentemente aceitou a Finlândia, assim como deve fazer, caso obstáculos sejam superados, com a Suécia. Zelenski cobrou garantias de segurança e um prazo para passar a fazer parte do grupo.
"Não há nenhuma barreira objetiva à decisão política de convidar a Ucrânia a integrar a Otan, ainda mais agora, quando as populações dos países-membros da aliança e a maior parte dos ucranianos apoiam o acesso à Otan", afirmou o presidente. "Este é o momento para a decisão correta."
Stoltenberg, por sua vez, disse que a ajuda ao país segue como prioridade, mas não cravou um prazo para o ingresso de Kiev. "A Otan segue ao lado da Ucrânia hoje, amanhã e por quanto tempo for necessário."
O norueguês frisou as cifras de apoio enviadas até aqui —"milhares de soldados treinados e US$ 71 bilhões em ajuda militar"— e disse que o lugar da Ucrânia é na "família euro-atlântica". "A Ucrânia tem um lugar de direito na Otan. E, com o tempo, nosso apoio nos ajudará a tornar isso possível."
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a falar do assunto nesta quinta-feira, quando afirmou que a operação militar especial, eufemismo que a Rússia usa para denominar a guerra, quer impedir a Ucrânia de se somar à aliança. "Caso contrário, isso representará um significativo perigo para a segurança russa."
A ida de Stoltenberg se dá ainda em um momento importante da guerra, que se aproxima de 14 meses, quando Kiev tenta retomar terrenos no sul e no leste do país, em uma provável contraofensiva.
Ainda nesta semana, a aliança militar debaterá o envio de mais suprimentos militares durante um encontro na Alemanha. Nesta quinta, Dinamarca e Holanda, dois dos membros da Otan, anunciaram uma doação conjunta de 14 tanques Leopard 2 aos ucranianos.
Além de Kiev, Stoltenberg visitou a cidade de Butcha. Fotografias da região com registros de dezenas de corpos nas ruas foram amplamente divulgadas há um ano, após a retirada de tropas da Rússia do local e também engrossaram acusações de crimes de Moscou.
O líder da Otan disse ter ficado comovido com o que viu no local, hoje novamente sob controle ucraniano. "As atrocidades russas contra a população da Ucrânia continuam, e os responsáveis por isso devem responder pelos crimes", disse. Há diversas investigações sobre possíveis crimes de guerra no conflito do Leste Europeu. Em março, o TPI (Tribunal Penal Internacional) emitiu um mandado de prisão contra Putin por supostos crimes de guerra relacionados à deportação ilegal de crianças ucranianas.
Países como Estados Unidos, China, Rússia e mesmo a Ucrânia não são signatárias do Estatuto de Roma, fundador do TPI, ainda que Kiev tenha aceitado que o tribunal atue em seu território durante a guerra para realizar investigações. Assim, essa decisão dificilmente terá algum efeito prático.
Em outra frente contra Moscou, também nesta quinta a Suíça incluiu o Grupo Wagner —aliado do Kremlin que atua na guerra como atividade mercenária— e a agência de notícias RIA em sua lista de sanções.
O movimento segue medida similar da União Europeia. O bloco ampliou nesta semana as restrições ao Grupo Wagner e à RIA, acusando-os de ameaçar a integridade territorial e a independência da Ucrânia.
Sobre o grupo mercenário, os países-membros afirmam haver impacto desestabilizador onde o Wagner atua, em especial na África. Sobre a agência, dizem haver ampla desinformação e propaganda pró-Rússia.
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