Ditadura de Mianmar mata ao menos 50 opositores em ataque aéreo

Aeronaves do Exército atiraram sobre multidão que celebrava abertura de sede de milícia antirregime em vilarejo

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Reuters

Ao menos 50 pessoas foram mortas em Mianmar nesta terça-feira (11), após aviões do Exército bombardearem um evento que reunia oponentes da ditadura que comanda o país.

Soldados ficam de guarda diante de veículos militares durante protesto contra golpe de Estado em Rangoon, em Mianmar - 15.fev.21/Reuters

O incidente foi noticiado em um primeiro momento por veículos locais como BBC Burmese, RFA (Radio Free Asia) e Irrawaddy, que creditaram a informação a residentes da região de Sagaing, a cerca de 250 km da capital, Naypyitaw. Horas depois, a ditadura confirmou o ataque aéreo.

O porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun, disse ao canal militar Myawaddy que o ataque visava restaurar a paz e a estabilidade na região e que, se houve baixas civis, foi porque as vítimas foram forçadas a ajudar os "terroristas".

Segundo o relato de um membro da milícia Força de Defesa Popular (PDF) à agência de notícias Reuters, caças atiraram contra uma multidão que celebrava a abertura de uma sede do PDF no vilarejo de Pazigyi, no município de Kanbalu. Ele acrescentou que nem todos os cadáveres foram recuperados, e o número exato de óbitos ainda é desconhecido —estima-se que a cifra possa chegar a cem. A Reuters não pôde verificar os relatos.

Horas após o episódio, o austríaco Volker Turk, comissário de direitos humanos da ONU, disse estar horrorizado com os relatos. Ele afirmou que, segundo informações às quais teve acesso, crianças em idade escolar estavam entre as vítimas, mas não detalhou números.

"Apesar das obrigações legais dos militares de proteger os civis, tem havido flagrante desrespeito pelas regras relacionadas do direito internacional", disse ele em um comunicado. Turk também voltou a dizer que os militares no poder em Mianmar e também milícias ligadas a eles estão cometendo violações de direitos humanos que podem ser caracterizadas como crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

O Exército de Mianmar assumiu o poder do país em 2021, por meio de um golpe de Estado. Desde então, ofensivas contra minorias étnicas e confrontos com opositores têm sido frequentes, em atos de repressão que incluem ataques aéreos e uso de armas pesadas mesmo em áreas habitadas por civis. A ONU estima que ao menos 1,2 milhão de pessoas tenham sido desalojadas pelos enfrentamentos depois do golpe.

O caso desta terça pode ser um dos mais letais na nação do Sudeste Asiático desde outubro, quando um ataque aéreo que teve como alvo uma apresentação artística de uma minoria étnica em Kachin matou ao menos 50 pessoas. Em março, pelo menos oito civis, incluindo crianças, foram assassinados em outra ofensiva aérea, desta vez em uma aldeia no noroeste do território, segundo grupos de direitos humanos, integrantes de minorias étnicas e a mídia local.

No mesmo mês, o regime anunciou a dissolução da Liga Nacional pela Democracia (LND), partido da ex-líder civil Aung San Suu Kyi, deposta e presa após o golpe. Outros 39 partidos também foram dissolvidos por não se registrarem de acordo com a nova e dura legislação eleitoral instaurada pelos militares.

O Governo de Unidade Nacional —formado no exílio por um grupo de legisladores eleitos destituídos no golpe de Estado— condenou o ataque em Sagaing, chamando-o de "mais um exemplo do uso indiscriminado da força contra civis [pelo Exército]". Os militares negam as acusações de que tenham cometido atrocidades do tipo e afirmam lutar contra terroristas que buscam desestabilizar o país.

Uma série de países ocidentais impôs sanções à junta militar e à sua vasta rede de negócios para tentar sufocar suas receitas e o acesso a armas de fornecedores-chave, como a Rússia.

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