Polícia de Israel confronta palestinos e fere 12 em mesquita em Jerusalém; veja vídeo

Operação termina com detenção de 350 pessoas e incita confrontos também na Faixa de Gaza

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Gaza e Jerusalém | Reuters e AFP

Local sagrado para judeus e muçulmanos, a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, foi palco de confronto entre religiosos das duas vertentes nesta quarta (5) —véspera do Pessach, a Páscoa judaica, e em meio às celebrações do Ramadã muçulmano. Durante a madrugada, a polícia de Israel invadiu a mesquita de Al-Aqsa e entrou em confronto com centenas de palestinos que passavam a noite no local.

As versões sobre o ocorrido divergem. Responsável por controlar o acesso ao complexo na Cidade Antiga, a polícia de Israel disse em nota que foi obrigada a entrar no local após supostos desordeiros mascarados bloquearem as entradas e se armarem com paus e pedras horas depois da última oração vespertina.

Policiais israelenses retiram homem palestino da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, após confrontos na mesquita de Al-Aqsa - Ahmad Gharabli/AFP

A ação, de acordo com as forças de segurança de Israel, era uma preparação para a chegada dos judeus no dia seguinte ao local, conhecido na tradição hebraica como Monte do Templo.

Já os palestinos dizem que estavam rezando durante a noite, como é comum no Ramadã, quando agentes com alto-falantes alertaram os presentes que precisavam deixar a mesquita ou seriam removidos à força.

Relatos do canal árabe Al Jazeera dão conta de que vários jovens decidiram desobedecer o comando para não interromper as preces. A polícia então irrompeu na mesquita, quebrando portas e janelas e lançando bombas de gás lacrimogêneo sobre os fiéis —mais de 350 palestinos foram detidos na operação.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o que parecem ser fogos de artifício explodindo no interior do santuário e agentes uniformizados agredindo os palestinos com cassetetes. Ainda de acordo com a Al Jazeera, a operação continuou até o período da manhã, quando os oficiais teriam expulsado os muçulmanos do complexo religioso para que os judeus entrassem no local escoltados.

Equivalente da Cruz Vermelha nos países islâmicos, o Crescente Vermelho acusou os policiais de terem impedido médicos de chegarem ao local para prestar assistência às vítimas. Segundo a organização, 12 palestinos sofreram lesões, inclusive por balas de borracha, e três deles tiveram que ser encaminhados a um hospital. A polícia de Israel afirma que dois de seus agentes ficaram feridos.

O episódio marca um novo capítulo de tensões entre Israel e Palestina após meses de confrontos e teve repercussões dentro e fora do território. Em protesto contra a invasão, manifestantes na cidade de Beit Ummar, na Cisjordânia, queimaram pneus e atiraram pedras e explosivos contra tropas israelenses —um dos soldados foi atingido por uma bala. Outro palestino abriu fogo contra as Forças Armadas israelenses em um posto de controle na divisa entre Jerusalém e Belém, mas não fez nenhuma vítima.

Homem ergue bandeiras da Palestina em meio a pneus em chamas em protesto contra invasão da mesquita de Al-Aqsa na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza
Homem ergue bandeiras da Palestina em meio a pneus em chamas em protesto contra invasão da mesquita de Al-Aqsa na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza - Mahmud Hams/AFP

Enquanto isso, 16 foguetes foram lançados contra o país a partir da Faixa de Gaza, área controlada pelo grupo extremista islâmico Hamas. Um dos foguetes atingiu uma fábrica na cidade de Sderot, perto dali. Em represália, o Exército de Tel Aviv promoveu ataques aéreos e terrestres à região.

"Não estamos interessados em uma escalada, mas estamos prontos para qualquer cenário", afirmou o porta-voz das Forças Armadas israelenses, Daniel Hagari —há dois anos, um enfrentamento na Esplanada das Mesquitas levou a 11 dias de conflito na Faixa de Gaza.

Seja como for, o episódio acendeu o alerta da comunidade internacional. Porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby disse que a Casa Branca segue "extremamente preocupada com a violência constante na mesquita de Al-Aqsa". O premiê do Canadá, Justin Trudeau, criticou a "retórica inflamada" de Israel e pediu ao governo que mudasse sua abordagem em relação aos palestinos.

Nações do Oriente Médio também condenaram as ações da gestão de Binyamin Netanyahu. A Jordânia, que administra os locais muçulmanos sagrados em Jerusalém, chamou a incursão policial de "ataque" e solicitou um encontro urgente da Liga Árabe em conjunto com o Egito, que também condenou o incidente.

A Arábia Saudita afirmou que "rejeita categoricamente" ações que violem "os princípios e as normas internacionais de respeito aos locais sagrados", e o Irã chamou o incidente de um "ataque brutal do regime sionista [...] que mostra ao mundo mais uma vez sua natureza criminosa". Por fim, um diplomata estrangeiro disse que representantes da ONU estavam envolvidos numa tentativa de acalmar as tensões.

Internamente, Bibi, como o premiê israelense é conhecido, afirmou estar imbuído do mesmo propósito. Na prática, porém, a nota que divulgou foi mais uma defesa tácita da polícia do que uma oferta de paz.

"Israel se compromete com a manutenção da liberdade de credo e do 'status quo' no Templo do Monte e não permitirá que extremistas violentos mudem isso", disse ele, referindo-se ao acordo segundo o qual só os muçulmanos têm acesso livre ao complexo e podem rezar no local, frequentemente desafiado por ultranacionalistas de seu país. O premiê enfrenta uma oposição popular massiva devido a seu plano de reforma judicial, que ameaça o equilíbrio dos Três Poderes na nação.

Já seu ministro de Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben-Gvir —que no início do ano provocou uma crise ao visitar a Esplanada das Mesquitas— foi menos sutil ao elogiar a ação dos agentes, segundo ele "rápida e determinada". O líder do partido Otzmá Yehudit teria vazado no dia anterior uma conversa em que cobrava do chefe da polícia de Israel ações mais duras contra os árabes —ao que o oficial, Kobi Shabtai, respondeu que "era da natureza deles matar uns aos outros e que nada podia ser feito".

Nesta quarta-feira, Ben-Gvir afirmou que era preciso endurecer as ações do Exército na Faixa de Gaza. "Foguetes do Hamas precisam de respostas mais duras do que explodir dunas e locais vazios", escreveu ele em um post no Twitter, atribuindo o lançamento dos mísseis à organização extremista, que não assumiu a autoria dos atos. "Está na hora de cabeças rolarem em Gaza", completou.

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