Descrição de chapéu The New York Times

Primeiro presidente dos EUA a ser preso foi detido por excesso de velocidade a cavalo

Em 1872, Ulysses S. Grant foi detido por se aventurar cavalgando nas ruas de Washington e parabenizou o policial

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William K. Rashbaum Kate Christobek
The New York Times

A última vez em que algo remotamente parecido aconteceu foi há 150 anos. Envolvia um cavalo e uma charrete em alta velocidade, o barulho de cascos perto da Casa Branca e um infrator reincidente que por acaso era o presidente dos Estados Unidos.

Ulysses S. Grant, que gostava de cavalos espirituosos e tinha uma aparente gana por testar sua coragem, foi preso em 1872 por excesso de velocidade numa rua de Washington, onde conduzia uma charrete de dois cavalos. Era a segunda vez em dois dias que o policial parava o presidente; na primeira, o oficial o advertiu.

Manifestantes pedem prisão do ex-presidente Donald Trump em Nova York
Manifestantes pedem prisão do ex-presidente Donald Trump em Nova York - Leonardo Munoz - 4.abr.23/AFP

Na terça-feira (4), Donald Trump se tornou o segundo presidente americano a ser detido pelas autoridades.

O episódio de Grant aparentemente não foi noticiado na imprensa na época, mas veio à tona em 1908, quando o The Sunday Star de Washington publicou uma entrevista com o então oficial aposentado que prendeu o 18º presidente dos EUA. O nome do oficial era William West, um homem negro que serviu no Exército da União durante a Guerra Civil. A história foi confirmada mais de cem anos depois pelo Departamento de Polícia de Washington.

Embora ex-presidentes tenham sido investigados –como Richard Nixon e Bill Clinton–, a prisão de Grant por suas peripécias equestres é a coisa mais próxima que a história pode oferecer da prisão de Trump.

Grant e vários de seus amigos, com quem ele aparentemente estava competindo, foram levados para uma delegacia de polícia. Todos tiveram que pagar US$ 20 de fiança –o que foi descrito no noticiário como uma espécie de "garantia"– soma que hoje equivaleria a cerca de US$ 500 (R$ 2,5 mil).

O presidente, que tinha "a aparência de um colegial pego em flagrante pelo professor", reagiu com bom humor à detenção, de acordo com o noticiário. Ele até conduziu West em sua charrete até a delegacia, onde sua detenção foi processada.

No caminho, o policial e o presidente conversaram sobre a experiência do primeiro durante a Guerra Civil. O presidente "lhe disse que não teria problemas por fazer a prisão, pois admirava um homem que cumpria seu dever", segundo a reportagem de 1908.

Desde então, a coisa mais próxima de uma prisão presidencial ocorreu quando Nixon, enfrentando um processo criminal, renunciou e recebeu perdão incondicional de seu sucessor, Gerald Ford, em 1974. Em um discurso de dez minutos anunciando o perdão, Ford explicou que um longo julgamento polarizaria o povo americano e prejudicaria a credibilidade do governo no país e no exterior. Posteriormente, foi divulgado que ele optou por conceder o perdão para praticar mais misericórdia que justiça.

Apenas 11 meses antes, o vice-presidente de Nixon, Spiro Agnew, não contestou uma única acusação de sonegação de imposto de renda e renunciou. O promotor-chefe disse na época que havia medo de que Agnew pudesse se tornar presidente. Um apelo sem contestação evitou um litígio prolongado e permitiu que Agnew evitasse acusações federais por um esquema de propina.

Um dos primeiros vice-presidentes do país também enfrentou desafios legais. Depois de deixar o cargo, Aaron Burr foi levado a julgamento por traição em 1807 e acabou absolvido por falta de provas.

Nos últimos anos, candidatos presidenciais passaram por vários graus de escrutínio por possíveis crimes. Após suas candidaturas malsucedidas à Presidência e à Vice-Presidência, John Edwards, um ex-senador da Carolina do Norte, foi acusado pelo Departamento de Justiça de fraude no financiamento de campanha em um escândalo de suborno.

Em 2014, um grande júri estadual indiciou Rick Perry, então governador do Texas, acusando-o de abuso de poder quando ameaçou cortar o financiamento estadual a um promotor distrital democrata. Com a acusação ainda pairando sobre sua cabeça, ele anunciou sua candidatura à Presidência em junho de 2015. Mas desistiu da disputa três meses depois, e as acusações foram canceladas.

O caso contra Grant e os outros homens foi julgado um dia após sua prisão, de acordo com o noticiário. O juiz impôs pesadas multas aos amigos do presidente, embora eles protestassem vigorosamente, criticando a conduta de West. "Quando o nome do general Grant foi chamado, não houve resposta", segundo o relato, "e seus US$ 20 foram confiscados."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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