Descrição de chapéu África

Acusado de orquestrar genocídio de Ruanda é preso após décadas de buscas

Fulgence Kayishema esteve em pelo menos menos cinco países após crimes e se encondia entre refugiados

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Cidade do Cabo | Reuters

Um dos fugitivos mais procurados por envolvimento no genocídio de Ruanda, em 1994, foi preso na África do Sul depois de décadas de investigação. Fulgence Kayishema, 62, é acusado de orquestrar o assassinato de mais de 2.000 pessoas da minoria tutsi, incluindo mulheres, crianças e idosos, que estavam escondidos em uma igreja.

Kayishema foi capturado na quarta-feira (24) em uma operação conjunta entre as autoridades sul-africanas e investigadores da ONU. Ele negou a identidade em um primeiro momento, mas depois teria dito às autoridades que esperava ser preso havia muito tempo.

Fulgence Kayishema segura livro cristão em tribunal na Cidade do Cabo
Fulgence Kayishema segura livro cristão em tribunal na Cidade do Cabo - Rodger Bosch/AFP

Nesta sexta-feira (26), Kayishema foi ouvido em audiência. Com um livro que tinha estampado na capa "Jesus primeiro" e uma bíblia nas mãos, ele negou envolvimento nos assassinatos de 1994. Questionado se tinha algo a dizer às vítimas, o ruandês desconversou.

"O que posso dizer? Lamentamos saber o que estava acontecendo", disse no tribunal da Cidade do Cabo, na África do Sul. "Naquela época era uma guerra e eu não tinha nenhum papel."

Kayishema era fugitivo da Justiça desde 2001, quando o Tribunal Penal Internacional para Ruanda o indiciou pelo crime de genocídio por suposta atuação na destruição da Igreja Católica Nyange, na região de Kibuye.

Estima-se que 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos durante o genocídio de Ruanda, orquestrado por um regime extremista hutu e executado por autoridades locais e cidadãos comuns.

A milícia hutu lançou granadas na igreja de Nyange e depois a encharcou com combustível para incendiá-la. Na sequência, o templo foi derrubado com escavadeiras —a maioria das pessoas que se abrigavam no local morreu.

De acordo com ficha criminal obtida pela agência de notícias Reuters, Kayishema enfrenta cinco acusações na África do Sul, incluindo duas de fraude relacionadas a pedidos de asilo e status de refugiado no país. Segundo o Ministério Público sul-africano, ele usou nome falso e apresentou a nacionalidade de Burundi.

Serge Brammertz, promotor-chefe do Mecanismo Residual Internacional para Tribunais Criminais (IRMCT), disse à emissora britânica BBC que as investigações detectaram a passagem de Kayishema por pelo menos cinco países após o genocídio de 1994 e que ele se escondia entre refugiados.

"Primeiro, ele foi para a RDC [República Democrática do Congo] por alguns meses, depois foi para um campo de refugiados na Tanzânia. De lá mudou-se para Moçambique. Dois anos depois, para Essuatíni. No final dos anos 90, ele acabou na África do Sul", disse Brammertz.

Ele acrescentou que a promotoria persuadiu um pequeno número de ex-soldados ruandeses com identidades falsas que vivem na África do Sul como refugiados a fornecer informações sobre o paradeiro de Kayishema.

O ruandês esteve no tribunal nesta sexta acompanhado de policiais mascarados com armas automáticas e coletes à prova de balas. O Ministério Público comunicou que uma nova audiência será realizada em 2 de junho para permitir mais tempo à investigação.

"Enquanto ele estava sendo preso, mais informações chegaram, o que pode significar que adicionamos mais acusações", disse o porta-voz Eric Ntabazalila, acrescentando que os promotores se oporiam à fiança caso ele a pedisse.

Kayishema será mantido na prisão de Pollsmoor, na Cidade do Cabo, antes da extradição para Ruanda.

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