O relatório Global Slavery Index, divulgado nesta quarta-feira (24), apontou a Coreia do Norte, a Eritreia e a Mauritânia como os países mais afetados pela escravidão moderna. O documento também registra um agravamento da situação em todo o mundo desde sua última edição, publicada há cinco anos.
A pesquisa estimou em 50 milhões o número de pessoas "em situação de escravidão moderna" em 2021, aumento de 10 milhões em relação a 2016. Esse número inclui 28 milhões de pessoas em situação de trabalho forçado e 22 milhões em casamentos forçados. Entre os fatores que explicam esse agravamento estão os "conflitos armados que aumentam e são mais complexos" e o impacto da pandemia da Covid.
Elaborado pela Walk Free, cofundada por Andrew Forrest e dirigida por Grace Forrest, filha do bilionário australiano do setor de mineração, o documento inclui na definição de escravidão moderna "trabalho e casamento forçados, servidão por dívida, exploração sexual" e "venda e exploração de crianças".
Segundo o texto, a Coreia do Norte, uma ditadura liderada por Kim Jong-un, registra a taxa mais alta entre 160 países, com 104,6 pessoas em escravidão moderna a cada mil habitantes. Em seguida aparecem Eritreia (90,3) e Mauritânia (32), que, em 1981, foi o último país a declarar ilegal a escravidão hereditária.
Muitas das nações no topo desse ranking estão em regiões consideradas voláteis, em situação de conflito, instabilidade política ou, ainda, com significativa população vulnerável, como refugiados e trabalhadores migrantes. Entre os dez países mais afetados estão Arábia Saudita (21,3) e Emirados Árabes Unidos (13,4), onde a "kafala", a tutela sem filiação, limita os direitos de trabalhadores migrantes.
Também fazem parte do grupo Turquia (15,6), "que acolhe milhões de refugiados sírios", Tadjiquistão (14), Rússia (13) e Afeganistão (13). Na outra ponta, Suíça (0,5), Noruega (0,5) e Alemanha (0,6) aparecem como os países em que a escravidão moderna é menos prevalente —o Brasil (5) foi listado na 88ª posição no ranking. Em números absolutos, o problema atinge 1,1 milhão de pessoas no país sul-americano.
Em 2022, a Walk Free produziu um levantamento com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a OIM (Organização Internacional para as Migrações), ambos os órgãos parte do sistema da ONU, e as estimativas geradas na pesquisa serviram de base para o mais recente relatório da entidade. Segundo o documento, as projeções foram calculadas a partir de fatores de risco individuais e de cada país para escravidão moderna, o que inclui 68 pesquisas de trabalho forçado e 75 de casamentos compulsórios.
Embora o trabalho forçado seja mais comum em países pobres, há relações profundas com a demanda dos países mais ricos, destaca o relatório, segundo o qual dois terços dos casos de trabalho forçado estão relacionados a cadeias de suprimentos internacionais. O informe ressalta que os países do G20 importam, atualmente, US$ 468 bilhões (cerca de R$ 2,31 trilhões) de mercadorias que podem ter sido produzidas mediante trabalho forçado, ante US$ 354 bilhões (R$ 1,7 trilhão) registrados no levantamento anterior.
Produtos eletrônicos estão no topo da lista, seguidos por roupas, óleo de palma e painéis solares.
"A escravidão moderna está impregnada em todos os aspectos da nossa sociedade, entrelaçada em nossas roupas, nossos aparelhos eletrônicos, nossa comida", disse a diretora da entidade, Grace Forrest.
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