Descrição de chapéu África

Combates prosseguem no Sudão apesar de nova trégua anunciada por rivais

Relatos de moradores indicam que bombardeios não foram paralisados; disparos de artilharia são ouvidos na capital

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Cartum | AFP

Combates prosseguem em Cartum, capital do Sudão, nesta terça (23), apesar da trégua de uma semana acertada entre Exército e paramilitares para permitir a saída de civis e a entrada de ajuda humanitária.

Disparos de artilharia foram ouvidos na cidade, de acordo com o relato de um morador da cidade à agência de notícias AFP. Pouco depois do início da trégua, às 19h45 (16h45 em Brasília) desta segunda-feira, muitos moradores de Cartum afirmaram que os combates e bombardeios não foram paralisados.

Miniônibus e tuk-tuks em estação em Porto Sudão
Miniônibus e tuk-tuks em estação em Porto Sudão - AFP

Os mediadores da trégua, Arábia Saudita e EUA, afirmaram que seria estabelecido um "mecanismo de vigilância do cessar-fogo", com representantes de Washington, Riad e dos dois lados do conflito. Até o momento, os dois países não fizeram comentários sobre a aplicação do acordo ou possíveis violações.

Desde 15 de abril, a guerra entre o Exército, liderado pelo general Abdel Fatah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), comandados por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, provocou quase mil mortes no país e mais de um milhão de deslocados.

Os dois lados expressaram disposição em respeitar o cessar-fogo, mas na segunda-feira a ONU denunciou "combates e movimentações de tropas, apesar do compromisso de não tentar assumir vantagem militar antes da trégua". "O Sudão segue sob bombardeio, e milhões estão em perigo", disse Karl Schembri, do Conselho Norueguês para os Refugiados, que denunciou "mais de um mês de promessas quebradas".

'Fome'

Pela sexta semana consecutiva, os cinco milhões de moradores da capital enfrentam um calor intenso, sem água, energia elétrica e serviços de telecomunicações. "A guerra tornou esta cidade inabitável: tudo foi destruído", denunciou Thouraya Mohammed, que esperava a trégua para levar o pai ao médico.

Caso exitoso, o cessar-fogo pode possibilitar a retomada das operações em hospitais e a entrada de ajuda humanitária. Segundo a ONU, 25 milhões dos 45 milhões de habitantes do Sudão precisam de assistência.

"Todos estão com fome, as crianças, os idosos. Todos sofrem com a guerra. Não temos água", disse Suad al Fateh, moradora de Cartum. O sindicato de médicos anunciou nesta terça-feira que outro hospital foi fechado nas proximidades de Cartum devido aos combates. "Diversas vezes, combatentes das RSF atacaram pacientes e profissionais da saúde com tiros nos corredores dos hospitais", afirmou o sindicato, que também criticou os oficiais de alta patente do Exército que, de acordo com a mesma associação, organizam "uma campanha de mentiras e boatos contra os médicos, que são alvos de ameaças".

Antes de entrarem em conflito devido às posições divergentes sobre a integração das RSF ao Exército, os generais Al Burhan e Hemedti formaram uma aliança para executar o golpe de outubro de 2021 que expulsou os civis do poder. Antes, eles derrubaram, juntos, em 2019, a ditadura de Omar al Bashir.

No momento, o exército controla o espaço aéreo, mas tem poucos soldados no centro da capital, enquanto as RSF ocupam território em Cartum. Muitos moradores acusam os combatentes paramilitares de saquear suas casas ou ocupar as residências para estabelecer posições.

Se a guerra prosseguir, alertou a ONU, mais um milhão de sudaneses podem fugir para os países vizinhos.

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