Descrição de chapéu África mudança climática

Chuvas torrenciais e deslizamentos matam mais de 400 pessoas na República Democrática do Congo

Evento extremo agrava cenário em região com planejamento urbano falho e infraestrutura precária

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Bushushu (República Democrática do Congo) | Reuters

Cadáveres ainda estavam sendo recuperados nesta segunda-feira (8) em dois vilarejos no leste da República Democrática do Congo, onde inundações mataram mais de 400 pessoas desde a semana passada, configurando um dos desastres mais mortíferos da história recente do país.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram sobreviventes observando o trabalho de equipes de resgate e voluntários, que empilham os corpos em grandes valas comuns improvisadas no fim de semana. São dias recuperando corpos cobertos de lama nas aldeias de Bushushu e Nyamukubi, ambas na província de Kivu do Sul, onde a chuva torrencial causou deslizamentos de terra e fez rios transbordarem.

O governo decretou luto nacional e disse que o país está vivendo "um desastre humanitário sem precedentes".

Moradores olham para destroços de casas, com pedaços de madeiras e estruturas reviradas. Na imagem, os moradores aparecem à direita, usando galochas; ao fundo, árvores rodeiam o cenário
Moradores de duas vilas afetadas pelas enchentes analisam o dano causado pelo desastre em Nyamukubi, na República Democrática do Congo, centro do continente africano - Guerchom Ndebo - 8.mai.23/AFP

"Deixamos tudo para trás", disse Bahati Kabanga, 32, morador de Bushushu, que conseguiu resgatar seu único filho, mas perdeu uma tia, sobrinhos e uma irmã. "Sentimos um tremor enquanto chovia e decidimos fugir depois de ver as casas desabarem à distância", disse ele à agência de notícias Reuters.

Outra moradora, Alliance Mufanzara, 22, apontou na direção onde só se via uma porção de terra revirada. "Lá na lama, era onde ficava a nossa casa. Perdemos seis pessoas da nossa família. Na nossa casa morreram cinco crianças e a nossa mãe", contou. Ela, seu irmão mais novo e seu pai são os únicos sobreviventes. "Estamos com medo porque toda a nossa família está acabada. Não temos nada."

Pouco mais de 400 pessoas foram confirmadas como mortas, disse o governador de Kivu do Sul, Theo Ngwabidje Kasi. O levantamento indica que o número de óbitos mais que dobrou desde a última sexta-feira (5), mas a tendência é ainda mais assustadora.

Fontes da sociedade civil estimam que a mortalidade deve subir ainda mais nos próximos dias, visto que ainda há muitos corpos flutuando nos rios e enterrados sob os destroços. Centenas de pessoas continuam desaparecidas, de acordo com levantamento da ONU (Organização das Nações Unidas).

A Cruz Vermelha Congolesa disse que 274 pessoas foram enterradas até agora, incluindo 98 mulheres e 82 crianças. O total de pessoas afetadas ultrapassa a marca de 8.800 pessoas, ainda segundo a entidade, que também alerta para as preocupações com saneamento básico, uma vez que os sistemas de esgoto foram destruídos e até a presença dos corpos pode gerar contaminação.

"Se eu não tivesse ido ao mercado, talvez pudesse ter salvado meus filhos", disse Jolie Ambika Nathalie, 34, em Bushushu. Mãe de cinco filhos, a vendedora de carvão havia saído e deixado os três mais novos em casa quando a chuva começou a cair. Quando ela retornou, tudo estava destruído e seus filhos de 6, 8 e 10 anos não estavam em lugar nenhum. "Não havia nem vestígios da casa quando voltei", disse.

As temperaturas mais altas devido às mudanças climáticas estão aumentando a intensidade e a frequência das chuvas na África, de acordo com especialistas em clima da ONU. Isso pode aumentar a destruição causada pelas inundações e des lizamentos de terra que já eram comuns no Kivu do Sul.

Além disso, falhas de planejamento urbano e infraestrutura precária também tornam a região mais vulnerável a eventos climáticos extremos. Fortes chuvas provocaram inundações e deslizamentos de terra em Ruanda na semana passada, matando 130 pessoas e destruindo mais de 5.000 casas.

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