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Onda conservadora e escolhas arriscadas levaram Espanha a antecipar eleições

Caso dos nacionalistas bascos teve impacto especial em pleito regional, com reflexos respingando em Sánchez

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São Paulo

O movimento conservador que tem crescido na Europa chegou à Espanha. Partidos de direita e de ultradireita venceram as eleições regionais do último domingo (28), estremeceram as bases do governo socialista e forçaram a antecipação das eleições gerais.

Essa mesma maré já começou a subir em países como França, Itália e Suécia. Não era esperado, porém, que chegasse com tamanha força à Espanha, um dos últimos bastiões do socialismo europeu, junto a Portugal. Foi, nesse sentido, como a onda que de repente invade a areia e molha os pés dos banhistas.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, durante entrevista coletiva na sede do partido, em Madri
O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, durante entrevista coletiva na sede do partido, em Madri - Pierre-Philippe Marcou/AFP

Na comparação com as eleições de 2019, o centro-direitista PP (Partido Popular) foi de 23% para 31% dos votos. O ultradireitista Vox saltou de 3,5% para 7%. Já o centro-esquerdista PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) caiu de 29% para 28%. São resultados historicamente ruins para os socialistas.

Mais do que os números, impressiona que a esquerda tenha perdido grandes e emblemáticas cidades, como Sevilha e Valência, para os conservadores. O PSOE resistiu em poucas regiões à incursão da direita, como em Astúrias, no norte. O que esse cenário significa é que a esquerda espanhola vai ter que pelejar para manter o poder nas eleições gerais. Foi para estancar a sangria, inclusive, que o premiê socialista Pedro Sánchez antecipou as eleições. É pouco tempo para forçar a água a voltar para o mar.

Caso ele deixe o poder, será outra evidência do crescimento da direita europeia. Sua derrota não será, porém, só o resultado de uma tendência regional, mas também de apostas arriscadas que podem ter falhado.

O PSOE governa desde 2018, quando substituiu o conservador PP, desgastado por um sem-fim de escândalos de corrupção. A sigla socialista poderia ter fomentado opções quiçá mais palatáveis, como Susana Díaz ou Javier Fernández. Os dois defendiam um socialismo centrista na linha de Felipe González, ex-premiê histórico e aliado de Lula. O partido preferiu apostar em Sánchez, mais sedutor para as bases.

Desde então, o premiê fez uma série de escolhas controversas, que críticos costumam creditar à vontade de perpetuar a si e ao seu partido no poder. Aliou-se aos separatistas catalães, aos nacionalistas bascos e à esquerda radical. Assim, eleitores buscaram a direita e a ultradireita como alternativas.

O caso dos nacionalistas bascos teve impacto especial neste pleito. O fato de que tentaram emplacar candidatos condenados por terrorismo dominou o debate —respingando mais no PSOE do que neles. Quando Sánchez foi votar, alguém lhe gritou: "Que te vote Txapote!" (deixe que Txapote vote em você!), referência a Francisco Javier García Gaztelu, um dos líderes mais conhecidos dos separatistas do ETA.

A esperança de Sánchez, ao antecipar as eleições, é aproveitar o desgaste do PP, que passará as próximas semanas negociando governos com o Vox. O melhor cenário para o PSOE, nesse sentido, é conseguir atrair outras siglas para frear o avanço da ultradireita, como os franceses fizeram contra Marine Le Pen.

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