Partido de ultradireita na Suécia fecha acordo para participar de novo governo

Sigla exige ações anti-imigração e mais poder para a polícia ao anunciar coalizão com potencial premiê

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Estocolmo | Reuters

Cotado para premiê da Suécia, o líder dos Moderados, Ulf Kristersson, afirmou em um encontro com jornalistas nesta sexta (14) que pretende governar ao lado do partido de ultradireita Democratas Suecos. A coalizão da qual as duas legendas participam ganhou a maioria dos assentos no Parlamento nas eleições de setembro.

Líderes dos partidos suecos Liberal (Johan Pehrson), Democratas Suecos (Jimmie Akesson), Moderados (Ulf Kristersson) e Democratas Cristãos (Ebba Busch) caminham em direção a evento para a imprensa no Parlamento, em Estocolmo - Jonas Ekstromer - 14.out.22/TT News Agency/via Reuters

A primeira-ministra anterior, Magdalena Andersson, havia anunciado sua renúncia logo após o pleito, quando o bloco governista de centro-esquerda que sua sigla integrava foi derrotado pela aliança da direita, que inclui ainda os Democratas Cristãos e os Liberais.

O resultado do pleito representou uma virada na bússola de poder local. Com 20,6% dos votos recebidos, os Democratas Suecos se tornaram a segunda maior sigla do país, atrás apenas dos Sociais-Democratas (30,4%), e a maior à direita.

Ainda sem presença no Executivo, a legenda liderada por Jimmie Akesson terá 73 cadeiras no Parlamento. Ao lado dos Moderados (68), Democratas Cristãos (19) e Liberais (16), o bloco contará com maioria absoluta de 176 deputados. A oposição, liderada pelos Sociais-Democratas (107 cadeiras), somará 173.

Os Democratas Suecos —donos de uma retórica nacionalista e de raízes neonazistas hoje expurgadas— eram até aqui marginalizados pelo sistema político. Seus argumentos anti-imigração ressoaram entre a população no último pleito, no entanto, fazendo com que hoje seja virtualmente impossível governar sem seu apoio.

O pacto entre Democratas Suecos e Moderados inclui ações para diminuir a carga tributária, iniciar a construção de novas usinas nucleares, cortar benefícios, dar mais poder à polícia e restringir políticas de imigração.

O último tema foi mencionado por Akesson no evento desta sexta. "Para nós, uma transição no poder tem que significar uma mudança de paradigma quando se fala em políticas de imigração e de integração", disse ele.

O novo governo ainda anunciou que pretende dificultar o acesso a benefícios para novos imigrantes e substituir, por uma soma fixa, a antiga exigência de que 1% do PIB seja destinado a auxílios para o exterior.

Outras propostas são que a polícia tenha autonomia para repreender quadrilhas de forma mais severa e que gangues enfrentem penas mais longas. Também preveem reativar o uso da energia nuclear, da qual a Suécia se afastou nas últimas décadas. "Novos reatores serão construídos", declarou a líder dos Democratas Cristãos, Ebba Busch.

Nos últimos anos, Estocolmo fechou 6 de seus 12 reatores. Os que permanecem em funcionamento geram quase 30% da energia usada no país.

O governo de centro-esquerda era tradicionalmente contrário a novos reatores, mas admitiu neste ano que a energia nuclear é crucial para o futuro próximo. A mudança tem por trás o cenário de escassez de gás na Europa motivado pelo corte do fornecimento russo em meio à Guerra da Ucrânia.

O Parlamento sueco elege seu novo premiê na próxima segunda (17). A vitória de Kristersson é dada como certa, mas o status da aliança pode tornar difícil governar por quatro anos. O líder dos Moderados dependerá dos Democratas e dos Liberais, que têm visões opostas sobre uma série de questões. Qualquer um deles a princípio pode romper com a coalizão e forçar Kristersson a renunciar.

Magdalena Andersson, então, não perde a esperança de retornar ao poder em caso de colapso da direita.

Entre os problemas urgentes com que o novo governo precisa lidar estão as normas ambientais relacionadas às mudanças climáticas, que necessitam ser flexibilizadas, e os buracos no sistema de assistência social revelados pela pandemia.

O futuro premiê ainda terá de comandar negociações sobre a entrada do país na Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, pleiteada em meio à Guerra da Ucrânia —a região do Báltico, desestabilizada com a guerra, está a uma faixa de água de distância.

Também é preciso garantir financiamento para o aumento planejado dos gastos do país com defesa, já que a Suécia hoje lida com uma crise do custo de vida e pode enfrentar uma recessão em 2023.

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