Em seus 102 anos de existência, a Folha acompanhou três coroações de monarcas no Reino Unido —o rei George 6º, a rainha Elizabeth 2ª e, é claro, o rei Charles 3º, no último sábado (6).
Nesta última, a cobertura foi não só ao vivo, com textos sendo publicados e atualizados durante a realização do evento, como multimídia, com o envio de vídeos para a Redação.
A abundância de imagens típica da era digital difere radicalmente daquela vista no registro que este mesmo jornal, então Folha da Manhã, fez da coroação da rainha Elizabeth 2ª, em 2 de junho de 1953.
No dia seguinte à cerimônia, o jornal publicou apenas uma imagem dela —uma radiofoto, isto é, uma foto transmitida por sinais de rádio, mostrando a chegada da soberana à Abadia de Westminster em preto e branco. Em 1959, o jornal seria o primeiro da imprensa paulista a estampar uma radiofoto colorida.
A coroação da rainha Elizabeth, aliás, foi a primeira a ser transmitida pela TV na íntegra, o que segundo a cobertura que o jornal fez do evento impactou bastante o clima dos festejos. Assinados pela agência de notícias AFP, textos da edição afirmam que toldos da BBC, a emissora pública britânica, eram vistos em todo o entorno da abadia e que o evento foi iluminado por uma "luz crua e dura", "de estúdio, não de igreja".
De fato, a ausência da transmissão da cerimônia no interior da abadia na coroação do rei George 6º, em 12 de maio de 1937, parece ter feito com que ela fosse percebida de modo bastante diferente pelo público em geral. O jornal não publicou imagens da cerimônia, provavelmente por dificuldades técnicas, trazendo na capa do dia seguinte uma foto aérea de Westminster e outra da carruagem dourada usada pelo monarca.
Além disso, de acordo com o relato do jornal, durante as cinco horas de duração do evento —a de Elizabeth durou três horas, e a de Charles, cerca de duas—, os britânicos lancharam, leram e até fizeram crochê à espera da procissão real de volta ao Palácio de Buckingham.
Mesmo assim, não faltou animação entre os ingleses, diz um dos textos da edição. "Nunca, desde o armistício a capital do Império Britânico assistiu a tão radiantes cenas do regozijo, que só podem ser comparadas ao delírio dos dias de Carnaval no Rio de Janeiro", afirma o relato.
A indicação de que os tempos não eram tão felizes assim vem em outra notícia, ainda na primeira página. "Os jornais italianos mantêm absoluto silêncio sobre a coroação de George 6º", diz uma das chamadas da capa. A ordem, diz o texto, veio do comando do regime fascista, que dali a três anos, em 1940, declararia o Reino Unido um inimigo ao entrar na Segunda Guerra Mundial.
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