Biden recebe Modi em luxuosa visita sem citar retrocessos democráticos

Líderes encerram disputas comerciais, fecham acordo no setor militar e pedem respeito à soberania territorial da Ucrânia

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São Paulo

O presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu o premiê da Índia, Narendra Modi, com uma luxuosa cerimônia, na qual afirmou que a relação entre os países pode definir o século. O afago, nesta quinta-feira (22), acontece num momento em que os EUA disputam com a China a influência sobre potências emergentes.

"Duas grandes nações, dois grandes amigos e duas grandes potências. Saúde", disse Biden ao brindar em um jantar de Estado. "Você tem a fala calma, mas quando precisa de ação, é muito forte", respondeu Modi.

Os retrocessos democráticos que fazem a Índia ser considerada uma autocracia eleitoral por institutos e especialistas, no entanto, não foram mencionados.

O presidente americano, Joe Biden, brinda com o premiê indiano, Narendra Modi, durante visita de Estado - Stefani Reynolds - 22.jun.23/AFP

Embora os países não sejam aliados formais, Washington quer que a Índia seja um contrapeso estratégico em relação à China na Ásia. A reunião pode ter sido frutífera para as intenções americanas —Modi, premiê mais poderoso do país em décadas, disse que a visita traz uma "nova direção e uma nova energia" para a "associação estratégica global" com os EUA.

Biden sai do encontro com um comunicado conjunto com a Índia sobre a Guerra da Ucrânia, tema caro a Washington. No texto, os países fazem um apelo por respeito "ao direito internacional, aos princípios da Carta da ONU e à integridade e à soberania territoriais". Modi disse que seu país está "completamente pronto para contribuir de qualquer forma para restaurar a paz" na Ucrânia.

Os EUA se incomodam com a relação dúbia da Índia com a Rússia —desacordo que pôde ser observado nesta quinta, apesar do comunicado. Modi evitou mencionar diretamente Moscou, mas disse que a guerra estava causando "grande dor" na região. "Como envolve grandes potências, os resultados são graves."

Ao lado do Brasil, a Índia tem frustrado nações ricas por seus posicionamentos em relação ao conflito. Nova Déli se absteve de votar na resolução da ONU que condenou a invasão russa em fevereiro, por exemplo, além de ter intensificado suas importações de petróleo de Moscou, minando os esforços da Otan, a aliança militar do Ocidente, para sufocar financeiramente o governo de Vladimir Putin.

A passagem do líder indiano pelos EUA gerou controvérsias. O discurso que fez no Congresso foi boicotado por alguns legisladores progressistas, que protestavam contra o tratamento do governo Modi à minoria muçulmana da Índia. "Encorajo meus colegas que defendem o pluralismo, a tolerância e a liberdade de imprensa a se juntarem a mim para fazer o mesmo", afirmou a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez na quarta-feira (21), ao convidar seu pares para a manifestação.

O discurso, porém, atraiu também uma multidão de espectadores, que entoaram o nome de Modi sob aplausos. A polarização foi vista durante a cerimônia na Casa Branca, onde milhares de simpatizantes se reuniram enquanto um grupo menor protestava a algumas quadras.

Modi, que há uma década liderava o estado de Gujarat e estava proibido de entrar nos EUA sob acusação de violência religiosa, defendeu sua trajetória. "Independentemente da casta, do credo, da religião, do gênero, não há absolutamente nenhum espaço para a discriminação", disse ele, ao ser questionado por uma repórter sobre medidas para assegurar os direitos dos muçulmanos e de outras minorias.

O encontro serviu também para fechar acordos importantes entre as duas nações. Alguns tentam diversificar as cadeias de suprimentos para reduzir a dependência da China; outros visam a dominar o mercado de tecnologias avançadas que podem aparecer nos campos de batalha do futuro. Os líderes ainda encerraram seis disputas na OMC (Organização Mundial do Comércio), e a Índia concordou em remover tarifas para certos produtos americanos, como grão-de-bico, lentilhas e amêndoas.

O presidente americano sai satisfeito com a diversificação dos equipamentos de defesa da Índia. Washington confia que uma relação mais próxima no setor possa ajudar a afastar a Índia da Rússia, principal fornecedor do arsenal militar de Nova Déli durante a Guerra Fria.

Em um acordo descrito por Modi como um marco, os EUA assinaram uma transferência de tecnologia para motores para o país asiático, que começa a produzir seus próprios aviões de combate.

Com AFP, New York Times e Reuters

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