Boris renuncia ao cargo de parlamentar e se diz vítima de 'caça às bruxas'

Ex-primeiro-ministro do Reino Unido é acusado de mentir ao Parlamento sobre conduta durante pandemia de Covid

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São Paulo

O ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson não será mais membro do Parlamento do país. Ele renunciou ao cargo nesta sexta-feira (9), depois de ter recebido uma carta do Comitê de Privilégios da Câmara dos Comuns, órgão que investiga se o político mentiu aos parlamentares ainda no final de 2021.

Boris é investigado por supostamente ter mentido quando disse que cumpriu todas as regras de seu próprio governo para controlar o avanço da Covid-19. Imagens e documentos divulgados, porém, mostram que a equipe de seu gabinete se reuniu e organizou festas durante o período de restrições, inclusive com a presença do ex-premiê –o escândalo ficou conhecido como partygate.

O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson caminha no Parlamento, em Londres - Peter Nicholls - 22.mar.23/Reuters

Em nota, o britânico disse ter recebido uma carta do comitê que deixava clara a determinação de "usar o processo para me expulsar do Parlamento". "Estou sendo forçado a sair por um pequeno punhado de pessoas, sem nenhuma evidência para apoiar suas afirmações e sem aprovação nem mesmo dos membros do Partido Conservador, muito menos do eleitorado em geral." Ele disse estar perplexo.

Boris também atribuiu o cenário a uma suposta "caça às bruxas para se vingar do brexit e, enfim, reverter o resultado do referendo". O ex-premiê foi um dos principais defensores da saída do Reino Unido da UE.

O comitê, que é o mais importante órgão disciplinar dos legisladores britânicos, tinha o poder de recomendar que Boris fosse suspenso do Parlamento. Se a punição fosse superior a dez dias, os eleitores da região que ele representa poderiam exigir uma nova eleição. O órgão disse que se reunirá na segunda (12) para concluir o inquérito. Um porta-voz afirmou que Boris "impugnou a integridade" do Parlamento com a declaração de renúncia. Segundo o jornal The Guardian, o órgão já oficializou sua conclusão.

A investigação é presidida por um legislador do Partido Trabalhista, mas o comitê é composto majoritariamente por parlamentares do Partido Conservador, ao qual Boris é filiado. Não à toa, no comunicado desta sexta-feira o ex-premiê criticou sua própria legenda e disse que ela "precisa urgentemente recuperar seu senso de ímpeto e sua crença no que este país pode fazer".

"Quando deixei o cargo no ano passado, o governo estava apenas alguns pontos atrás nas pesquisas. Essa diferença agora aumentou enormemente", disse ele, numa clara crítica ao atual premiê, Rishi Sunak.

A crise na qual Boris se afundou começou no final de 2021, quando ainda era premiê. Na época, o jornal Mirror publicou reportagem afirmando ter havido, em 2020, diversas festas de Natal na sede do governo, incluindo uma reunião regada a vinho com cerca de 40 a 50 pessoas. Ele negou as acusações, ainda que imagens e convites de festas que contradiziam sua narrativa fossem divulgados uma após a outra pela mídia britânica. Em dezembro daquele ano, ele disse aos parlamentares que os encontros em Downing Street seguiram as determinações das regras de isolamento que vigoravam para conter a Covid.

O escândalo chegou a ser investigado até pela polícia de Londres e, em abril do ano passado, legisladores aprovaram uma investigação interna para apurar se ele mentiu ao Parlamento. Desde então, Boris já perdeu o cargo de premiê, viu sua sucessora cair em tempo recorde e seu secretário de Finanças assumir o posto. O conservador também perdeu apoio em sua sigla –fracasso que a renúncia evidencia.

Não demorou muito para que opositores comentassem a decisão. Caroline Lucas, ex-líder do partido Verde, disse que "todos sabiam que ele não era adequado para ocupar um cargo público antes mesmo de ser parlamentar". Já o trabalhista Christian Wakeford despediu-se de Boris em tom irônico: "Não posso dizer que sentiremos muita falta". Wakeford foi eleito em 2019 como conservador, mas mudou de partido em janeiro de 2022, devido ao que chamou de conduta vergonhosa do ex-primeiro-ministro.

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