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As histórias por trás do processo do príncipe Harry contra tabloides britânicos

Duque de Sussex processa grupo de mídia por hackeamento de telefone e intromissões ilegais em sua vida

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Dominic Casciani
BBC News Brasil

O príncipe Harry se tornou nesta terça-feira (6) o primeiro membro da família real em tempos modernos a sentar no banco das testemunhas, em processo movido por ele contra o Mirror Group Newspapers (MGN) por hackeamento de telefone e intromissões ilegais em sua vida privada. O grupo de comunicação admite que hackeamentos já ocorreram em seus jornais, mas nega que o duque de Sussex tenha sido alvo.

Harry processa o Mirror Group Newspapers por hackeamento de telefone e intromissões ilegais em sua vida privada
Harry processa o Mirror Group Newspapers por hackeamento de telefone e intromissões ilegais em sua vida privada - EPA via BBC News Brasil

O juiz examinará 33 reportagens publicadas nos jornais Daily Mirror, Sunday Mirror e The People —parte das 147 que os advogados do duque de Sussex dizem ter sido fruto de coleta ilegal de informações entre 1996 e 2010. O MGN disse ao tribunal que, na grande maioria da amostra, pode demonstrar que a história teve origem legítima. No caso de cinco reportagens, no entanto, a empresa não rebate as acusações com uma versão alternativa completa, dizendo ao príncipe Harry para "provar".

Além disso, a MGN admitiu que, em uma ocasião em 2004, um investigador particular foi instruído a coletar ilegalmente informações relacionadas à conduta do príncipe Harry em uma boate, embora esse incidente não faça parte da reclamação por violação de privacidade.

Ao sentar no banco das testemunhas, Harry se tornou o primeiro membro da família real a depor em um tribunal desde Eduardo 7º em 1891. Veja um resumo de algumas das histórias que Harry alega terem sido obtidas por meio de hackeamento telefônico.

Histórias do jovem príncipe

A alegação mais antiga a ser julgada data de 16 de setembro de 1996, quando o Daily Mirror publicou reportagem com o título "Diana triste no grande dia de Harry". A história revelava que a mãe do príncipe teria passado apenas 20 minutos com ele em seu aniversário de 12 anos, semanas após a separação de seus pais. O jornal dizia que o jovem príncipe "estaria lidando mal com o divórcio real".

O príncipe Harry em 1996
O príncipe Harry em 1996 - Getty Images via BBC News Brasil

Existem outros textos sobre o príncipe criança. O Mirror relatou em 2000 que Harry, então aos 15, estava escalando rochas em vez de comparecer a um concurso de gala para o 100º aniversário da rainha-mãe.

Espera-se que o MGN argumente em ambos os exemplos que a informação já era de domínio público, não razoavelmente privada ou simplesmente trivial. Já a equipe de Harry dirá que histórias como essas podem estar ligadas a registros de pagamentos a investigadores particulares.

Dias de escola

O príncipe Harry diz que intromissões ilegais o seguiram, literalmente, até os campos de jogos da aristocrática escola de Eton. Duas reportagens discutem lesões esportivas. O Daily Mirror relatou em novembro de 2000 que Harry havia feito "uma pequena operação" no braço após uma lesão relacionada ao futebol em Eton, detalhando conselhos específicos que os médicos teriam dado ao jovem de 16 anos.

Onze meses depois, o Sunday Mirror relatou em uma reportagem que os médicos ordenaram que o príncipe parasse de jogar rúgbi por causa de uma lesão nas costas.

Ambas as reportagens incluem o que parece ser informação médica privada, mas, de acordo com os documentos do julgamento, a equipe do MGN parece disposta a argumentar que os detalhes foram fornecidos pelo Palácio ou eram de conhecimento público na escola.

Assuntos de família

Algumas das 33 reportagens cobrem assuntos familiares privados.

Uma delas, publicada pela People em dezembro de 2003, detalha uma briga entre Harry e o príncipe William sobre o comportamento do ex-mordomo de sua falecida mãe, Paul Burrell. À época, o ex-funcionário da família era acusado de vender histórias sobre a princesa Diana.

O príncipe Harry com sua família no primeiro dia de seu irmão em Eton, em 1995
O príncipe Harry com sua família no primeiro dia de seu irmão em Eton, em 1995 - Getty Images via BBC News Brasil

A People sugeriu que os irmãos haviam brigado sobre o que fazer, e Harry teria ficado "furioso" com William e rotulado o mordomo de "um m* de duas caras". Documentos judiciais mostram que o Mirror Group deve argumentar que, embora algumas das informações fossem privadas, havia um grande interesse público em denunciá-las e que sua fonte era legítima.

Festas na adolescência

Parte do foco do julgamento será nas histórias bem conhecidas sobre bebida e drogas, assunto que o príncipe Harry já tratou em sua autobiografia. Uma reportagem do Sunday Mirror, de janeiro de 2002, relatou que o então príncipe Charles "deu a Harry um aviso severo" por fumar maconha.

No dia seguinte, a manchete do Daily Mirror dizia "as festas de cocaína, ecstasy e GHB de Harry", antes de revelar que o príncipe de 17 anos estava "muito farto e irritado" por estar sendo acompanhado.

Espera-se que o MGN defenda sua reportagem dizendo que as histórias eram de interesse público e que tinham "uma variedade de rotas e fontes legítimas".

Namoradas

A maior parte dos artigos diz respeito à vida amorosa do príncipe.

"Harry é um fã de Chelsy", reportou o Daily Mirror em 29 de novembro de 2004, detalhando o "ninho de amor" do "encantado" jovem de 20 anos na Argentina com uma "linda loira". A partir de então, seu relacionamento com Chelsy Davy preencheu páginas de jornais em toda a mídia tabloide global.

O duque diz que parte do motivo pelo qual eles se separaram foi porque ela estava sendo perseguida pela imprensa e pelos fotógrafos.

A equipe do príncipe Harry diz que em muitas ocasiões os paparazzi só poderiam ter descoberto onde ele e Davy estavam com a ajuda de invasões ilegais. Eles dizem que há evidências circunstanciais de que ambos os telefones celulares foram alvo de jornalistas que ouviam suas mensagens de voz.

Em uma ocasião, diz o duque, repórteres do jornal fizeram reservas em um mesmo hotel remoto em Moçambique que ele e Davy, apesar de a viagem ser totalmente secreta. Outros artigos relatam que o casal telefonou um para o outro durante períodos difíceis em seu relacionamento.

Um artigo de abril de 2009 na People relatou que o príncipe Harry estava "bombardeando a loira deslumbrante com ligações em uma tentativa de reconquistá-la". Anthony Harwood, jornalista que escreveu a reportagem original do Mirror sobre a viagem à Argentina, já disse no julgamento que obteve essa informação legitimamente com a ajuda de um freelancer local que falou com testemunhas oculares.

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