Descrição de chapéu Financial Times China Governo Biden

Chefe da CIA fez visita secreta à China para tentar descongelar relações

Viagem de Bill Burns em maio foi a mais importante de uma autoridade do governo Biden a Pequim

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Demetri Sevastopulo
Singapura | Financial Times

William Burns, diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, e um dos funcionários de maior confiança do presidente Joe Biden, fez uma viagem secreta à China no mês passado. A visita indica como a Casa Branca estava preocupada com as relações deterioradas entre Pequim e Washington.

Cinco pessoas familiarizadas com o fato disseram que Burns, um ex-diplomata graduado frequentemente encarregado de missões delicadas no exterior, viajou ao país asiático para conversar com autoridades.

William Burns, diretor da CIA, em depoimento ao Senado americano, em Washington
William Burns, diretor da CIA, em depoimento ao Senado americano, em Washington - Tom Williams - 24.fev.21/Pool via Reuters

A visita mais importante de um funcionário do governo Biden a Pequim ocorre no momento em que Washington pressiona por compromissos de alto nível para tentar estabilizar a relação com a China.

A Casa Branca e a CIA se recusaram a comentar. Mas uma autoridade dos EUA disse que Burns se reuniu com oficiais chineses e enfatizou a importância de manter linhas abertas em canais de inteligência.

A missão de Burns ocorreu no mesmo mês em que o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, encontrou-se com Wang Yi, o principal oficial de política externa da China, em Viena, na Áustria. A Casa Branca só divulgou essa reunião depois que ela foi concluída.

A viagem de Burns também foi a visita de mais alto nível à China por uma autoridade dos EUA desde que a vice-secretária de Estado Wendy Sherman foi a Tianjin em julho de 2021. Biden pediu em diversas ocasiões ao diretor da CIA que conduzisse missões delicadas, no país e no exterior. Burns viajou a Moscou em novembro de 2021 para alertar as autoridades russas para que não invadissem a Ucrânia.

Várias pessoas familiarizadas com a situação disseram que em 2022 Biden enviou Burns ao Capitólio num esforço para convencer a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a não viajar para Taiwan.

A Casa Branca tem tentado iniciar intercâmbios com a China após um período especialmente turbulento que começou em fevereiro, quando um suposto balão espião chinês sobrevoou a América do Norte. O incidente descarrilou um esforço para estabelecer "um piso" para a relação que Biden e o líder chinês, Xi Jinping, concordaram ser necessário quando se encontraram no G20 em Bali, em novembro.

Biden disse no mês passado que esperava um "descongelamento" iminente das relações, sem fornecer detalhes. Burns viajou à China antes de Biden fazer o comentário na cúpula do G7, em Hiroshima.

"Como diplomata experiente e oficial de inteligência sênior, Burns está numa posição única para se envolver em um diálogo que poderá contribuir para o objetivo do governo Biden de estabilizar os laços e colocar um piso sob a relação", disse Bonnie Glaser, especialista em China do Fundo Marshall Alemão.

Paul Haenle, ex-funcionário graduado da Casa Branca na China, disse que uma das vantagens de enviar Burns é que ele é respeitado por democratas e republicanos e bem conhecido pelas autoridades chinesas.

"Eles o conhecem como um interlocutor de confiança. Eles apreciariam a oportunidade de envolvê-lo discretamente nos bastidores", disse Haenle, agora diretor do think tank Carnegie China. "Eles verão um contato tranquilo e discreto com Burns como uma oportunidade perfeita."

Enquanto Burns é amplamente visto como uma das figuras mais confiáveis do governo dos Estados Unidos, sua viagem mantém a tradição de diretores da CIA serem chamados para missões delicadas.

"Os diretores da CIA têm uma longa história de diplomacia secreta. Eles são capazes de viajar em total sigilo e muitas vezes têm relacionamentos fortes com os serviços de inteligência do anfitrião, construídos ao longo do tempo", disse Dennis Wilder, ex-especialista da CIA na China que também atuou como principal funcionário da Casa Branca na Ásia durante o governo de George W. Bush.

Os EUA têm tentado ressuscitar uma viagem à China que o secretário de Estado, Antony Blinken, cancelou abruptamente devido ao incidente com o balão, mas Pequim até agora se recusou a dar sinal verde.

O ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, também recusou um encontro com o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, em Singapura, neste fim de semana, porque Washington se recusou a suspender as sanções contra Li. Os dois estão participando da conferência de segurança Diálogo de Xangrilá.

Embora não se esperasse que os dois ministros tivessem uma reunião formal, o Pentágono disse que eles "falaram brevemente" no jantar de abertura do fórum, realizado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. "Eles apertaram as mãos, mas não tiveram uma troca substantiva", disse o Pentágono.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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