Por que manobras da China para repelir presença dos EUA representam perigo à segurança mundial

Edição da newsletter China, terra do meio explica nova rusga das duas potências no Mar do Sul da China

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Igor Patrick
Washigton

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O Pentágono divulgou na terça (30) uma nota em que acusa um piloto chinês de realizar uma manobra "desnecessariamente agressiva" contra uma aeronave americana que operava no Mar do Sul da China. A China reclama a soberania sobre a região, que também é disputada por vizinhos como Filipinas, Brunei, Vietnã, Malásia e Indonésia.

No vídeo divulgado pelos americanos, a aeronave chinesa voa à frente do Boeing RC-135, o que causa o fenômeno da "esteira de turbulência", em que perturbações no ar fazem um avião balançar violentamente e perder altitude. O piloto americano foi obrigado a recuar.

O Departamento de Defesa dos EUA disse que conduzia "operações de rotina em espaço aéreo internacional, de acordo com a lei". A nota afirma ainda que "a Força Conjunta Indo-Pacífico continuará a voar no espaço aéreo internacional com o devido respeito à segurança de todas as embarcações e aeronaves sob proteção da lei internacional".

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Caça chinês manobra perto de avião americano no Mar do Sul da China - Reprodução/Pentágono

O porta-voz da embaixada da China em Washington, em resposta, acusou os americanos de conduzirem missões que representariam "um sério risco à segurança nacional chinesa". "A China continuará a tomar as medidas necessárias para defender resolutamente sua soberania e segurança e trabalhar com os países da região para salvaguardar firmemente a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China".

Por que importa: Manobras mais assertivas da China para repelir a presença americana em águas que consideram suas têm sido cada vez mais frequentes. Em dezembro, um avião dos Estados Unidos precisou realizar manobras evasivas bruscas para evitar uma colisão após ser repelido por outro caça chinês. O contato militar reduzido entre os dois países aumenta o risco de erros de cálculo e pode, no limite, forçar ambos os lados a medidas de retaliação com potencial de escalada para um conflito bélico.

o que também importa

A ONG Anistia Internacional foi criticada pelo governo de Hong Kong após divulgar falsamente que um ativista uigur tinha sido detido e levado para interrogatório por policiais chineses. A organização divulgou a informação na sexta (26), mas recuou após descobrir que Abuduwaili Abudureheman não só não havia sido detido como nem sequer tinha viajado para Hong Kong —ele foi localizado na Coreia do Sul. A liderança honconguesa chamou a acusação de "sem fundamentos". Já a Anistia não pediu desculpas nem admitiu o erro e, por meio de uma nota enviada à imprensa, disse apenas que vai continuar a se "esforçar para oferecer apoio às pessoas que nos procurarem quando elas ou seus entes queridos estão em risco de violação dos direitos humanos".

Pequim recusou uma reunião entre o ministro da Defesa, Li Shangfu, e seu homólogo americano, o secretário Lloyd Austin. A reunião tinha sido proposta pelos Estados Unidos na semana passada. A porta-voz da chancelaria chinesa Mao Ning disse que Washington precisa "mostrar sinceridade e criar a atmosfera e as condições necessárias para o diálogo e a comunicação entre os dois militares". Já o porta-voz do Pentágono, Pay Ryder, adotou tom conciliatório e disse que a negativa "não diminuirá nosso compromisso de buscar linhas de comunicação abertas" com o Exército chinês.

O ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, participa de reunião com homólogo russo em Moscou - Ministério da Defesa da Rússia - 18.abr.23 - AFP

Policiais chineses na província de Yunnan foram chamados para conter uma grande manifestação na cidade de Nagu após uma ordem judicial determinar a demolição parcial de uma mesquita. O governo local argumenta que muçulmanos promoveram uma expansão ilegal da mesquita Najiaying, construída no século 13, e ordenou a destruição de quatro minaretes e da cúpula. Vídeos mostram que centenas de chineses da minoria hui, majoritariamente muçulmana, saíram às ruas para protestar contra a decisão. Há relatos de prisões e uso violento da força por oficiais de segurança pública. Em nota, a polícia deu até 6 de junho para que os organizadores dos atos se entreguem.

fique de olho

Dono do Twitter e fundador da Tesla, o bilionário Elon Musk foi recebido com pompa por autoridades do alto escalão chinês em sua primeira viagem ao país desde o início da pandemia. Musk foi chamado de "ídolo global" e "pioneiro" nas declarações do governo chinês à imprensa e se reuniu com ministros de Comércio, Indústria e Relações Exteriores.

A chancelaria da China disse, em nota, que Musk "elogiou o povo chinês e as conquistas da China" durante os encontros. A Tesla, acrescenta o texto, opõe-se à política de "disassociar" as economias chinesa e americana e "está disposta a continuar expandindo seus negócios na China". A empresa não comentou o texto.

Elon Musk e o chanceler Qin Gang se reúnem em Pequim, em 30 de maio de 2023
Elon Musk e o chanceler Qin Gang se reúnem em Pequim, em 30 de maio de 2023 - Reprodução/CGTN

Por que importa: Musk pode ter se tornado um ídolo da direita mundial, mas o empresário sul-africano vai precisar se equilibrar em uma corda bamba se quiser manter o lucrativo mercado chinês.

Enquanto se aproxima do governador da Flórida, Ron DeSantis —pré-candidato à Presidência americana que recentemente baniu chineses de comprarem terras agrícolas e bloqueou o acesso ao TikTok em escolas e prédios do governo naquele estado—, Elon tem em Xangai uma das maiores fábricas da Tesla no mundo e faturou US$ 4,89 bilhões (cerca de R$ 24,7 bilhões) na China apenas no primeiro semestre deste ano.

para ir a fundo

O podcast da Folha Café da Manhã recebeu ativistas uigures em passagem pelo Brasil, Argentina e Chile para denunciar violações aos direitos humanos na província de Xinjiang, na China. Disponível aqui. (gratuito, em português)

Outra boa sugestão de podcast é este episódio do Cafézinho da Shumian. A professora Aline Tedeschini recebe a pesquisadora do Centro Taiwanês para Estudos de Segurança, Luana Geiger, para discutir as recentes tensões geopolíticas em Taiwan. (gratuito, em português)

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