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Policial que matou jovem na França pediu perdão à família, diz advogado

Agente está preso preventivamente por caso que desencadeou protestos no país; mais de 250 foram detidos nesta quinta

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São Paulo

O policial que matou um adolescente na terça (27), durante uma blitz na região metropolitana de Paris, pediu desculpas à família do jovem durante a detenção, disse seu advogado de defesa nesta quinta (29).

"As primeiras palavras que ele disse foram para pedir perdão", disse Laurent-Franck Liénard à emissora francesa BFMTV. "Ele não se levanta de manhã para matar pessoas. Ele não queria matar." Segundo o advogado, o policial de 38 anos teria mirado na perna do jovem, mas, após ser atingido pelo carro, atirou em direção ao peito. Para Liénard, a detenção de seu cliente é usada para acalmar os manifestantes.

Manifestantes lançam fogos de artifício na polícia francesa, que enfrenta protestos após um de seus agentes matar um adolescente - Gonzalo Fuentes/Reuters

A Justiça francesa decretou a prisão preventiva por homicídio doloso do policial suspeito de ter atirado no adolescente —o Ministério Público considerou que o uso de sua arma não foi legalmente justificável.

A mãe do jovem de 17 anos, Mounia, também se pronunciou. "Não tenho nada contra a polícia. Tenho algo contra a pessoa que matou meu filho. Ele não precisava matar meu filho", disse ela à TV France 5 após uma marcha que reuniu milhares de pessoas em Nanterre, na terceira noite de protestos.

Os atos eclodiram em diferentes partes da França depois da morte de Nahel, que teria desobedecido ordens durante uma abordagem de trânsito. O caso, filmado por uma testemunha, viralizou nas redes sociais e desencadeou uma onda de revolta.

No vídeo, dois policiais de capacete se aproximam da janela do motorista de um carro de luxo. Um deles aparentemente conversa com o adolescente, enquanto o outro aponta a arma. Na gravação, é possível ouvir a frase: "Você vai levar um tiro na cabeça", mas não fica claro quem a diz. Após alguns segundos, Nahel acelera, e o policial reage atirando. Poucos metros à frente, sem direção, o Mercedes AMG sobe numa calçada e bate num poste. O adolescente de origem argelina morreu uma hora depois.

Segundo o promotor público de Nanterre, Pascal Prache, o adolescente morreu após receber um único tiro que o atingiu no braço esquerdo e no peito. O policial alega que queria evitar uma perseguição, por temer que outras pessoas se ferissem —Nahel teria cometido várias infrações de trânsito antes de ser parado.

Numa tentativa de conter os atos de violência, um contingente de 40 mil policiais foi mobilizado na França para a noite desta quinta, segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Serviços de ônibus e bondes deixaram de funcionar às 21h na região de Île-de-France, onde fica Paris. O número de agentes é quase quatro vezes o registrado na véspera, quando 9.000 policiais atuaram nas manifestações.

Em Clamart, no sul do país, autoridades determinaram toque de recolher das 21h às 6h no horário local. A medida deve permanecer em vigor pelo menos até a próxima segunda (3). Já em Paris, todos os serviços de ônibus e bondes foram interrompidos após as 21h.

A primeira noite de manifestações, na terça, acabou com 31 pessoas presas; a segunda, com 150. Os atos estão sendo marcados pela depredação de carros e pelo confronto entre policiais e manifestantes. Na terceira noite de protestos, o saldo é de mais 255 presos, segundo informações preliminares. Em Nanterre, manifestantes incendiaram carros, ergueram barricadas, incendiaram um banco e jogaram objetos contra a polícia após uma vigília pacífica. Em prédios e pontos de ônibus, agora se lê "vingança por Nahel".

Em Marselha, a segunda maior cidade da França, a polícia disparou granadas de gás lacrimogêneo durante confrontos, informou o La Provence, principal jornal do município. Em Paris, uma loja da Nike foi saqueada e, em Lille, alguns dos presentes nos protestos tentaram atear fogo em prédios da prefeitura.

O uso da força letal revoltou a população, que vê brutalidade policial nos subúrbios etnicamente diversos das maiores cidades do país. A morte de Nahel foi a terceira em decorrência de um disparo em paradas de trânsito na França em 2023, após um recorde de 13 no ano passado, disse um porta-voz da polícia.

Com AFP e Reuters

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