Descrição de chapéu China

Por que expectativas para visita do chefe da diplomacia dos EUA à China são baixas

Edição da newsletter China, terra do meio explica o que esperar da chegada de Antony Blinken a Pequim neste fim de semana

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Igor Patrick

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Pela primeira vez em cinco anos, um secretário de Estado americano vai visitar Pequim. Neste fim de semana, após meses de negociação, Antony Blinken finalmente se encontrará com autoridades chinesas para discutir o descongelamento nas relações com a China. Nas palavras do embaixador americano por lá, Nicholas Burns, "a ausência de diálogo se tornou perigosa".

Blinken deveria ter feito esta viagem em fevereiro, mas o intenso noticiário em torno do suposto balão espião chinês sobrevoando instalações militares americanas dominou o noticiário doméstico e tornou o encontro politicamente custoso demais para Biden.

O aumento da tensão entre as Forças Armadas chinesas e militares americanos que operam no Mar do Sul da China nos últimos dias, contudo, acelerou as tratativas para remarcar as conversas. Anteriormente, os chineses se recusaram a se encontrar com oficiais do Pentágono em Singapura, em sinal de censura às punições americanas aplicadas ao ministro da Defesa chinês, Li Shangfu. Washington o acusa de liderar a compra de armamento russo alvo de sanções.

Embora uma agenda detalhada não tenha sido divulgada por nenhum dos lados, oficiais do Departamento de Estado disseram à imprensa que Blinken vai tentar iniciar negociações com os chineses para prover alívio da dívida para países pobres e pedir ajuda para mediar tratativas de paz entre Rússia e Ucrânia.

Dando o tom de como deve ser o encontro, o ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, disse em ligação a Blinken na quarta (14) que Washington deve "parar de interferir" em assuntos domésticos da China, especialmente Taiwan, se quiser restaurar os laços diplomáticos. O secretário americano preferiu responder dizendo que, embora fosse continuar a levantar "áreas de preocupação", os EUA estarão "abertos à cooperação com a China".

Por que importa: O nível de contato entre Pequim e Washington se tornou tão precário que as expectativas de ambos os lados para a chegada de Blinken são baixas. A China espera usar a visita para voltar a criticar a proximidade de políticos americanos com Taiwan e é pouco provável que aceite tocar no assunto da Guerra da Ucrânia. Dado o cenário atual, se conseguir voltar para casa com ao menos a reativação de contatos militares, Blinken já terá feito muito.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken - Andrew Caballero-Reynolds/AFP

o que também importa

★ Na primeira viagem desde a ascensão ao cargo de premiê, Li Qiang embarca neste sábado (17) para um encontro com autoridades na Alemanha e na França. Segundo a chancelaria da China, Li promoveria "consultas intergovernamentais" com o governo em Berlim, além de liderar uma delegação na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global. Na agenda, devem estar discussões para evitar o banimento das chinesas ZTE e Huawei na infraestrutura de telecomunicações europeia, tema aventado pelo ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, por temores de risco à segurança nacional.

Milhões de pessoas podem ter morrido na China de Covid logo após a flexibilização das medidas sanitárias para controle pandêmico, de acordo com o Guardian. O jornal britânico analisou números divulgados pelo Ministério de Assuntos Civis da China que indicam mais de 4 milhões de cremações no país no terceiro trimestre de 2022. Ao comparar com tendências em anos anteriores, os dados sinalizam o fenômeno chamado de "mortes em excesso", que indica que o número oficial de vítimas do vírus pode ter sido significativamente superior aos 83.150 oficialmente reportados pelo governo. A China não se manifestou sobre a publicação.

fique de olho

A China começou a discutir um abrangente pacote de estímulos para reativar o setor imobiliário e de construção civil, informaram Bloomberg e Wall Street Journal.

Segundo as publicações, o arcabouço pode incluir redução de juros, diminuição nos custos de hipoteca e concessão de linhas de crédito para a compra da casa própria. As políticas devem ser focadas em cidades de médio porte. Nenhuma alíquota foi divulgada até o momento, e os dois veículos creditaram a informação a fontes anônimas.

Por que importa: A indústria de construção civil é, sozinha, responsável por em média 6% do PIB chinês. Contudo, os sucessivos problemas em grandes incorporadoras imobiliárias locais, o alto grau de desemprego juvenil e endividamento familiar têm prejudicado significativamente o planejamento e a venda de novos projetos.

Se aprovado, o pacote de estímulos chinês pode trazer uma folga a empresas da área, permitindo a readequação de empreendimentos planejados e mais tempo no médio prazo para voltar a lucrar.


para ir a fundo

  • Em um interessante artigo, a Asia Society explica como a competição entre EUA e China em torno de quem vai liderar o fundo de compensações climáticas a países em desenvolvimento pode ser benéfico para as metas de redução do aquecimento global. (gratuito, em inglês)
  • A pesquisadora Laura Urrejola explicou em palestra virtual na USP como o banimento das criptomoedas na China tornaram a Argentina um dos destinos mais atrativos para os investidores em mineração de bitcoin no mundo. A gravação do evento está disponível aqui. (gratuito, em português)
  • Quem também realizou eventos nesta semana foi a Fundação FHC, recebendo um especialista da China e uma dos EUA para discutir o estado das relações entre os países. A animosidade da interação entre os dois foi reveladora. Reveja aqui. (gratuito, em português)
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