A União Africana fez um apelo nesta sexta (2) à população de Senegal por respeito à ordem, após os protestos políticos mais violentos no país em anos deixarem ao menos nove mortos em confrontos entre as forças de segurança e apoiadores do líder da oposição, Ousmane Sonko, 48, na quinta-feira (1º).
Para tentar conter a violência, as autoridades enviaram as Forças Armadas para Dacar. Assim, homens com fuzis se espalharam por vários pontos da capital. Houve presença particularmente forte em torno de bancos, supermercados e postos de gasolina de propriedade francesa, alvos dos apoiadores de Sonko.
Mesmo assim, os confrontos voltaram a se repetir durante a tarde desta sexta, quando a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que queimavam pneus em uma estrada.
O Ministério da Justiça diz que o líder da oposição, cuja condenação a dois anos de prisão coloca em dúvida suas chances de concorrer à Presidência em 2024, pode ser preso a qualquer momento. Acusado de agressão sexual, Sonko não compareceu à audiência e nega as denúncias.
O partido do qual faz parte alega que a decisão da Justiça está inserida numa conspiração política e, por isso, pediu aos cidadãos do país que "interrompam todas as suas atividades e saiam às ruas".
Na quinta, a universidade Cheikh Anta Diop foi o epicentro da violência, com manifestantes incendiando ônibus e prédios e jogando pedras contra a tropa de choque, que respondeu com gás lacrimogêneo. Pela noite, diversas plataformas de mídia social e de troca de mensagens foram restritas no país.
Além da União Africana, a ONU também condenou os distúrbios. Já a França pediu moderação e diálogo para resolver a crise, mostrando-se preocupada com a escalada da violência. A ONG Anistia Internacional, por sua vez, pediu ao governo que investigue as mortes e evite o uso de força desproporcional.
Sonko é acusado de estuprar uma funcionária de uma casa de massagem em 2021 e de ameaçá-la de morte. Um tribunal inocentou o político de estupro, mas o considerou culpado de outro delito descrito no Código Penal como comportamento imoral contra menores de 21 anos. A mulher tinha 20 anos à época.
De acordo com o advogado Bamba Ciss, um dos representantes de Sonko, ele não poderá se candidatar na próxima eleição, marcada para fevereiro, reforçando a visão dos apoiadores do opositor de que a ação tem motivações políticas. O caso desencadeou protestos violentos esporádicos no país desde 2021.
As manifestações populares são incomuns no Senegal e geralmente ganham força em torno das eleições.
O segundo mandato do presidente Macky Sall, eleito em 2012, foi particularmente turbulento para um país em geral visto como uma das democracias mais fortes da África. No entanto, há o temor de que o líder senegalês utilize alguma manobra para concorrer pela terceira vez seguida.
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