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Sudão volta a registrar combates intensos horas antes do fim de cessar-fogo

Dezenas de bebês morreram na capital devido à falta de pessoal e quedas recorrentes de energia

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Dubai | Reuters

Confrontos intensos entre as forças do Exército e do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido voltaram a ser registrados nesta segunda (29), no Sudão, horas antes do fim de um cessar-fogo que chegou a atenuar o conflito, mas não evitou a ocorrência de ataques e falhou em estabelecer corredores humanitários.

Os combates acontecem na capital, Cartum, e na vizinha Omdurman. Desde 15 de abril, a disputa pelo poder no país africano já matou quase mil pessoas e forçou o deslocamento de ao menos 1,4 milhão.

"Os confrontos voltaram com todos os tipos de armas. Estamos em estado de grande medo. Onde está a trégua?", disse Hassan Othman, 55, morador de Omdurman, à agência de notícias Reuters.

Veículos destruídos na região de Cartum, a capital do Sudão
Veículos destruídos na região de Cartum, a capital do Sudão - AFP

Mediado pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos, o acordo de cessar-fogo entrou em vigor na última terça-feira (23), após várias tentativas semelhantes fracassarem. Autoridades chegaram a estabelecer um "mecanismo de vigilância do cessar-fogo" para monitorar e pressionar pelo cumprimento do trato, com a participação de representantes de Washington, Riad e dos dois lados do conflito.

A tentativa de cessar-fogo chegou a diminuir a intensidade dos combates, mas confrontos esporádicos e ataques aéreos continuaram, o que impediu a entrega de ajuda humanitária e a retirada de civis das zonas mais afetadas. Com poucos efeitos práticos até aqui, ambos os lados disseram que estão considerando estender o período da trégua, inicialmente previsto para terminar na noite desta segunda-feira.

Apesar dos diálogos, autoridades relatam um cenário de caos nas principais cidades do Sudão. Fábricas, escritórios, bancos e casas continuam sendo saqueados e destruídos em Cartum e nos arredores. Moradores afirmam também que a energia, a água e linhas de comunicação são frequentemente cortadas. Já os estoques de alimentos estão ficando desabastecidos, e a escassez de medicamentos persiste.

Em um orfanato na capital, dezenas de bebês morreram desde o início do conflito. Um funcionário disse que a tragédia foi resultado da falta de pessoal e das recorrentes quedas de energia.

Em declaração conjunta divulgada no final de domingo, a Arábia Saudita e os EUA disseram que os dois lados envolvidos no conflito desrespeitam a trégua e que saques e confiscos ilegais de suprimentos persistem. "As partes garantiram que têm o objetivo de diminuir as ofensivas para facilitar a assistência humanitária e realizar reparos essenciais, mas estão se posicionando para uma maior escalada", diz.

Cerca de 1 milhão de pessoas foram forçadas a se deslocar internamente desde o início do conflito, enquanto outras 350 mil pessoas tiveram de deixar o Sudão, segundo boletim divulgado pelas Nações Unidas nesta segunda. Os países que mais recebem refugiados são Egito, Chade e Sudão do Sul.

No início do mês, a ONU alertou que a cifra de deslocados estava criando uma crise humanitária que pode se estender a outras nações. Caso o conflito persista, 800 mil sudaneses e 200 mil pessoas de outras nacionalidades podem deixar o país em até seis meses, segundo projeção considerada conservadora.

Filippo Grandi, chefe do Acnur, agência da ONU para refugiados, afirmou que o colapso da lei e da ordem no Sudão cria o que chamou de "terreno fértil" para o tráfico humano, ao mesmo tempo em que armas circulando pelas fronteiras podem gerar mais violência. "Vimos casos semelhantes na Líbia e na [região africana] do Sahel. Não queremos que isso se repita porque será um multiplicador de crises", disse.

Os confrontos colocam em lados opostos o general Fatah al-Burhan, do Exército, e o também general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, que comanda as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês). Juntos, eles derrubaram em 2019 a ditadura de 30 anos de Omar al-Bashir. Dois anos depois, participaram de um golpe de Estado que encerrou a transição para um regime democrático.

No comando do país, os generais divergem sobre a participação dos paramilitares no Exército e sobre a formação de um novo governo, alimentando rumores sobre confrontos que se concretizaram em abril.

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