Descrição de chapéu Financial Times

Caso dos 'asilos do horror' comove Romênia após maus-tratos contra idosos

Escândalo choca sociedade do país cujos orfanatos passaram por situação semelhante nos anos 1990

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Marton Dunai
Budapeste | Financial Times

Os romenos estão abismados com revelações de que uma série de lares para idosos mantinha pessoas em condições miseráveis, sem alimentá-las ou cuidar delas por meses. O escândalo lembra outro enfrentado pelos orfanatos do país nos anos 1990.

Raed Arafat, chefe dos serviços de emergência romeno, cita um caso perturbador que surgiu no desenrolar das investigações: 11 idosos foram transportados em lençóis e abandonados num canteiro de obras em um subúrbio de Bucareste. Segundo Arafat, os administradores da casa de repouso em que eles viviam temiam que uma inspeção iminente descobrisse a superlotação do local.

Manifestante exibe cartaz com imagem da ministra da Família da Romênia, Gabriela Firea, durante protesto contra o governo; a placa diz 'alguns monstros' - Daniel Mihailescu - 13.jul.23/AFP

Na semana passada, após meses de denúncias de grupos de direitos humanos e de vizinhos, a polícia invadiu vários lares perto da capital. Neles, encontraram idosos desnutridos, que não tomavam banho havia semanas e apresentavam hematomas e outros sinais de abuso físico.

O governo vinha analisando a situação de mais de 400 asilos. Na segunda (10), obrigou mais de 24 instituições cujos moradores haviam sido espancados, forçados a trabalhar, privados de remédios ou abandonados em cômodos infestados de insetos a fecharem as portas —temporária ou permanentemente.

As imagens do que a mídia romena chamou de "asilos do horror" foram comparadas com o infame escândalo dos orfanatos ocorrido no país na década de 1990, quando descobriu-se que instituições estatais haviam trancado, negligenciado e deixado de alimentar crianças.

Revelado após a queda do comunismo, o episódio tornou-se obstáculo para a tentativa romena de ingressar na União Europeia e repercutiu mesmo depois que o país se tornou membro do bloco, em 2007.

Um deputado romeno do Parlamento Europeu pediu na terça-feira (11) à Comissão Europeia que investigue abusos de direitos humanos como aqueles ocorridos nos lares de idosos. "Essa situação trágica nos leva a lembrar dos orfanatos da Romênia comunista que escandalizaram a comunidade internacional," escreveu o eurodeputado Vlad Botoș. "Essas pessoas têm direitos enquanto seres humanos e têm o direito de serem protegidas como cidadãs europeias."

O premiê romeno, Marcel Ciolacu, pediu uma investigação imediata da situação e prometeu punir os responsáveis. "Não tenho piedade dos canalhas que criaram esses asilos de horror", disse depois que o escândalo estourou, na semana passada, acrescentando que o problema é sistêmico e tem origem na corrupção.

"Tantos vilões, tanta crueldade, pessoas desumanas. Vamos achar os funcionários públicos que foram cúmplices, que, em vez de apoiar essas pessoas, venderam-se a esses canalhas."

Já o presidente do país, Klaus Iohannis, chamou o caso de "desgraça nacional" quando questionado sobre o caso na cúpula da Otan, na Lituânia, no início da semana. "As medidas tomadas cortarão o mal pela raiz. Os culpados são todos aqueles que sabiam [dos maus-tratos] e não fizeram nada, não notificaram ninguém, não intervieram", disse.

O Centro de Recursos Legais, ONG com sede em Bucareste, afirmou que havia sinalizado as condições desumanas das casas de repouso vários meses atrás, mas teve seu acesso aos locais bloqueado pelo ministro do Trabalho, Marius Budai. A entidade pediu sua demissão.

Budai declarou à imprensa local que a questão de sua renúncia "não importa" e "o que importa é o que faremos daqui para frente".

Outro membro do governo sob pressão é a ministra de Assuntos Familiares, Gabriela Firea, casada com o prefeito de Voluntari, cidade que abriga dois dos lares denunciados na semana passada. Ela negou qualquer conhecimento ou responsabilidade pelos maus-tratos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

Erramos: o texto foi alterado

A Romênia não foi uma ex-república soviética, diferentemente do que afirmava versão anterior deste texto, ainda que parte de seu antigo território tenha sido ocupada pelo bloco.

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