Descrição de chapéu China África

Chinês é condenado por vender vídeos racistas de crianças da África

Maláui determina extradição e banimento de Lu Ke do país; caso abalou relações sino-africanas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um homem chinês que filmava crianças do Maláui fazendo falas racistas sobre si mesmas em mandarim para vender os vídeos online foi condenado a um ano de prisão por uma corte do país africano.

A informação é da emissora britânica BBC, cuja sucursal no continente identificou o criminoso em um documentário no ano passado. Lu Ke, conhecido como Susu, foi acusado de 14 crimes, incluindo tráfico e exposição de menores. Como ele já passou o equivalente ao tempo da sentença sob custódia à espera do julgamento, o tribunal ordenou que ele deixe o país em no máximo sete dias e que jamais retorne.

grupo de cerca de 15 crianças negras de uniforme vermelho ao redor de quadro negro com caracteres em mandarim
Reprodução de cena do documentário da BBC que denunciou chinês que filmava crianças do Maláui fazendo declarações racistas sobre si mesmas e depois vendia os vídeos na internet - BBC News Africa/YouTube/Reprodução

Lu lucrava com o racismo existente em parte da sociedade chinesa. Ele e outros compatriotas viajavam a vilas pobres na África e pagavam cerca de US$ 0,50 (R$ 2,40) por dia para que crianças, adolescentes e mulheres gravassem mensagens personalizadas em vídeos que seriam vendidos online.

Um dos registros mostra cerca de 15 crianças de uniforme vermelho falando "sou um demônio negro; meu Q.I. é baixo" —"demônio negro" (黑鬼, ou hēi guǐ) é o equivalente racista em chinês para "crioulo".

Em outro, um grupo diz estar faminto ao mesmo tempo em que o cinegrafista põe uma porção de batata frita em frente à câmera. Um terceiro exibe um conjunto de crianças e jovens prometendo jamais sair da África.

Os vídeos eram vendidos por até US$ 70 (R$ 375) em redes sociais e sites como Taobao, da Alibaba, também dona do AliExpress. Quando a identidade de Lu foi divulgada, ele fugiu para a Zâmbia. Tendo entrado lá de modo ilegal, foi extraditado de volta ao Maláui, onde havia um mandado de prisão contra ele.

Lu negava que seus vídeos tivessem conteúdo racista e dizia que seu objetivo era, na verdade, difundir a cultura chinesa entre as comunidades locais. Ele também afirmou ter pago US$ 16 mil (R$ 75 mil) ao governo como forma de compensar suas vítimas e financiar atividades ligadas à responsabilidade social.

Ao estrear, em junho de 2022, o documentário da BBC sacudiu as relações sino-africanas. A China logo reagiu, com o diretor-geral do Departamento de Assuntos Africanos da chancelaria chinesa, Wu Peng, afirmando no Twitter que seu país vinha "reprimindo esses atos ilegais online nos últimos anos". Ele ainda prometeu medidas mais efetivas para "punir vídeos de discriminação racial no futuro".

O continente africano é o destino da maior parte dos investimentos chineses e representa uma peça central nas ambições globais do gigante asiático. Casos de discriminação e racismo contra negros na China têm, no entanto, aparecido com frequência cada vez maior na agenda da região com Pequim.

Em 2020, viralizaram vídeos de nigerianos sendo expulsos de restaurantes e hotéis em Guangzhou, no sul, estigmatizados por supostamente "espalharem Covid" pelo local. A Nigéria afirmou à época que a situação era "angustiante, perturbadora e inaceitável".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.