Descrição de chapéu violência

Vídeo de violência sexual na Índia obriga Modi a quebrar silêncio sobre conflito étnico

Premiê faz 1ª declaração sobre embates entre meiteis e kukis quase 3 meses após início das tensões

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São Paulo

O surgimento de um vídeo que ilustra as tensões entre duas etnias no estado de Manipur, no nordeste da Índia, levou o premiê Narendra Modi a enfim se pronunciar sobre o conflito nesta quinta (20) —quase três meses depois de ele estourar, em maio.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ao centro, discursa diante da imprensa antes de abertura de sessão do Parlamento em Nova Déli - Sajjad Hussain/AFP

A filmagem data daquele mesmo mês, embora tenha viralizado nesta quarta, deixando o país em choque. Nela, duas mulheres da tribo kuki são obrigadas a caminhar nuas enquanto uma horda masculina da etnia majoritária na região, meitei, cerca a dupla, ameaçando-as e exibindo os próprios pênis. Elas choram e tentam cobrir seus corpos —moradores afirmam que elas sofreram um estupro coletivo.

Uma das vítimas afirmou ao veículo indiano The Wire que policiais estavam presentes no momento e nada fizeram. A multidão ainda teria matado o irmão de uma das mulheres quando ele tentou protegê-la.

O vídeo foi descrito por Narendra Modi como "uma vergonha para qualquer sociedade civilizada". "O que houve com as filhas de Manipur jamais será perdoado", afirmou o premiê em seu habitual discurso de abertura de sessão no Parlamento. "A Justiça tomará as medidas mais rigorosas e avançará com toda a sua força."

À época do ocorrido, o silêncio do líder quanto ao conflito entre kukis e meiteis foi considerado uma tentativa de abafar o caso, ocorrido em um estado governado por seu partido, o Bharatiya Janata (BJP, ou nacionalista hindu). Mesmo agora, opositores apontaram para o fato de que o premiê não abordou diretamente a violência na região ou apresentou planos para reduzi-la em sua declaração.

A cena registrada na filmagem ocorreu em 4 de maio, um dia depois de o conflito estourar em Manipur. Sua origem foi uma ação impetrada pelos meiteis na Justiça em que reclamavam os mesmos direitos que os kukis, uma etnia minoritária, haviam ganhado do Estado —como uma licença especial para adquirir terrenos nas montanhas e cotas para disputar empregos públicos.

O veredito foi a favor dos meiteis, o que fez os kukis protestarem. Ambos os grupos saquearam então arsenais da polícia e iniciaram enfrentamentos armados que deixaram mais de 50 mortos em dois dias. Hoje, o estado de mais de 3 milhões de pessoas é basicamente dividido entre zonas dominadas por cada uma das etnias, e casos de violência entre elas irrompem esporadicamente.

Os kukis exigem que o ministro-chefe do estado, N. Biren Singh, renuncie para que as tratativas de paz tenham início. O político, integrante do BJP, é acusado por entidades de defesa dos direitos humanos e mesmo por aliados de inação ante a violência.

Nesta quinta-feira, quase ao mesmo tempo em que Modi se pronunciava no Parlamento, Singh prometeu em uma postagem no Twitter que uma "investigação minuciosa" sobre o caso está em curso e que "ações duras" serão tomadas contra os agressores, "incluindo a possibilidade de pena de morte".

Enquanto isso, a polícia de Manipur afirmou ter detido um homem envolvido no caso, e o Supremo Tribunal pediu ao governo para ser informado acerca dos passos que ele tomaria para se certificar de que os agressores seriam presos e episódios semelhantes não voltariam a ocorrer.

Agora acusado de inação, Modi também já foi apontado como cúmplice de outro episódio de violência étnica na Índia, no início dos anos 2000, quando era governador do estado de Gujarat, no oeste do país, durante o início de sua vida política.

À época, tumultos entre comunidades locais deixaram mais de mil mortos, em sua maioria muçulmanos — organizações de direitos humanos, no entanto, estimam que o número de vítimas seja ao menos o dobro da cifra oficial. A violência começou após um trem com peregrinos hindus ser incendiado, matando 59 pessoas.

O caso, alvo de críticas de líderes internacionais, foi retratado em um recente documentário da rede pública britânica BBC que foi censurado na Índia pelo governo do atual primeiro-ministro. A produção mostra, entre outras coisas, um documento da chancelaria do Reino Unido segundo o qual Modi teria pedido à polícia local para não intervir em agressões contra grupos muçulmanos.

Com Reuters e NYT

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