Dinamarca vai buscar 'ferramenta legal' para impedir queima do Alcorão

País tem atraído atenção internacional nas últimas semanas devido a episódios envolvendo livro sagrado dos muçulmanos

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Copenhague

O governo dinamarquês vai buscar "uma ferramenta legal" que permita às autoridades locais impedir a queima de cópias do Alcorão em frente às embaixadas de outros países, disse o ministro das Relações Exteriores Lars Lokke Rasmussen à emissora nacional DR neste domingo (30).

"São atos profundamente ofensivos e imprudentes cometidos por indivíduos isoladamente. Essas pessoas não representam os valores sobre os quais a sociedade dinamarquesa está construída", disse Rasmussen, depois, em nota. "Assim, o governo considera a possibilidade de intervir em situações em que outros países, culturas e religiões sejam insultados, com consequências negativas para a Dinamarca."

Manifestação no Iêmen em reação à queima de Alcorão na Dinamarca
Manifestação no Iêmen em reação à queima de Alcorão na Dinamarca - 24.jul.23 - Khaled Abdullah/Reuters

A Dinamarca e a Suécia têm despertado atenção internacional nas últimas semanas devido a episódios em que o livro sagrado dos muçulmanos foi queimado, ofendendo muçulmanos ao redor do mundo.

Ambos os países disseram condenar os atos, mas ao mesmo tempo afirmam que não podem impedi-los devido a leis que protegem a liberdade de expressão. No comunicado, Rasmussen acrescentou que qualquer medida "deve ser feita dentro da liberdade de expressão protegida constitucionalmente e de uma maneira que não mude o fato de que esse direito na Dinamarca tem um escopo muito amplo".

A controvérsia começou no final de junho, quando uma cópia do Alcorão foi queimada em frente à principal mesquita de Estocolmo, capital sueca. O protesto, realizado por um refugiado iraquiano, havia sido autorizado pela polícia, em cumprimento a uma decisão da Justiça que determinava que impedir manifestações do tipo violava o direito à liberdade de expressão.

Dias depois, a polícia autorizou novamente outro ato que, segundo os organizadores, seria palco não só da queima de um Alcorão como também de uma bandeira iraquiana. O anúncio do evento foi o suficiente para que milhares de pessoas invadissem a embaixada sueca em Bagdá, ateassem fogo ao edifício da representação diplomática, e para que, mais tarde, a embaixadora sueca fosse expulsa do Iraque.

Desde então, a revolta vista em Bagdá se espalhou por diversos países de maioria muçulmana. As chancelarias de Arábia Saudita, Qatar e Irã convocaram os diplomatas da Suécia em seus respectivos países, ato visto como uma reprimenda na prática diplomática, e manifestações foram registradas no Líbano, cujo ator político mais influente, o grupo islâmico xiita Hizbullah, é financiado pelos iranianos.

A destruição de um Alcorão diante da embaixada do Iraque em Copenhague, na Dinamarca, só intensificou esse clima de hostilidade. O evento foi transmitido ao vivo pelo grupo de ultradireita que organizou o ato, Danske Patriote, ou patriotas dinamarqueses. Na transmissão, o livro sagrado aparece em chamas sobre uma bandeja de papel alumínio ao lado da bandeira iraquiana jogada no chão.

As normas desses países entram em choque com a visão de algumas das nações de maioria muçulmana. O porta-voz da chancelaria do Irã, Nasser Kanaani, disse que "o governo dinamarquês é responsável por prevenir insultos ao Alcorão e às santidades islâmicas, bem como processar e punir quem cometeu os insultos". Segundo ele, os Estados muçulmanos esperam ações práticas do governo dinamarquês.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, declarou que aqueles que queimaram o Alcorão mereciam uma "punição mais severa" e exigiu que a Suécia entregasse os responsáveis aos "sistemas judiciais dos países islâmicos". Já a Presidência do Iraque pediu às organizações internacionais e aos governos ocidentais que "parem com as práticas de incitamento ao ódio, sejam quais forem seus pretextos".

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