Descrição de chapéu União Europeia

Macron considera multar famílias de manifestantes adolescentes na França

Proposta do presidente é criticada pela oposição; protestos perdem força uma semana depois de policial matar Nahel

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente Emmanuel Macron já havia pedido que mães e pais mantivessem seus filhos em casa frente ao número de adolescentes nos protestos que tomaram as ruas da França nos últimos dias —de acordo com o governo, 3.915 pessoas foram presas até aqui, sendo 1.244 menores de idade. Agora, ele foi além.

A policiais em Paris na noite de segunda (3) Macron manifestou a intenção de punir financeiramente as famílias de manifestantes menores de idade, estabelecendo "uma espécie de tarifa mínima desde a primeira confusão" provocada pelo filho. O discurso foi classificado de "cínico" pela oposição.

O presidente da França, Emmanuel Macron, fala aos prefeitos das cidades afetadas pelos confrontos que eclodiram depois que um adolescente foi morto pela polícia
O presidente da França, Emmanuel Macron, fala aos prefeitos das cidades afetadas pelos confrontos que eclodiram depois que um adolescente foi morto pela polícia - Ludovic Marin/Reuters

O prefeito de Trappes Ali Rabeh afirmou que parte dessas famílias é monoparental. "São mães que trabalham em horários escalonados no Carrefour e não estão presentes quando o filho sai da escola e fica na rua. Elas estão trabalhando sozinhas para tentar encher a geladeira", disse, segundo a RadioFrance.

O próprio ministro da Educação, Pap Ndiaye, discordou. Para ele, responsabilizar os pais não significa castigá-los, mas ajudá-los a cuidar dos seus filhos. "Devemos ter em conta as dificuldades específicas de certas famílias. Quando uma mãe trabalha à noite, é ainda mais complicado para os filhos", afirmou.

Macron anunciou em uma reunião com 241 prefeitos uma lei de emergência para reconstruir mais rapidamente os edifícios e a infraestrutura de cidades afetadas. As 72 detenções durante protestos na noite desta segunda parecem indicar que o pico das manifestações contra a polícia já passou —no dia anterior, foram 157, o que não chega perto dos 1.311 presos no último sábado (1º), por exemplo.

O saldo da destruição é de 269 instalações policiais atacadas, 1.105 edifícios danificados, 5.892 viaturas incendiadas e 12.202 vias públicas queimadas, segundo o Ministério do Interior. A pasta de Economia contabilizou mais de mil estabelecimentos comerciais e agências bancárias danificadas, enquanto a da Educação registrou 60 escolas afetadas —dez das quais parcial ou totalmente destruídas. "Estamos falando de dezenas de milhões de euros" em prejuízos, afirmou o ministro da Educação.

Para o prefeito de Grigny, Philippe Rio, o encontro foi uma "terapia coletiva". A situação é "extremamente dolorosa", segundo o político do Partido Comunista, que lamenta o "vínculo rompido desde a crise dos coletes amarelos e os atos contra a reforma da Previdência", grandes ondas de manifestação no país.

O tumulto dos últimos dias levou parte da população e da classe política a culpar os imigrantes pela depredação. Em Persan, onde manifestantes quebraram janelas da prefeitura e danificaram sua fachada, dezenas de moradores se reuniram para discutir os protestos, assim como em outros municípios.

"Devemos cortar tudo, bolsas para as famílias, tudo relacionado a subsídios sociais. Se eles não estão felizes, que voltem para seu países", afirmou um aposentado, que se identificou como Alain, à Reuters. "Senhor, deixe-me dizer uma coisa. Eles podem ter origens estrangeiras, antepassados estrangeiros, mas essas crianças são francesas", respondeu Fatma, com a cabeça coberta por um lenço islâmico.

Em sessão de perguntas à primeira-ministra Élisabeth Borne no Parlamento, a política de ultradireita Marine Le Pen afirmou que o governo entregou o país ao saque. "Vocês estão prestes a direcionar bilhões de dólares para mais um plano urbano." A prioridade, diz ela, deveria ser "parar a imigração anárquica".

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, pediu ao partido da deputada, o Reunião Nacional, para não confundir o debate, já que menos de 10% dos presos eram estrangeiros. "A questão são os jovens infratores, não os imigrantes", afirmou. "Não queremos ódio à polícia nem ódio aos estrangeiros."

Em meados de abril, Macron deu a si mesmo cem dias para trazer reconciliação para um país dividido e a um ano de sediar as Olimpíadas. Na época, a França enfrentava greves e protestos às vezes violentos contra o aumento da idade de aposentadoria. O plano de pacificar a nação, porém, foi interrompido no dia 27, quando, numa blitz, um policial atirou em Nahel, jovem de 17 anos de pais argelinos e marroquinos.

Ele morreu horas depois do incidente. Uma campanha de arrecadação lançada pelo ex-candidato de ultradireita à Presidência Eric Zemmour para Florian M., 38, autor do disparo, levantou mais de € 1 milhão até segunda-feira. O agente foi indiciado por homicídio doloso e está preso preventivamente.

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.