Homens mascarados agrediram brutalmente a repórter russa Elena Milachina e o advogado Alexander Nemov nesta terça (4), perto de Grozni, capital da república russa da Tchetchênia, no sul do país.
Eles estavam na região para acompanhar a audiência de Zarema Musaieva, que, suspeita-se, é perseguida por motivos políticos. Ela é acusada de agressão a um policial e fraude num caso que críticos veem como vingança pela fuga da Tchetchênia de seus dois filhos, ativistas sociais, e do marido, um juiz federal.
Milachina, conhecida por cobrir temas ligados a direitos humanos e pela posição crítica à Guerra da Ucrânia, trabalhou para o jornal Novaia Gazeta, cuja licença foi cassada no ano passado.
A jornalista e Nemov iam de carro do aeroporto para o centro da cidade quando três veículos os cercaram. Os homens mascarados então a tiraram do veículo, rasparam sua cabeça, quebraram dedos de suas mãos e a cobriram de tinta verde. O advogado foi esfaqueado na perna, e os equipamentos da dupla, destruídos.
"Foi um sequestro clássico. Eles imobilizaram nosso motorista, jogaram-no para fora do carro, abaixaram nossas cabeças, amarraram minhas mãos, ajoelharam-me e apontaram uma arma para a minha cabeça", disse a jornalista ao ouvidor Mansur Soltaiev, enquanto recebia atendimento num hospital em Grozni.
Mais tarde, ambos foram transferidos a um centro de saúde numa região vizinha e devem ser levados a Moscou para continuar o tratamento. Uma ressonância magnética detectou traumatismo craniocerebral.
O Memorial, grupo de direitos humanos proibido na Rússia e ganhador do Nobel da Paz 2022, disse que Milachina e Nemov foram "brutalmente chutados, inclusive no rosto" em comunicado da organização no Telegram. "Enquanto eram espancados, ouviram: 'Vocês foram avisados. Saiam daqui e não escrevam nada'."
O incidente é o mais recente ato de violência e intimidação contra jornalistas russos no país, que restringiu o trabalho de repórteres com leis que basicamente permitem a juízes darem sentenças de até 15 anos caso considerem que alguém espalhou fake news ou difamou as Forças Armadas na guerra.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o "ataque é muito sério" e que informará o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o incidente. Segundo ele, é necessária uma "investigação enérgica".
A Tchetchênia, pequena ditadura comandada pelo aliado de Putin Ramzan Kadirov, é especialmente perigosa para jornalistas e ativistas de direitos humanos. É notória a perseguição local a membros de grupos de defesa da comunidade LGBTQIA+. O líder, que ascendeu depois de duas guerras sangrentas que se seguiram à dissolução soviética, em 1991, afirmou ter instruído "os serviços competentes a fazerem todos os esforços para identificar os agressores".
Milachina passou anos investigando denúncias de violações de direitos humanos na região, incluindo prisões em massa e torturas de gays. Ela já havia recebido ameaças de morte antes, além de ter sido descrita como terrorista por Kadirov em um post nas redes sociais. O ditador nega os abusos, dizendo que as alegações são fabricadas por malfeitores que tentam desacreditar a Tchetchênia e suas autoridades.
No julgamento que a repórter russa tentou acompanhar, Musaieva, que nega as acusações feitas contra ela, foi considerada culpada e sentenciada a cinco anos e meio de prisão nesta terça-feira.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.