Direita da Espanha leva mais votos mas não tem maioria, e eleição acaba indefinida

Coligação conservadora fica a 7 deputados de formar maioria, dando nova chance a premiê Pedro Sánchez

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Madri

O resultado das eleições gerais da Espanha deste domingo (23) aponta para um futuro incerto, em um provável cenário de ingovernabilidade que, segundo analistas, poderá demandar novo escrutínio.

Em números, o conservador PP (Partido Popular) levou a melhor, com 33% dos votos. Mas na prática perdeu a chance de assegurar nas urnas a maioria para liderar o governo. Seu líder, Alberto Feijóo, acreditava que isso ocorreria ainda que às custas da ajuda do ultradireitista Vox. Mas mesmo juntos eles não conseguiram a quantidade mínima de assentos necessários.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, líder do PSOE, em comício após eleições gerais do país em Madri - Nacho Doce/Reuters

No sistema parlamentarista da Espanha, não se vota em candidatos, mas em partidos. Estes, por sua vez, indicam os deputados para as 350 cadeiras que compõem o Legislativo. A sigla ou a coalizão que conquistar a maioria das cadeiras —ou 176 delas— estará apta a escolher o próximo premiê.

Ao final, o PP conseguiu apenas 136 do total de 350 cadeiras do Parlamento. Somando as 33 do Vox, ficou a 7 de formar uma maioria.

Mesmo assim, Feijóo não se deu por vencido. Último dos líderes a se pronunciar após o anúncio do resultado das urnas, por volta de meia-noite, ele declarou estar orgulhoso do resultado da sigla. "O PP voltou a vencer as eleições gerais", disse. "Estou encarregado de iniciar o diálogo para formar um governo de acordo com a vontade da maioria dos espanhóis, expressa nas urnas neste domingo", afirmou —deixando claro que não pretende deixar o governo nas mãos de Sánchez.

Alberto Feijóo gesticula em comício em Madri após eleições gerais da Espanha - Juan Medina/Reuters

Já o PSOE do adversário, que entrou desacreditado pelas pesquisas (que previam que ele conseguiria 28% dos votos, em comparação com 34% do adversário), ficou muito perto do PP, com 32%. Sua união com a coalizão Sumar, que reúne seis partidos nacionais e outros 14 regionais, fez com que a esquerda terminasse a corrida com 153 deputados na casa legislativa.

Outros 19 deputados dos partidos nanicos declararam apoio ao PSOE e ao Sumar, fazendo com que eles precisem de apenas 4 cadeiras para conseguir formar um governo —menos do que o PP, portanto. Embora seja difícil que haja espaço para mais apoios, fato é que o governo de Sánchez, considerado encerrado por muitos, pode ter ganhado uma sobrevida.

"Conseguimos mais votos, mais assentos e mais porcentagens do que há quatro anos", discursou o atual premiê. "O bloco do retrocesso, que queria revogar os avanços dos últimos quatro anos fracassou." À sua frente, a multidão gritava "não passarão". Eles se referiam justamente ao Vox, legenda ultradireitista conhecida pelas posições contra a imigração e os direitos LGBTQIA+.

Em 2019, Sánchez também não havia alcançado maioria absoluta, mesmo com a coligação com a Unidas/Podemos. Ele precisou justamente desses nanicos para governar, o que acabou dando a ele uma base frágil e o tornando alvo de críticas por se aliar aos partidos independentistas bascos e catalães.

A situação do Congresso é, no entanto, bastante diferente daquela de 2019. O PP passou de 89 para 139 deputados, tendo agora o maior número absoluto de cadeiras na Casa. O PSOE foi de 120 para 122. A coalizão de esquerda, que tinha 35 cadeiras, acabou com 31.

A maior queda aconteceu, porém, com o Vox, que murchou de 52 para 33 deputados —analistas apontam que parte dessa diminuição pode estar relacionada a uma onda de eleitores que apostaram no "voto útil" contra a ultradireita.

Ao longo da apuração, PSOE e Sumar chegaram a ter mais votos do que PP e Vox. Com a ajuda dos nanicos, o bloco de esquerda apresentou até mesmo maioria no meio da contagem, mas as forças foram se alternando conforme o relógio avançava, e o PP levou o maior número de cadeiras.

Apesar desse crescimento e das declarações de Feijóo, analistas afirmam que as chances de ele de fato conseguir formar um governo são pequenas.

Uma de suas opções de parceria seria, por exemplo, o partido Junts (Juntos pela Catalunha), que é de direita e ganhou exatamente 7 cadeiras neste domingo. Mas o professor de teoria social e política Jesús Gamero Rus, da Universidade Carlos 3º, afirma que é "impossível" um pacto com eles. "Junts só quer uma coisa: a independência da Catalunha. Não vai colaborar com ninguém", afirmou Rus.

O pleito ainda marcou a primeira vez na história espanhola recente em que a população votou durante o verão. Isso ocorreu porque, após o PSOE perder as eleições regionais em maio para o PP, o premiê Pedro Sánchez antecipou em quase quatro meses o pleito geral originalmente programado para 10 de novembro. A ideia do PSOE era conter um desgaste maior frente ao crescimento da direita e diminuir a possibilidade de que o PP continuasse crescendo.

O comparecimento às urnas, mesmo com temperaturas acima de 30º C, chegou a 70%, de um universo de mais de 37 milhões de espanhóis aptos a votar, acima dos 66% das eleições de 2019. Quase 7% dos eleitores votaram antecipadamente pelos correios.

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