Alberto Feijóo, líder de direita na Espanha, desponta como potencial premiê

Presidente do Partido Popular viu sua sigla derrotar a de Pedro Sánchez e terá sua chance direta nas eleições antecipadas

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Madri

"Já salvei a nação de cinco meses de sanchismo", parabenizou-se Alberto Núñez Feijóo, nesta terça-feira (30), na sede do Partido Popular (PP), em Madri, onde lideranças regionais se reuniram em mais um momento de comemoração pela vitória sobre a esquerda no último domingo (28).

"Demos o primeiro passo. Agora falta o definitivo", completou Feijóo, grande aposta da direita para se tornar o próximo premiê da Espanha, depois de o atual, Pedro Sánchez (PSOE), ter adiantado em quatro meses as eleições gerais.

A campanha já está a todo vapor. Na reunião, Feijóo pouco falou sobre os acordos com o Vox, da ultradireita, necessários para que o PP possa governar com maioria nas cinco regiões em que venceu o PSOE no domingo: Aragão, Valência, Cantábria, Baleares e Extremadura.

Alberto Feijóo, ao centro, caminha com lideranças regionais do PP em frente à sede do partido em Madri, na Espanha - Thomas Coex - 30.mai.23/AFP

Em vez de melindrar possíveis eleitores no centro do espectro político, preferiu estender os olhos para o 23 de julho, data prevista para a nova eleição. Confiante e eufórico, seguiu batendo nas coligações que Sánchez armou para ter maioria durante seu governo. Disse, por exemplo, que o PP apoiaria a Constituição para "retirar o EH Bildu de qualquer possibilidade de governo".

O EH Bildu tentou emplacar, nas últimas eleições, candidatos que foram condenados por terrorismo quando agiam pelo grupo separatista ETA. A proximidade do governo com eles e também com separatistas catalães da ultraesquerda é apontada como fundamental para a migração de eleitores do socialismo de Sánchez para a direita de Feijóo.

"Tudo o que sou devo à Galícia" e "estou casado com a Galícia", disse certa vez o presidente do PP ao jornal espanhol El Mundo. Trata-se da região noroeste da Espanha, aquela que forma um dente bem acima de Portugal e famosa pela sua capital Santiago de Compostela, ponto final da rota de peregrinação de magos e andarilhos.

De fato, Feijóo não escapa do estereótipo clássico do galego, afirmando amar peixes, mariscos e o time de futebol Deportivo La Coruña. Aos 61 anos, foi casado duas vezes. A primeira, entre 2000 e 2012, com uma jornalista. Nos últimos dez anos, tem relacionamento com uma empresária, com quem tem um filho de 6 anos.

Foi na Galícia que o presidente do PP nasceu, foi criado e se criou politicamente. Advogado, iniciou a carreira já no partido conservador, em 1991, aos 30 anos. Pelas duas décadas seguintes, batalhou no baixo e, depois, no médio escalão da política regional.

Houve um hiato de quase dez anos, quando mudou-se para Madri e participou do governo do então premiê José María Aznar (1996-2004). Feijóo trabalhou no Ministério da Saúde e foi diretor dos Correios. De volta à província em 2003, assumiu a presidência regional do PP, cargo que manteve por 16 anos. Em 2009, foi eleito presidente da Junta da Galícia (equivalente ao cargo de governador). Foi reeleito em 2012, 2016 e 2020.

Esses mandatos coincidiram com os grandes anos de bonança do PP. Mariano Rajoy, então líder do partido, foi o premiê da Espanha entre 2011 e 2018 —quando caiu, após devassa de escândalos de corrupção. Foi nesse momento que o socialista Pedro Sánchez alcançou a liderança —poder esse que agora pode voltar ao PP.

Pode-se dizer que Feijóo se tornou uma liderança efetivamente espanhola apenas no ano passado, quando foi, finalmente, alçado à presidência nacional do Partido Popular, sendo escolhido, sem qualquer resistência, por 98,35% dos filiados.

Na anedota política, há uma série de gafes cometidas por Feijóo que valem ser lembradas. Conta-se que, em 2009, ao visitar uma fazenda em La Coruña, espantou-se ao ver que todos os animais apresentados tinham nome de mulher. Questionou o proprietário e levou a seguinte resposta: "Porque são vacas. Como deveríamos chamá-las? Juliano?".

Em outra situação, após um encontro com o setor pesqueiro da província, postou nas redes sociais um apelo para pesca menos restritiva da merluza, pois um marinheiro havia lhe contado que, se não houvesse a liberação, esses peixes chegariam às praias e abocanhariam os banhistas.

Menos engraçado foi quando, há dez anos, El País, o maior jornal da Espanha, publicou uma foto antiga de férias de Feijóo ao lado do narcotraficante Marcial Dorado. Pressionado para se demitir do governo da Galícia, não o fez.

Sorte para ele que, no horizonte de dois meses, pode se tornar o próximo governante da sexta maior economia da Europa, atrás apenas de Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Rússia.

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