Burkina Fasso e Mali ameaçam declarar guerra em caso de intervenção no Níger

França anuncia medidas para retirar cidadãos europeus do país africano após golpe militar que depôs presidente

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Niamei (Níger) | Reuters e AFP

Em um comunicado conjunto divulgado na segunda (31), Burkina Fasso e Mali advertiram que qualquer intervenção militar no Níger buscando restabelecer o presidente deposto Mohamed Bazoum seria entendida como uma "declaração de guerra" contra as duas nações africanas, comandadas por juntas militares.

A declaração foi dada às vésperas de uma nova cúpula da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) para discutir o golpe. No domingo, dirigentes dos países-membros do bloco reunidos em uma sessão extraordinária deram um ultimato de uma semana para que a ordem constitucional fosse restaurada no país.

Burkina Fasso e Mali se posicionaram, assim, ao lado dos golpistas que tomaram o poder no Níger. Segundo eles, qualquer ação contra o novo regime levaria à saída de ambos os países da Cedeao e à adoção de "medidas de legítima defesa".

Militares assumiram o controle de Niamei no último dia 26, sob a alegação de que a segurança na nação do Sahel africano, assolada por ataques de grupos jihadistas, estava comprometida. Eles também fecharam as fronteiras nacionais e decretaram toque de recolher em um anúncio feito pela TV.

Em frente à embaixada da França em Niamei, manifestantes exibem bandeiras do Níger e da Rússia durante ato de apoio ao golpe militar no país - 30.jul.2023/AFP

Na segunda, o grupo prendeu dois ministros do governo, aprofundando assim o golpe. Sani Mahamadou (Petróleo) e Ousseini Hadizatou (Mineração) foram detidos em condições não esclarecidas, segundo o Partido para a Democracia e Socialismo do Níger (PNDS, na sigla em francês), de Bazoum.

As prisões aumentaram a tensão no país, em ebulição após protestos violentos, imposição de sanções e ameaças de intervenção externa. Em nota, a sigla do presidente deposto instou a população a proteger a democracia e afirmou que as detenções confirmam a natureza "repressiva e ditatorial" da junta militar.

Enquanto isso, nações europeias começam a retirar seus cidadãos do Níger, uma ex-colônia francesa —Paris anunciou por exemplo que iniciaria a retirada de cidadãos franceses e de outras nacionalidades nesta terça-feira (1º). "Diante da deterioração da situação de segurança e aproveitando a calma relativa em Niamei, estamos preparando uma operação de retirada por via aérea", afirmou a embaixada do país em comunicado.

A junta militar acusou o governo deposto de autorizar a França a realizar ataques para tentar libertar Bazoum e restabelecer a Presidência. Ato contínuo, milhares de pessoas protestaram no domingo (30) em frente à embaixada do país europeu na capital em apoio ao golpe militar.

Pedras foram atiradas contra a representação diplomática durante o ato, que ainda contou com queima de bandeiras da França e gritos contra o país europeu. Um manifestante ouvido pela agência Reuters disse que o protesto é uma forma de expressar "descontentamento com a interferência francesa no Níger".

A França calcula que quase 600 cidadãos franceses estejam no país. O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também anunciou um voo especial para aqueles que têm cidadania italiana e desejam sair de lá.

País semidesértico que registrou quatro golpes de Estado desde sua independência, em 1960, o Níger é considerado uma das nações mais pobres e instáveis do mundo, apesar de ter grandes reservas de urânio.

Bazoum chegou ao poder em 2021, após vencer as eleições que marcaram a primeira transição pacífica de poder no país. Mas seu mandato já estava marcado por duas tentativas de golpe antes das ocorrências da semana passada, quando ele foi detido na residência oficial por membros da Guarda Presidencial.

Militares no Níger, com Amadou Adramane à frente, fazem pronunciamento em rede nacional de TV para anunciar a deposição do presidente
Militares no Níger, com Amadou Adramane à frente, fazem pronunciamento em rede nacional de TV para anunciar a deposição do presidente - 26.jul.23/Reuters

O comandante da guarda, o general Abdurahaman Tiani, declarou-se o novo líder do país, apesar das críticas da Cedeao, da União Africana e da ONU, assim como da França, dos Estados Unidos e da União Europeia.

O golpe acionou os alarmes nos países ocidentais que lutam para conter uma insurgência jihadista na região. O movimento, que teve início no norte do Mali em 2012, avançou para Níger e Burkina Faso três anos depois e agora ameaça as fronteiras de várias nações frágeis no Golfo da Guiné.

A violência extremista provocou um número indeterminado de vítimas civis, soldados e policiais em toda a região. Em Burkina Fasso, 2,2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.

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