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Como Itália tenta abandonar Nova Rota da Seda sem irritar a China

Newsletter China, terra do meio fala sobre decisão que deve consolidar afastamento de economias europeias do projeto

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Igor Patrick
Washington

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Quatro anos após se tornar o primeiro país europeu a se juntar à Iniciativa de Cinturão e Rota, popularmente conhecida como Nova Rota da Seda, um dos projetos de comércio e infraestrutura mais ambiciosos da China, a Itália agora começa a reavaliar se a parceria ainda vale a pena.

Ao jornal Corriere della Sera na última semana, o ministro italiano da Defesa, Guido Crosetto, avaliou que o país tomou uma decisão "improvisada e atroz" ao aderir ao projeto chinês. Segundo ele, desde a assinatura do acordo, os benefícios foram só para Pequim, que multiplicou o comércio com a Itália.

"Enquanto exportamos laranjas à China, eles triplicaram suas exportações para a Itália em três anos. O mais ridículo então era que Paris, sem assinar nenhum tratado, vendia naquela época aviões a Pequim por dezenas de bilhões [de euros]."

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, durante entrevista coletiva em Roma - Remo Casilli - 10.jan.23/Reuters

Crosetto diz que o governo italiano hoje entende que o trato com a China está mais desafiador. Para ele, Pequim tem atitudes cada vez mais assertivas.

"Ao mesmo tempo em que se propõe a ser protagonista no comércio exterior, também quer assumir um posto entre os maiores players militares do mundo. Estão se expandindo. Na África, iniciaram uma expansão cultural, com HQs que mostram os chineses como salvadores e ocidentais como exploradores a serem expulsos".

O ministro avalia que o maior desafio em Roma agora é deixar a iniciativa sem prejudicar as relações com a China, "nossa concorrente, mas também nossa parceira".

Para acalmar os ânimos, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anunciou que deve viajar a Pequim em breve para se encontrar com Xi Jinping. Ela ainda não bateu o martelo sobre a permanência no projeto chinês e diz que a decisão será tomada até dezembro.

Ao se encontrar com o presidente dos EUA, Joe Biden, ela chamou de "paradoxo" o fato de a Itália ser o único país do G7 a participar da Iniciativa de Cinturão e Rota e não liderar o grupo em termos de trocas comerciais com os chineses.

Por que importa: a entrada da Itália na Iniciativa de Cinturão e Rota serviu à época como um selo de credibilidade. A China esperava que outros países ocidentais seguissem a decisão de Roma, o que efetivamente não aconteceu. A iminente decisão de Roma em deixar o projeto coloca o último prego no caixão e deve consolidar ainda mais o afastamento das grandes economias europeias do projeto.


O que também importa

Oficiais de defesa e inteligência americanos estão tentando identificar um código malicioso supostamente escondido por hackers chineses em redes que controlam bases militares nos EUA e no resto do mundo. Na semana passada, eles anunciaram que estão fazendo uma varredura nos sistemas. Segundo o New York Times, se comprovada a existência do tal código, o malware conseguiria interromper operações militares em caso de conflito. A embaixada chinesa em Washington negou que o país tenha se envolvido com atividade hacker e disse que os EUA são "infratores recorrentes" do mesmo delito;

O tufão Doksuri, um dos mais fortes a atingir a China nos últimos anos, deixou centenas de pessoas ilhadas e ao menos dois mortos. Com precipitações médias em Pequim atingindo 176,9 mm entre a noite de sábado e a tarde desta segunda-feira, a tempestade levou à retirada de quase 31 mil pessoas, além da interrupção de 4.000 obras, do bloqueio de 358 avenidas e estradas e do cancelamento de mais de duzentos voos. Um caminhoneiro segue desaparecido após cair de uma ponte que ruiu e ser arrastado pela água.

Região alagada na província de Fujian depois da passagem do tufão Doksuri - CNSPhoto via Reuters

Taiwan anunciou que vai endurecer as penas para os crimes de assédio sexual, em reação a uma série de acusações contra figuras políticas e de alto escalão nos últimos meses. A pena máxima aumentou de dois para três anos de detenção e a multa máxima dobrou para NT$ 1 milhão (R$ 151 mil). Além disso, as vítimas agora têm sete anos para fazer uma denúncia. A lei também vai exigir que empregadores lidem imediatamente com denúncias de assédio, sob pena de multa.


Fique de olho

O governo argentino chegou a um acordo com o Banco Popular da China para garantir US$ 1,7 bilhão em renminbis por meio de contratos de swaps cambiais. O valor será usado para pagamento de uma parcela da dívida com o Fundo Monetário Internacional, disse o ministro da Economia nesta segunda. Com o acordo, Buenos Aires se livrou de usar suas magras reservas internacionais em dólar, estimadas em US$ 8 bilhões negativos pelo Banco Central argentino.

O ministro da Economia e pré-candidato governista à Presidência, Sergio Massa, agradeceu o governo chinês pela ajuda. A pasta, porém, não revelou os termos acordados com os chineses, alegando questões de confidencialidade.

Por que importa: a estratégia representa um alívio de curto prazo para o governo de Alberto Fernandéz, e para Pequim garante mais um passo no plano de internacionalizar sua moeda. O pacto deve garantir ainda alguma influência nas negociações para a venda de caças chineses JF-17 à Força Aérea argentina, ventilada desde o início do ano.


Para ir a fundo

  • O Sixth Tone produziu um curta-documentário que mostra como vivem os moradores de Minqin, um condado na província de Gansu conhecido como "capital das tempestades de areia". A produção também discute os impactos da crise climática na vida da China rural. (gratuito, em chinês com legendas em inglês)
  • O escritório Bichara Advogados realiza no próximo dia 8 o evento "Doing Business in Brazil", destinado a ampliar negócios entre empresas brasileiras e chinesas. Com o apoio de instituições como a Ibrachina e a Universidade de Zhejiang, as palestras acontecerão de forma presencial e online. Inscrições aqui. (gratuito, em inglês e português)
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