Crise climática força retirada de 36 mil em megaevento de escoteiros na Coreia do Sul

Mais de 40 mil pessoas de 155 países participavam da primeira edição do Jamboree Mundial dos Escoteiros após pandemia

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São Paulo

Os frequentadores de um dos maiores eventos de escoteiros do mundo estão sendo atingidos pelos impactos da crise do clima. Organizadores do Jamboree Mundial dos Escoteiros, cuja edição deste ano acontece na Coreia do Sul, anunciaram que milhares de jovens serão retirados do acampamento diante da iminência da chegada de um tufão. Antes, centenas de pessoas haviam sofrido com o calor extremo.

Mais de 40 mil pessoas –a maioria alunos de ensino fundamental e médio– de 155 países participam do encontro em Saemangeum. Mas a previsão de tempestades após a pior onda de calor em anos gerou uma debandada de participantes e tem aumentado a pressão para que os organizadores suspendam o evento.

Escoteiros britânicos chegam a hotel em Seul após deixarem o Jamboree antes da chegada de tufão
Escoteiros britânicos chegam a hotel em Seul após deixarem o Jamboree antes da chegada de tufão - Yonhap - 5.ago.23/AFP

Cerca de 36 mil pessoas serão levadas de ônibus nesta terça-feira (8) para áreas afastadas do trajeto previsto para o tufão Khanun, que já causou estragos no Japão e deve atingir a Coreia do Sul na quinta (10). Assim, os organizadores buscam locais alternativos e acomodações para os jovens em Seul e nos arredores, disse Kim Sung-ho, vice-ministro de Gerenciamento de Desastres e Segurança, em comunicado.

As autoridades afirmam que a retirada dos jovens é uma ação preventiva. Segundo Kim Hyun-sook, presidente do comitê organizador do Jamboree e ministra de Igualdade de Gênero e Família, o evento continuará a despeito dos fenômenos climáticos —o encontro está programado para acontecer até 12 de agosto. "Para garantir a segurança do Jamboree, estamos discutindo contramedidas detalhadas para a situação do tufão com agências relevantes, incluindo o Ministério do Interior", disse Kim em comunicado.

Ainda assim, dezenas de grupos de escoteiros decidiram abandonar o encontro, o primeiro desde o início da pandemia. À agência de notícias Reuters o chefe da delegação do Reino Unido afirmou que preocupações relacionadas a limpeza e comida, não apenas com o calor, levaram à decisão de deixar o evento. Argumentos semelhantes foram expostos por frequentadores de vários outros países.

"Havia preocupações com a alimentação e com aqueles que têm necessidades dietéticas. Tínhamos receio de que não recebessem a comida de que precisam. Não achamos que [o evento] era seguro para os jovens nem para os voluntários adultos", disse Matt Hyde, chefe de um grupo de escoteiros britânico. Segundo ele, cada escoteiro investiu cerca de 3.500 libras esterlinas (R$ 21,7 mil) na viagem.

O governador da província de Jeolla do Norte, onde o evento estava sendo realizado, pediu desculpas ao público e disse que a infraestrutura do Jamboree seria reforçada. Ao longo do evento, autoridades tiveram de enviar caminhões-pipa e aparelhos de ar-condicionado para amenizar o calor, que chegou a 35ºC.

Atingidos pelas altas temperaturas, centenas de participantes adoeceram e tiveram de receber atendimento médico, gerando reclamações de pais sobre a segurança de seus filhos. Somente na última quinta-feira (3), 1.486 pessoas foram ao hospital local com erupções cutâneas e outras condições relacionadas ao calor, de acordo com a CNN americana. Nenhuma estava em situação crítica.

Testemunhas dizem que a situação é agravada pela infraestrutura precária. Alguns participantes relatam falta de comida e ausência de abrigos para que as pessoas possam de proteger do sol. "As crianças desmaiavam esperando os ônibus chegarem. Não havia sombra, todas as atividades foram canceladas e havia mosquitos enormes", disse Olaf Clayton, pai de uma participante do Jamboree.

A repercussão dos impactos da crise climática e da falta de estrutura adequada chegou ao Parlamento. O chefe do Partido do Poder Popular da Coreia do Sul, Kim Gi-hyeon, reforçou os pedidos de desculpas nesta segunda-feira (7) e reconheceu que o evento não está sendo tranquilo. Ele propôs uma investigação para apurar se o dinheiro dos participantes foi investido de forma adequada nos preparativos para o Jamboree.

Já o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, determinou a mobilização de equipes de emergência e solicitou a aprovação de 6 bilhões de wons (R$ 22,3 milhões) para reforçar a estrutura do evento.

O Jamboree é um festival de uma semana com apresentações culturais e atividades ao ar livre. Um show de um grupo de k-pop que aconteceria no acampamento no domingo (6) foi adiado para a próxima sexta-feira, mas o novo local ainda não foi definido devido à passagem do tufão Khanun.

O Khanum deve atingir a Coreia do Sul após outro tufão, o Doksuri, provocar inundações e destruição na Ásia. A China foi o país mais atingido, e pelo menos 34 pessoas morreram no norte do gigante asiático após as tempestades mais intensas em 140 anos, segundo autoridades locais.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

A Ásia foi o continente mais afetado, contabilizando mais de 3.400 desastres nesse período, responsáveis por quase 1 milhão de mortes. Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), diz que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi gerada por ação humana.

Com Reuters

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