Em horas, fogo transformou em cinzas séculos de história de cidade atingida no Havaí

Antiga capital de reino indígena abriga objetos anteriores à chegada de cristãos e foi destruída por incêndio florestal

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Shawn Hubler
The New York Times

Muitos turistas encaram a cidade de Lahaina como um lugar a ser visitado para curtir praias tropicais.

Mas para os havaianos, ela é um fértil tesouro histórico. Seu museu histórico, que ocupa o recinto de um tribunal também histórico, abriga artefatos de antes de o resto do mundo saber que o Havaí existia.

Sua construção mais antiga, Baldwin Home, era ocupada por um médico do século 19 que salvou o Maui de uma epidemia de varíola. A atração central da cidade, uma enorme figueira-de-bengala de 150 anos de idade, foi plantada para comemorar a chegada de missionários cristãos em 1873.

Cidade de Lahaina, no Havaí, devastada por incêndio; no centro, uma antiga figueira-de-bengala, grande árvore histórica do local, foi fustigada pelas chamas
Cidade de Lahaina, no Havaí, devastada por incêndio; no centro, uma antiga figueira-de-bengala, grande árvore histórica do local, foi fustigada pelas chamas - Patrick T. Fallon/AFP

Na última quarta-feira (9), esse legado e muito mais parecia ter sido reduzido a cinzas, consumido por incêndios alimentados por furacões que devastaram a ilha de Maui, arrasando em questão de horas boa parte do distrito histórico de Lahaina, no passado a capital real do Havaí.

"Não tivemos preparo, nenhum aviso prévio, nada", disse Theo Morrison, diretor-executivo da Fundação de Restauração de Lahaina, que cuida de mais de uma dúzia de sítios históricos da cidade. Moradora de longa data da cidade e mãe de um bombeiro que a vem mantendo informada sobre a destruição, ela falou de um aeroporto da Costa Leste dos EUA na quarta-feira. Ela havia deixado o Maui um dia antes de os incêndios começarem, na noite de terça, para viajar à Europa para cuidar de negócios da família.

"Se eu soubesse o que ia acontecer, não teria partido", disse Morrison. Atiçados pelo vento, os incêndios consumiram áreas próximas cobertas de capim e devastaram a cidade histórica e turística.

A julgar por fotos de veículos noticiosos, a mansão Baldwin Home, onde fica o escritório principal da fundação, foi totalmente incinerada. A primeira parte dela a pegar fogo foi o telhado, disse Morrison.

A casa continha cadeiras de balanço de madeira que a família do reverendo Dwight Baldwin enviou de navio da casa dela, na Costa Leste dos EUA, na década de 1830, além da coleção de conchas antigas do filho da família e de instrumentos médicos que Baldwin, que era missionário e também médico, usou para vacinar boa parte da população da ilha contra a varíola.

"O telhado do Tribunal Antigo de Lahaina está completamente destruído", disse Morrison. "E o belo museu histórico que tínhamos ali, também. O andar de cima tinha artefatos havaianos antigos, coisas da monarquia e dos períodos da monocultura e da caça às baleias –objetos de todas as eras de Lahaina."

Cidade de Lahaina, no Havaí, antes e depois de incêndios florestais

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Ao menos 36 pessoas morreram e milhares foram retirados de localidade turística e histórica na ilha de Maui - Maxar Technologies via Reuters e AFP

Ela disse que a maioria dos documentos importantes do museu foi preservada online. Ela espera que, quando os incêndios se acalmarem, a ilha consiga restaurar pelo menos algumas das construções destruídas. Mas ela está se preparando para encarar perdas enormes.

"Esta é a coisa mais destrutiva que aconteceu em toda a história desta cidade", disse Morrison.

Tradução de Clara Allain

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