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Junta militar do Níger nomeia premiê civil, mas ignora propostas de diálogo

Cúpula que deu golpe no país africano impediu visita de delegação do bloco regional após sanções econômicas

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São Paulo

Após ignorar o prazo para restituir o poder ao presidente deposto há quase duas semanas, a junta militar que deu um golpe de Estado no Níger rejeitou propostas de diálogo de seus vizinhos da África Ocidental e dos Estados Unidos.

Os militares afirmaram nesta terça-feira (8) que não podem receber uma delegação da Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) por questões de segurança. Uma diplomata dos EUA, por sua vez, foi impedida de se encontrar com o presidente eleito, Mohamed Bazoum, que segue em prisão domiciliar.

Por outro lado, a cúpula militar enviou uma mensagem ambígua ao nomear um premiê civil, o ex-ministro das Finanças Ali Mahaman Lamine Zeine —medida interpretada por alguns como um primeiro passo para um possível governo de transição e por outros como uma intenção de permanecer no poder.

Em Niamey, vendedor ambulante empurra seu carrinho ao lado de carros queimados em frente à sede do partido do presidente deposto - 7.ago.23/AFP

"O contexto atual de indignação e irritação após as sanções impostas pela Cedeao não nos permite receber essa delegação em condições de serenidade e segurança", disse o Ministério das Relações Exteriores do Níger em resposta à intenção do bloco de visitar a capital nesta terça, dois dias antes de uma reunião em Abuja, capital da Nigéria, para tratar da crise.

Já os EUA conseguiram enviar um representante para Niamey —a número dois da diplomacia americana, Victoria Nuland. A diplomata teve nesta segunda (7) conversas "francas e difíceis" durante uma reunião de duas horas na capital do país africano, segundo ela descreveu em uma entrevista coletiva por telefone nesta terça, antes de sair de Niamey.

Embora tenha se encontrado com Brig Gen Moussa Salaou Barmou, chefe de gabinete militar, Nuland foi impedida de se reunir com Gen Abdourahamane Tiani, autoproclamado líder do Níger, e Bazoum, o presidente eleito. A diplomata afirmou ainda que a junta foi pouco receptiva a um caminho de negociação.

Segundo ela, os EUA se mostraram disponíveis para mediar negociações se houver desejo de retornar a uma ordem constitucional "Não diria, de forma alguma, que essa oferta foi aceita", continuou. "Espero que eles mantenham a porta aberta à diplomacia. Nós fizemos essa proposta. Vamos ver."

O empenho internacional na normalização democrática do Níger reflete a importância geopolítica do país africano, que tem importantes reservas de urânio e petróleo e abriga cerca de 1.500 soldados franceses e mil soldados americanos empenhados no combate aos jihadistas na região do Sahel.

Desde o dia 26 de julho, quando a Guarda Presidencial prendeu o presidente eleito e tomou o poder, o Níger sofreu sanções financeiras da Cedeao e viu as ajudas financeiras da Europa e dos EUA, essenciais a um dos países mais pobres do mundo, diminuírem.

Em comícios pró-golpe em Niamey, nos quais é comum ver bandeiras da Rússia, alguns participantes descrevem a situação como uma batalha patriótica da ex-colônia francesa para manter sua independência diante da interferência imperialista.

Em entrevista divulgada nesta terça, o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, afirmou que mercenários russos do Grupo Wagner tentam se aproveitar da instabilidade no país.

"Acho que o que aconteceu, e o que continua acontecendo no Níger, não foi instigado pela Rússia ou pelo Wagner, mas eles tentaram se aproveitar", afirmou o diplomata à rede britânica BBC. "Aonde quer que o Grupo Wagner tenha ido, a morte, a destruição e a exploração o acompanharam."

Durante a reunião no Níger, Nuland disse ter alertado a junta militar para as consequências na relação com os EUA caso o grupo mercenário comece a atuar no país, como aconteceu no Mali. "As pessoas que tomaram essa atitude entendem muito bem os riscos à soberania quando o Wagner é convidado a entrar."

Dos 15 países-membros da Cedeao, quatro estão suspensos devido a golpes militares —Guiné, Burkina Fasso, Mali e, mais recentemente, Níger. O bloco afirmou que não toleraria novas derrubadas de governos na região e deu um ultimato aos militares nigerinos para que devolvessem o poder a Bazoum, sob ameaça de intervenção no país.

O prazo expirou no domingo (6), mas não houve reprimendas militares. Nesta terça, o porta-voz do presidente da Nigéria, Bola Tinubu, disse que prefere resolver o impasse pela via diplomática, mas não descarta nenhuma opção. "A diplomacia é o melhor caminho e, assim como seus colegas, preferiria alcançar uma solução por meios diplomáticos, pacíficos, antes de qualquer outro", afirmou.

Com AFP

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