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Maior tragédia climática do Havaí deixa 80 mortos e perguntas sem respostas

Causa do incêndio ainda não foi identificada após três dias, e não se sabe se alertas a moradores de Lahaina funcionaram

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Marco Garcia Mike Blake
Maalaea (Havaí) | Reuters

Autoridades do Havaí ainda tentam determinar o que causou o incêndio florestal que engoliu grande parte de Lahaina, na ilha de Maui, com velocidade aterrorizante e sem aviso prévio, deixando 80 mortos até o momento —o número foi atualizado pela última vez na noite desta sexta (11).

À medida que equipes de busca vasculhavam destroços carbonizados da cidade com a ajuda de cães farejadores, esperava-se o aumento do total de mortes. O incêndio consumiu cerca de 1.000 prédios e deixou milhares desabrigados no que as autoridades afirmam ser o pior desastre natural na história do estado.

"Sem dúvida, haverá mais vítimas. Não sabemos, em última análise, quantas terão ocorrido", disse o governador do Havaí, Josh Green, à rede CNN, quando a cifra estava em 59.

Carros e prédios carbonizados na rua da orla de Lahaina, na ilha de Maui, no Havaí, após incêndio florestal devastar a cidade
Carros e prédios carbonizados na rua da orla de Lahaina, na ilha de Maui, no Havaí, após incêndio florestal devastar a cidade - Justin Sullivan - 11.ago.23/Getty Images via AFP

Em 1960, um tsunami considerado uma das piores catástrofes naturais a atingir o arquipélago, deixou 61 mortos. A cifra do desastre atual nas ilhas do Pacífico se aproxima do incêndio mais mortal dos últimos anos nos EUA, ocorrido na Califórnia, em 2018, com 85 óbitos.

Três dias após o desastre, ocorrido na quarta-feira (9), ainda não está claro se parte dos moradores de Lahaina recebeu algum aviso antes que o fogo tomasse conta de suas casas.

A ilha possui sirenes de emergência destinadas a alertar sobre desastres naturais e outras ameaças, mas aparentemente elas não soaram durante o incêndio.

As autoridades não ofereceram, até o momento, um quadro detalhado do que exatamente foi notificado e se isso foi feito por mensagem de texto, e-mail ou ligações telefônicas.

O chefe dos Bombeiros do condado de Maui, Bradford Ventura, disse em uma entrevista coletiva na quinta-feira (10) que a velocidade do incêndio tornou "quase impossível" a comunicação entre os socorristas da linha de frente e os responsáveis pelo gerenciamento de emergências, que normalmente forneceriam ordens de evacuação em tempo real. Ele também observou que o serviço de telefonia celular foi interrompido.

"Basicamente, a população estava se deslocando por conta própria com aviso bastante limitado", disse ele, referindo-se aos moradores do primeiro bairro atingido.

O prefeito do condado, Richard Bissen, disse à rede NBC nesta sexta que não sabia se as sirenes foram acionadas, mas disse que o fogo se espalhou extraordinariamente rápido.

O desastre começou logo após a meia-noite de terça-feira, quando um incêndio em vegetação foi relatado na cidade de Kula, distante cerca de 56 km de Lahaina. Por volta de cinco horas depois, a energia foi cortada em Lahaina, de acordo com os moradores.

Em atualizações no Facebook naquela manhã, o Condado de Maui informou que o incêndio em Kula havia consumido centenas de acres de pastagens, mas que um pequeno incêndio de três acres (1,2 hectares) que surgiu em Lahaina havia sido contido.

Porém, naquela tarde, a situação ficou mais grave. Por volta das 15h30, de acordo com as atualizações do condado, o incêndio em Lahaina se intensificou de repente. Alguns moradores começaram a fugir, enquanto pessoas na parte oeste da cidade, incluindo turistas em hotéis, foram instruídas a se abrigar no local.

Nas horas seguintes, o perfil do condado no Facebook publicou uma série de ordens para que a população deixasse a região à medida que o incêndio se espalhava pela cidade.

Testemunhas afirmaram que tiveram pouco aviso prévio, e descreveram seu terror quando o fogo consumiu Lahaina em questão de minutos. Várias pessoas foram forçadas a pular no oceano Pacífico para se salvar.

A retirada de pessoas se complicou em razão de sua localização costeira e próxima a colinas, o que significa que havia apenas duas maneiras de sair, disse Andrew Rumbach, especialista em clima e comunidades no Urban Institute, em Washington.

"Este é o cenário de pesadelo", disse Rumbach, ex-professor de planejamento urbano na Universidade do Havaí. "Um incêndio de rápido deslocamento em um local densamente povoado com comunicações difíceis e poucas opções boas em termos de retiradas emergenciais." A ilha conta com seis abrigos em operação para os deslocados.

Autoridades do condado informaram que os moradores de Lahaina seriam autorizados a retornar para verificar suas propriedades na tarde de sexta, mas que um toque de recolher passaria a valer a partir das 22h, hora local. Grande parte do lado oeste de Maui ainda está sem fornecimento de energia e água.

Fila de carros de pessoas que tentam retornar a Lahaina pela primeira vez após o incêndio
Fila de carros de pessoas que tentam retornar a Lahaina pela primeira vez após o incêndio - Alan Devall - 11.ago.23/Reuters

Cerca de 12.400 residências e empresas estão sem energia nesta sexta, de acordo com o condado de Maui. Três hotéis da rede Marriott foram fechados também devido a cortes de no fornecimento de luz, e hóspedes foram retirados.

Voluntários se reuniram no porto de Maalaea para transportar fraldas, roupas, combustível e outros suprimentos para barcos, que os levam para a praia em jetskis cedidos pela indústria turística da região, diante de mar agitado e cais danificados pelo fogo.

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