Mortos no Havaí vão a 101, e moradores se frustram sem notícia de familiares e acesso

Buscas continuam, e autoridades impedem retorno a partes da cidade; Biden diz que visitará o estado 'assim que possível'

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Kahului (Havaí) | Reuters

Subiu para 101 o número de mortos após o incêndio florestal que devastou a cidade de Lahaina, em Maui, no Havaí, na última quarta (9), de acordo com autoridades. Uma semana após a catástrofe, moradores traumatizados se mostram cansados com a dependência de suprimentos de ajuda, enquanto muitos ainda são impedidos de inspecionar suas casas e aguardam notícias de familiares desaparecidos.

Palmeiras queimadas e veículos destruídos após incêndio em Lahaina, no Havaí
Palmeiras queimadas e veículos destruídos após incêndio em Lahaina, no Havaí - Moses Slovatizki - 11.ago.23/AFP

A magnitude do incêndio, que carbonizou uma área de 13 km² da cidade em questão de horas, combinada com os desafios logísticos da recuperação, tem impactado os 13 mil residentes de Lahaina, que também enfrentam a perspectiva de fuga dos valiosos dólares vindos do turismo, motor econômico local.

No momento, poucos moradores conseguem permissão para retornar às suas propriedades em Lahaina. O condado de Maui havia relaxado brevemente as restrições, mas suspendeu visitas no início da semana, após curiosos congestionarem ruas usadas pelas equipes de resgate. Uma pessoa foi presa por invasão.

Enquanto isso, os socorristas usam cerca de 20 cães farejadores em buscas em meio a cinzas, cobrindo cerca de um quarto da área do desastre até segunda (14), disse o chefe de polícia de Maui, John Pelletier.

Nesta terça, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que pretende ir "assim que possível" ao Havaí, mas que "não gostaria de atrapalhar". "Quero ir e certificar que temos tudo que precisamos. Quero garantir que não vamos perturbar os esforços de resgate." Para o governador do Havaí, Josh Green, "ele não quer interferir no trabalho feito na zona do desastre, que tem sido incrivelmente difícil emocional e fisicamente."

Mesmo com doações e promessas de recursos do estado e do governo federal para ajudar na recuperação, Kanamu Balinbin, um treinador de futebol local, montou um acampamento de auxílio para que pessoas que perderam suas casas e pertences possam encontrar água e comida.

"Fiquei arrasado. Me considero um líder forte, mas isso me destruiu", diz Balinbin após testemunhar a destruição. "Isso é o que me mantém em pé: ajudar as pessoas. Muitos de nós estamos nessa fase."

Ele afirmou que parte da frustração local deriva da percepção de longa data de que a ilha de Maui não recebe atenção suficiente do governo estadual, apesar das robustas receitas vindas do turismo.

Mary Kerstulovich, corretora de imóveis de Maui que tem buscado suprimentos e moradias para deslocados da região, diz que Lahaina ainda precisa de um plano mais eficaz para obter mercadorias. "Ainda há muita confusão. As pessoas ainda precisam de mantimentos."

O incêndio da semana passada destruiu ou danificou, em poucas horas, mais de 2.200 edifícios, 86% dos quais residenciais, e causou um prejuízo estimado de US$ 5,5 bilhões (R$ 27,3 bilhões). O fogo também reduziu a cinzas um patrimônio histórico da localidade, que foi capital do reino do Havaí no século 19.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi provocada pela ação humana.

O incêndio florestal em Maui tornou-se o mais letal dos EUA em mais de cem anos, ultrapassando os 85 mortos que um só incêndio vitimou na cidade de Paradise, na Califórnia, em 2018, e é o maior em uma catástrofe do tipo no país desde 1918, quando 453 pessoas morreram em Minnesota e Wisconsin.

O episódio ainda é o desastre natural mais letal do próprio Havaí, superando um tsunami que matou 61 pessoas em 1960, um ano depois que o território se tornou um estado americano.

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