Descrição de chapéu China machismo

Ativista pelos direitos das mulheres na China é julgada por 'incitar subversão'

Sophia Huang Xueqin ajudou a difundir no país o #MeToo, movimento global contra o assédio

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Pequim | Reuters

A jornalista e ativista Sophia Huang Xueqin, considerada uma das principais feministas da China, começou a ser julgada nesta sexta-feira (22) sob a acusação de "incitar a subversão do Estado". Ela está presa desde setembro de 2021, quando foi detida após receber uma bolsa para estudar no Reino Unido.

Huang ajudou a difundir em seu país o #MeToo, movimento global contra o assédio que começou nos Estados Unidos. Ela ficou conhecida por organizar campanhas e prestar assistência a mulheres vítimas de agressão sexual. Jornalista independente, também se notabilizou pela cobertura dos protestos pró-democracia em 2019 que levaram milhões de pessoas às ruas de Hong Kong.

Policiais dispersam protesto pró-democracia em Hong Kong, em 2020
Policiais dispersam protesto pró-democracia em Hong Kong, em 2020 - Tyrone Siu - 6.set.20/Reuters

A acusação de subversão é utilizada com frequência contra dissidentes pelo regime chinês e pode render penas de até cinco anos de prisão. Pessoas consideradas líderes de movimentos rebeldes ou responsabilizadas por crimes graves podem, no entanto, receber sentenças ainda mais duras. As autoridades não divulgaram detalhes sobre o processo contra Huang.

Wang Jianbing, ativista pelos direitos trabalhistas na China, também responde na mesma sessão à acusação de subversão estatal. Ele e Huang foram capturados juntos há dois anos a caminho do aeroporto de Guangzhou, no sul do país. Uma porta-voz do grupo #MeToo disse que as acusações se baseiam em encontros da dupla com jovens chineses, durante os quais foram discutidos temas sociais.

Diplomatas de vários países ocidentais, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Holanda, tentaram acompanhar o julgamento como observadores, mas relatam ter sido impedidos pelas autoridades chinesas. "Ninguém deveria ser preso e levado a julgamento por exercer os seus direitos fundamentais", disse a chancelaria britânica em comunicado.

Grupos que atuam em defesa dos direitos humanos dizem que os ativistas foram submetidos à tortura e ficaram confinados por vários meses. A polícia local não respondeu aos pedidos de comentários feitos pela agência de notícias Reuters.

As prisões motivaram protestos em favor dos ativistas em Londres, Taipé e Hong Kong. Os manifestantes também lançaram a campanha #FreeXueBing, na qual pedem a apoiadores que enviem cartões postais ao centro de detenção de Guangzhou peindo a libertação da dupla. Entidades como a Anistia Internacional e outras ONGs também pediram a Pequim que retire as acusações.

O caso ainda estimulou debates sobre a responsabilidade das instituições estrangeiras na proteção dos estudantes chineses. Apoiadores de Huang acusam o programa de bolsas britânico de não se manifestar por medo de antagonizar com Pequim. Estudantes chineses representam cerca de 20% das matrículas internacionais da instituição em que ela pretendia estudar, a Universidade de Sussex, e suas mensalidades —juntamente com parcerias com instituições do país asiático— fornecem um importante fluxo de receita.

Relatório do centro de pesquisas Freedom House publicado em abril aponta a China como líder do ranking de repressão contra dissidentes no exterior. De todos os incidentes registrados pela organização, 30% foram atribuídos a Pequim. Segundo o documento, o regime chinês usa diferentes táticas para obter informações de exilados, entre as quais a contratação de investigadores particulares e a formalização de acusações contra seus alvos.

Há anos o Partido Comunista Chinês promove a igualdade de gênero como um de seus princípios fundamentais, mas, segundo críticos, Pequim tem feito pouco para atender ao clamor pela responsabilização daqueles responsáveis por atos de violência contra mulheres. Em vez disso, temendo a agitação social, vem usando censores nas redes sociais para sufocar críticas e promover comentários que apoiam a narrativa de harmonia social.

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