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Boric propõe lei para limitar 'narcofunerais', cortejos em homenagem a traficantes

Caravanas com tiros e fogos de artifício travam ruas e obrigam escolas a fechar em cidades no Chile

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Boa Vista

O presidente do Chile, Gabriel Boric, vai propor ao Congresso do país um projeto de lei que limita a duração do chamados "narcofunerais", cortejos em homenagem a traficantes e criminosos mortos que têm assustado a população em diversas cidades.

Boric afirma que entre maio de 2019 e setembro de 2023, cerca de 1.733 eventos do tipo ocorreram no país. Os narcofunerais são caravanas de carros que travam o trânsito e durante as quais os presentes soltam fogos de artifício e atiram com armas de fogo para o alto.

Policiais fazem guarda do lado de fora do velório de um criminoso em Santiago, no Chile
Policiais fazem guarda do lado de fora do velório de um criminoso em Santiago, no Chile - Javier Torres - 24.abr.23/AFP

A proposta do Executivo vai propor limites às cerimônias: no máximo 24 horas de duração, apenas dentro de espaços funerários, como cemitérios e crematórios, e com restrição de participantes. O objetivo seria "limitar o espaço de atuação das organizações criminosas que realizam o funeral e assim proteger a tranquilidade e a segurança nos espaços públicos".

"Por maior que seja a legítima tristeza causada pela perda de um ente querido, não é aceitável que um funeral obrigue um bairro inteiro a paralisar, a suspender aulas, a fechar ruas. Não queremos mais escolas fechadas devido ao medo gerado por este tipo de atos", afirmou Boric durante o anúncio do projeto, na sede do governo, em Santiago.

As restrições, segundo o presidente, vão "otimizar recursos humanos e econômicos" e facilitar a fiscalização dos funerais. Devido ao tamanho, aos locais e ao risco dos eventos, a polícia precisa fazer escolta —o que não impede os tiros ao alto e os fogos de artifício.

Os responsáveis por definir se uma cerimônia se encaixa nas características de um narcofuneral serão os governadores da região onde o evento acontece, com base em relatórios de risco feitos pela polícia a partir de três características: antecedentes criminais do falecido, a relação dele com facções e quantos familiares diretos também têm antecedentes criminais.

Em março deste ano, por causa de um narcofuneral, quinze escolas e universidades na região de Valparaíso (a cerca de 100 km de Santiago) tiveram que suspender aulas. Na ocasião, uma fileira de carros percorreu partes da cidade homenageando um homem apelidado de Ñaju, que foi morto a tiros em frente a uma escola. Ele estava estacionado em um carro quando três pessoas se aproximaram dele em outro veículo e atiraram ao menos 20 vezes, segundo o jornal El País.

Desde junho, governo chileno destruiu oito chamados "narcomausoléus" em oito cidades do país. O termo se refere a monumentos ou memoriais levantados por famílias, amigos e integrantes de facções em espaços públicos. "Não vamos naturalizar a cultura narcotraficante", afirmou também Boric no anúncio do projeto de lei.

O Chile passa hoje por grave crise na segurança pública, um dos grandes problemas enfrentados pelo governo de esquerda de Gabriel Boric. Em 2022, primeiro ano de mandato do presidente, o "índice de temor", que mede percepção de insegurança pública com dados da Fundação Paz Cidadã, atingiu 28%, a maior cifra desde 2000.

Embora a percepção de insegurança seja grande, dados indicam que o número de delitos em si não aumentou tanto. O que tem ocorrido é um incremento de crimes violentos, algo a que o Chile não está acostumado. No primeiro semestre de 2022, a quantidade de homicídios no país aumentou 28,7% em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com a Subsecretaria de Prevenção ao Delito.

Com AFP

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