Descrição de chapéu África imigrantes

Confronto entre eritreus pró e contra ditadura deixa mais de cem feridos em Israel

Cerca de 25 mil cidadãos da nação africana vivem no país do Oriente Médio e temem perseguição caso sejam repatriados

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Tel Aviv | Reuters

Ao menos 114 pessoas ficaram feridas na cidade de Tel Aviv durante confrontos entre imigrantes apoiadores do regime da Eritreia e opositores ao ditador Isaias Afwerki neste sábado (2).

A polícia israelense disparou granadas de efeito moral para conter o conflito, em que manifestantes atiravam pedras, ateavam fogo em lixeiras e destruíam lojas e carros, de acordo com relato de repórteres da agência Reuters no local. Imagens nas redes sociais mostram apoiadores da ditadura eritreia batendo em opositores com cacetetes.

Homem ferido durante confronto entre solicitantes de asilo da Eritreia em Tel Aviv
Homem ferido durante confronto entre solicitantes de asilo da Eritreia em Tel Aviv - Moti Milrod/Reuters

Cerca de 25 mil cidadãos da Eritreia, país localizado no nordeste de África, vivem hoje em Israel em busca de asilo, de acordo com a Assaf, organização voltada a refugiados. Muitos, que chegam ao país do Oriente Médio por meio da fronteira com o Egito, afirmam que enfrentarão perseguição caso sejam enviados de volta a seu país de origem

Após o episódio, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, anunciou que vai decidir em breve sobre medidas contra os manifestantes, incluindo a deportação, de acordo com informação do Haaretz.

Autoridades médicas disseram que 114 pessoas receberam atendimento, incluindo ao menos 30 policiais. Segundo o Times of Israel, o número de feridos ultrapassou 150. O Centro Médico Ichilov, em Tel Aviv, que atendeu uma parte dos casos, informou que 14 indivíduos estavam gravemente feridos, dos quais 11 apresentavam ferimentos por disparos de arma de fogo. Também havia casos de pacientes que foram esfaqueados ou atingidos na região da cabeça.

Ainda de acordo com o jornal, comerciantes da região descreveram o cenário como uma "zona de guerra". Foram presos 39 suspeitos.

Uma celebração organizada pela embaixada da Eritreia para marcar o Dia da Revolução, celebrado em 1º de setembro para relembrar o início da Guerra de Independência em 1961, desencadeou o episódio. Os conflitos começaram quando opositores da ditadura africana protestavam no endereço em que o evento estava marcado.

Eritreus apoiadores e contrários ao regime se atacaram em um episódio violento que durou horas. Muitos usaram pedaços de madeira, pedras e até um machado, causando destruição em um bairro ao sul de Tel Aviv. Vitrines de lojas e carros da polícia foram atacados, e manchas de sangue podiam ser vistas nas calçadas.

Centenas de policiais foram enviados para reforçar o monitoramento da região. Outros episódios de violência envolvendo a comunidade de imigrantes eritreus já aconteceram. Em 2019, um apoiador da ditadura africana foi esfaqueado e espancado até a morte por três oponentes do regime eritreu em Tel Aviv.

Eritreus que buscam asilo em Israel enfrentam um futuro incerto no país, onde membros linha-dura do governo direitista se mostram contrários a sua presença.

O ditador Isaias Afwerki lidera a Eritreia desde 1993, quando a nação conquistou sua independência —ele mesmo foi um dos nomes que liderou a guerra de emancipação contra a Etiópia, ratificada por um referendo. Mesmo depois da independência, porém, Eritreia e Etiópia viveram décadas de hostilidade.

De 1998 a 2000 ocorreram conflitos em torno de territórios na fronteira dos dois países que deixaram ao menos 80 mil mortos. Apenas em 2018 foi selado um acordo de paz sobre a questão, que rendeu ao então premiê etíope, Abiy Ahmed, o Nobel da Paz de 2019 —depois disso, entretanto, a Etiópia afundou em um novo e sangrento conflito com rebeldes na região do Tigré.

A Eritreia, que está sob sanção dos Estados Unidos e da União Europeia, é acusada por grupos de direitos humanos de ter um regime altamente repressivo. O país também figura no topo do ranking mundial de censura à imprensa. A ditadura baniu todos os veículos noticiosos independentes em 2001, mesmo ano no qual prendeu diversos jornalistas. A maioria não teve direito a julgamento.

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