Irã tem ameaçado família de Mahsa Amini, diz rede de ativistas 1 ano após morte

Organização curda afirma que pai da jovem teria sido detido e por mais de uma vez interrogado por agentes do regime

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São Paulo

O pai da jovem curda Mahsa Amini, cuja morte, há um ano, despertou uma onda de protestos contra o regime do Irã, teria sido detido pela polícia local e pressionado a não mais incentivar protestos, disse neste sábado (16) um grupo de ativistas à agência Reuters.

Segundo a Rede de Direitos Humanos do Curdistão —Mahsa Amini era curda—, Amjad foi detido e depois liberado durante atos que marcam a morte da jovem enquanto estava sob custódia da polícia em Teerã por supostamente não usar o véu islâmico da forma considerada correta.

Manifestante segura cartaz com ilustração do rosto de Mahsa Amini durante ato em apoio aos protestos de iranianos na embaixada do país em Bruxelas
Manifestante segura cartaz com ilustração do rosto de Mahsa Amini durante ato em apoio aos protestos de iranianos na embaixada do país em Bruxelas - Kenzo Tribouillard - 23.set.22/AFP

A rede afirma ainda que as ameaças contra o pai de Mahsa Amini se tornaram frequentes. Em uma nota em seu site oficial, diz que Amjad foi convocado e interrogado pelo Ministério de Inteligência em Saqqez, na província do Curdistão, quatro vezes ao longo das últimas duas semanas. Segundo o relato, ele teria sido pressionado a desincentivar planos de protestos no marco de um ano da morte da filha.

Antes, ele e a esposa haviam compartilhado uma mensagem nas redes sociais afirmando que reuniriam a família no túmulo da filha no aniversário "de seu martírio" para cerimônias tradicionais e religiosas.

Ainda de acordo com a rede de ativistas, o regime teocrático teria dito que poderia deter o outro filho do casal, Ashkan, irmão de Mahsa, caso esses planos fossem colocados em prática.

Horas após as denúncias públicas, a Irna, a agência de notícias oficial do regime iraniano, divulgou versão distinta, na qual afirma que agentes de segurança teriam detido um grupo de pessoas que planejava matar Amjad Amini neste sábado.

A morte de Mahsa Amini em 15 de setembro de 2022 foi estopim para uma das maiores ondas de protestos no Irã nas últimas décadas. Os atos desafiaram o regime presidido por Ebrahim Raisi e liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, que respondeu com repressão.

A ONU criticou a resposta oficial, e especialistas independentes disseram que o regime usava o episódio como desculpa para oficializar a prática de violência contra as mulheres. O regime, por sua vez, culpou o que chama de vândalos pelos protestos e disse que a insatisfação era uma resposta às sanções internacionais.

A resposta internacional segue um ano após a morte. O governo do Reino Unido, por exemplo, anunciou nesta sexta-feira (15) sanções contra várias autoridades iranianas descritas como "responsáveis pelo planejamento e pela aplicação da lei sobre o uso obrigatório do hijab".

A ação foi coordenada com Estados Unidos, Canadá e Austrália e atinge figuras como o ministro da Cultura iraniano, Mohamad Mehdi Esmaili, e seu vice, Mohamad Hashemi, além do prefeito da capital Teerã, Alireza Zakani, e o porta-voz da polícia Saed Montazer Al Mahdi.

Em nota, o chanceler britânico, James Clevery, disse que as sanções "enviam uma mensagem clara de que Londres e seus parceiros seguem apoiando as mulheres iranianas". Ele também saudou "a bravura das mulheres iranianas que lutam pelas liberdades fundamentais".

Em resposta, o porta-voz da chancelaria iraniana chamou as ações de "ilegais, pouco diplomáticas, ridículas e hipócritas", afirmando que as sanções são uma maneira de intervenção na política doméstica e que, com isso, a diplomacia ocidental mostra um comportamento "pouco construtivo".

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os manifestantes iranianos protestam por "democracia e dignidade humana básica" e que seu governo "seguirá fornecendo ferramentas para apoiar a capacidade dos iranianos de defenderem o seu próprio futuro".

Nos protestos que se seguiram à morte de Amini, mais de 500 pessoas, incluindo 71 menores de idade, foram mortas, centenas ficaram feridas e milhares foram presas, segundo grupos de defesa dos direitos humanos. O Irã realizou sete execuções ligadas aos atos.

Num relatório publicado no mês passado, a ONG Anistia Internacional afirmou que as autoridades iranianas "têm submetido as famílias das vítimas a prisões e detenções arbitrárias, impondo restrições cruéis às reuniões pacíficas em túmulos e destruindo as lápides das vítimas".

Com Reuters

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