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Junta militar do Mali adia eleições pela segunda vez e não anuncia nova data

Comprometimento com pleito de fevereiro de 2024 foi motivo para bloco regional aliviar sanções contra o país africano

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São Paulo

A junta militar do Mali anunciou nesta segunda-feira (25), pela segunda vez, o adiamento de eleições presidenciais que devolveriam o poder aos civis. Não foi apresentada imediatamente uma nova previsão para o pleito —o que, segundo os militares, será feito em breve.

As datas originalmente planejadas para o primeiro e segundo turnos, 4 e 18 de fevereiro de 2024, respectivamente, serão alteradas "por razões técnicas", disse o porta-voz do regime, o coronel Abdoulaye Maïga, em Bamaco, capital do país africano.

Assimi Goita, líder da junta militar do Mali, participa da reunião da Cedeao - Francis Kokoroko - 15.set.20/Reuters

A transição será feita "exclusivamente por eleições presidenciais", segundo um comunicado dos militares, decisão que enterra a possibilidade de renovar o Legislativo antes de um pleito para escolher o presidente.

Entre as justificativas estão a revisão das listas eleitorais e a adaptação a mudanças na Constituição. As alterações na Carta do país, aprovadas por 97% dos eleitores na votação de junho, haviam aberto caminho para o retorno a um governo civil.

Embora algumas das cláusulas tenham despertado desconfiança da oposição, para quem as mudanças deram muito poder ao presidente, órgãos regionais consideraram a votação um teste importante da disposição da junta para fazer a transição.

"Nada explica o adiamento das eleições presidenciais", afirmou Amadou Koita, presidente do Partido Socialista Yeleen-Kura do Mali, segundo a agência Associated Press.

Em agosto de 2020, o então presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, renunciou após militares amotinados o prenderem, bem como o premiê, Boubou Cissé.

O golpe aconteceu após meses de protestos antigoverno que tomaram as ruas de Bamaco. Os manifestantes reclamavam da corrupção no governo, da crise econômica e da ineficiência da coalizão que tenta combater os extremistas islâmicos no norte do país.

Os atos se mantinham pacíficos até a polícia reprimir os manifestantes, deixando dezenas de mortos. A partir de então, o movimento passou a pedir a renúncia do presidente. A Cedeao (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) tentou apaziguar a situação em três oportunidades. Na última antes do golpe, após uma conferência extraordinária com todos os Estados-membros, o bloco fez recomendações para pacificar a oposição e os manifestantes.

Entre elas estava a formação de um governo de união nacional que incluísse a oposição e a renúncia de 31 deputados eleitos após controversa decisão do Tribunal Constitucional que favoreceu o governo de Keita, além da recomposição do próprio tribunal, dissolvido em resposta aos atos. O governo tentou colocar as recomendações em prática, mas a oposição não cedeu e seguiu pedindo a queda do presidente.

Em maio do ano seguinte, um novo golpe deteve os três principais nomes do governo de transição, aprofundando a instabilidade política.

No final de 2021, a junta disse que não conseguiria realizar as eleições marcadas para fevereiro de 2022, o que acarretou sanções da Cedeao. As restrições haviam sido aliviadas com o comprometimento dos militares com novas eleições em fevereiro de 2024 —agora adiadas.

O bloco tem tentado aumentar o tom contra seus membros após a onda de golpes na região. Após as rupturas no Mali e em Burkina Fasso, o grupo disse que não toleraria novas derrubadas de governos entre seus integrantes. Desde então, porém, o Níger se juntou à lista. A incerteza em relação às eleições é um sentimento que atravessa a maioria desses países.

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