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Egito marca eleições para dezembro sem alternância de poder à vista

Mudanças na lei promovidas por Sisi, que assumiu no rescaldo de golpe militar em 2014, permitem que ele governe até 2036

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Cairo | Reuters

O Egito divulgou nesta segunda-feira (25) a data de suas eleições à Presidência deste ano —10 a 12 de dezembro. A expectativa, contudo, é que o atual líder do país, Abdel Fattah al-Sisi, seja reconduzido à função pela terceira vez, aprofundando o autoritarismo que já marca sua gestão.

Sisi foi um dos mentores do golpe militar que derrubou o governo do então presidente Mohamed Mursi, primeiro chefe de Estado egípcio eleito democraticamente, em 2013. No ano seguinte, o marechal declarou-se presidente com cerca de 92% dos votos — o pleito restringiu a oposição, e a sigla de Mursi, a Irmandade Muçulmana, tornou-se ilegal após sua queda.

Outdoor de apoio ao líder Abdel Fattah al-Sisi em Cairo, no Egito - Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Opositores foram novamente impedidos de concorrer em 2018. O principal rival de Sissi à época foi preso, e os demais nomes da corrida desistiram de suas candidaturas alegando sofrer intimidações. No final, o maior oponente era um grande apoiador seu, e o militar foi mais uma vez eleito presidente, desta vez com 97% dos votos.

Emendas constitucionais de 2019 garantiram que o reinado de Sissi não fosse interrompido ali. Na ocasião, o Parlamento aprovou não só um aumento da duração de mandatos presidenciais —de quatro para seis anos— como permitiu ao militar concorrer a ainda mais dois mandatos, na prática abrindo caminho para que siga no poder até 2036.

Sisi ainda não anunciou formalmente sua candidatura. Mesmo assim, seus apoiadores já lançaram campanhas apoiando sua reeleição, incluindo outdoors em toda a capital, Cairo. Analistas afirmam que o líder tem amplo apoio das Forças Armadas egípcias, sobretudo do Exército, que se tornou mais poderoso e expandiu sua influência econômica ao longo de sua administração.

Outros quatro políticos manifestaram intenção de concorrer. O mais proeminente deles é o ex-deputado Ahmed Eltantawy, que afirma que as forças de segurança prenderam alguns de seus correligionários e o impediram de promover eventos relacionados à sua campanha. As autoridades não responderam às acusações.

O resultado das eleições deve ser anunciado em 23 de dezembro. Caso haja um segundo turno, o vencedor será anunciado em 16 de janeiro, no máximo.

A gestão de Sisi tem sido marcada pela repressão à dissidência. Ativistas dizem que dezenas de milhares de cidadãos egípcios foram presos desde que ele assumiu, muitas vezes sem julgamentos justos, e que a repressão continua apesar de ele ter concedido perdão a alguns acusados de crimes políticos mais conhecidos.

Cairo ainda proíbe manifestações públicas, prendendo e torturando opositores. Sisi e seus apoiadores argumentam que as medidas são necessárias para gerar estabilidade no país e abrir caminho para o desenvolvimento econômico.

A economia tem, aliás, sofrido sob Sisi nos últimos anos. A inflação é estratosférica, com preços que mudam durante o dia e são rabiscados e corrigidos à mão nas etiquetas, e produtos básicos como ovo, carne e leite viraram itens de luxo. A classe média tem acumulado dois ou três empregos para poder pagar o aluguel e as parcelas do carro.

O militar tem culpado a conjuntura externa por esse contexto, sobretudo a Guerra da Ucrânia. Russos e ucranianos estavam entre os principais grupos que visitavam o Egito, país que depende do turismo, e o conflito impediu a importação de trigo –a nação no Norte da África é a maior compradora do grão no mundo. Na esteira, investidores externos deixaram o país, levando US$ 20 bilhões (R$ 100 bilhões).

Especialistas —incluindo os credores do Cairo— têm sugerido que o governo reduza a participação do Exército na economia, permitindo o desenvolvimento da iniciativa privada em setores como a construção e a comunicação. Hoje, militares controlam parte da cadeia produtiva nesse regime autoritário.

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