Kim visita fábricas de caças na Rússia e aumenta temor de parceria militar

EUA e Coreia do Sul dizem que Putin 'pagará o preço' caso acordos entre Moscou e Pyongyang se confirmem

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São Paulo

Na Rússia desde o início da semana, o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, inspecionou nesta sexta-feira (15) fábricas de caças do conglomerado russo UAC (United Aircraft Corporation), que é alvo de diversas sanções internacionais. A visita a duas plantas em Komsomolsk-do-Amur, no Extremo Oriente do país, intensificou os temores dos Estados Unidos e seus aliados de que o regime comunista tenha fechado acordos militares com o país liderado por Vladimir Putin.

O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em visita a fábrica de caças em Komsomolsk-do-Amur, na região de Khabarovsk, no Extremo Oriente da Rússia - Governo de Khabarovsk/Telegram/via Reuters

Kim estava acompanhado de integrantes do Exército de seu país e do vice-primeiro-ministro de Moscou, Denis Manturov, durante as visitas às fábricas Iuri Gagarin e Iakovlev. A TV estatal russa o mostrou examinando a cabine de comando de um caça na primeira planta enquanto uma comitiva explicava suas habilidades a ele por meio de um tradutor. Ele então inspecionou a montagem da fuselagem e das asas do Sukhoi Superjet 100 antes de assistir a uma demonstração do caça Su-35, fabricado ali, assim como o Su-57.

Kim chegou em Vladivostok em seu trem blindado na segunda-feira (11). Dois dias depois, na quarta, participou de uma rumorosa cúpula com Putin no cosmódromo de Vostótchni, na mesma região, e parece ter passado a maior parte da quinta viajando antes de surgir em Komsomolsk-do-Amur, 6.000 km a leste de Moscou. Segundo a agência de notícias Associated Press, a expectativa é que ele retorne a Vladivostok no sábado (12) para inspecionar navios de guerra da Frota do Pacífico russa e visitar uma universidade.

A Rússia tem feito questão de divulgar as ações de Kim no país, de forma a insinuar uma potencial cooperação militar com a ditadura. Ao mesmo tempo, vem tentando manter o mistério em torno das negociações, em uma estratégia que, segundo analistas, tem como principal objetivo assustar seus rivais no Ocidente. Nesta sexta, por exemplo, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou a jornalistas que nenhum acordo foi firmado entre os dois países, seja na área bélica ou em outras.

Aliado mais próximo de Putin na Europa, o ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, intensificou as especulações ao sugerir uma cooperação trilateral entre as nações durante encontro com o presidente russo no balneário de Sochi, às margens do mar Negro.

Na mesma ocasião, Putin afirmou que seu governo não pretende violar nenhuma sanção do Conselho de Segurança da ONU contra Pyongyang. A Rússia, membro permanente do órgão, apoiou as medidas contra a ditadura quando elas foram sugeridas no fórum, afinal.

"A Coreia [do Norte] é nossa vizinha e precisamos, de uma forma ou de outra, construir boas relações com nossos vizinhos", disse o russo. "Nunca violamos nada, e nesse caso também não temos nenhuma intenção de fazê-lo. Mas certamente buscaremos oportunidades para desenvolver as relações entre a Rússia e a Coreia do Norte."

O líder respondia às ameaças dos EUA e da Coreia do Sul de que haveria um "preço a pagar" caso as resoluções do conselho fossem violadas —a expressão foi usada pelo vice-chanceler sul-coreano, Chang Ho-jin, em um encontro com a imprensa em Seul. Bonnie Jenkins, subsecretária do Departamento de Estado americano para Controle de Armas e Segurança Internacional, por sua vez, chamou de "preocupantes" as indicações de comercialização de equipamentos militares entre Moscou e Pyongyang.

Na quarta, a mesma pasta havia afirmado que a administração Joe Biden não hesitaria em impor sanções adicionais a ambos os países caso acordos do tipo fossem fechados. Washington e seus aliados temem que tratados de cooperação entre os dois países possam, de um lado, fortalecer o Exército russo na Guerra da Ucrânia e, de outro, reforçar o programa de mísseis norte-coreano.

De fato, analistas afirmam que a Coreia do Norte poderia ajudar Moscou a sanar suas dificuldades para produzir munição para suas tropas no Leste Europeu. Pyongyang tem montes de estoques de projéteis, uma vez que manteve as fábricas de armas construídas em seu território com a ajuda da URSS durante a Guerra da Coreia (1950-1953).

Ao mesmo tempo, o país asiático sabidamente tenta produzir mais satélites de ponta, e poderia se beneficiar dos materiais e da tecnologia russos usados na fabricação de mísseis de longo alcance, em parte idêntica à empregada no lançamento de satélites.

Alguns especialistas afirmam, contudo, que ainda que uma eventual cooperação com a ditadura possa ajudar os russos a prolongar enfrentamentos na Ucrânia, é improvável que ela altere seus resultados. As munições norte-coreanas são, afinal, ultrapassadas, e baseiam-se em modelos de artilharia fabricados há meio século atrás. Embora essas armas possam ser empregadas em ofensivas em massa, elas não se prestam a ataques de precisão, que exigem tecnologia mais avançada.

Com Reuters

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