Descrição de chapéu guerra israel-hamas Itamaraty

Brasileiros chegam ao sul de Gaza após dia de tensão

Grupo de 19 foi para Rafah, onde fica o posto de controle para tentar cruzar ao Egito

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São Paulo

Após uma saga iniciada na quarta-feira (11), o grupo de brasileiros refugiados numa escola católica da cidade de Gaza, depois de intervenção do Itamaraty, conseguiu deixar o local e chegou a uma região fora da zona de exclusão determinada por Israel.

mulheres, crianças e homens comem sentados em chão
Brasileiros refugiados compartilham refeição em Rafah, em abrigo fornecido pelo Itamaraty - Reprodução

O grupo deveria ter partido na manhã deste sábado (14, madrugada no Brasil), mas bombardeios israelenses justamente contra Khan Yunis, a cidade por onde passariam na sua tentativa de cruzar a fronteira para o Egito no posto de Rafah, ainda mais ao sul da capital, impediram.

O Itamaraty anunciou inicialmente que elas ficariam em Khan Yunis, onde há famílias brasileiras que também pediram para ser retiradas. Depois, contudo, parte do grupo foi realocada para Rafah, junto à fronteira.

Os ataques aéreos haviam ocorrido após o abrandamento do ultimato dado na véspera pelas IDF (Forças de Defesa de Israel) para a evacuação de todo território ao norte da capital de Gaza, incluindo a própria cidade.

As IDF admitiram que o êxodo planejado, criticado pela ONU, era inexequível em apenas 24 horas. A medida abarca 1,1 milhão dos 2,3 milhões de moradores do local. Neste sábado, em uma postagem no X, o porta-voz militar Avichay Adraee disse que haveria duas rotas seguras para deixar a cidade de Gaza, das 10h às 16h (das 4h às 10h em Brasília).

Ao longo da manhã, surgiram relatos de que poderia haver bombardeios israelenses em um prédio vizinho à escola onde os brasileiros estavam, e o Itamaraty decidiu removê-los de lá. "Nós fizemos a comunicação às Forças de Defesa de Israel para evitar que nosso ônibus seja bombardeado", afirmou o embaixador brasileiro na Cisjordânia, Alessandro Candeas.

Segundo ele, a tensão e angústia dos presentes estava altíssima, devido ao aumento dos sons de explosões na área da Rosary Sisters School. "Com isso, todos ficaram muito aflitos dentro da escola", afirmou.

Homens carregam o ônibus fretado pelo Itamaraty para retirar brasileiros de escola em Gaza
Homens carregam o ônibus fretado pelo Itamaraty para retirar brasileiros de escola em Gaza - Reprodução

O ultimato das IDF precede a operação terrestre para tentar destruir o Hamas, grupo palestino que cometeu o mega-ataque terrorista do sábado passado (7), o maior da história israelense, com 1.300 mortos. A entidade comanda Gaza desde 2007, quando expulsou rivais do Fatah, partido que domina a Cisjordânia e tem um acordo de paz com Israel.

Ao todo, há 28 pessoas sendo atendidas pelo Itamaraty na região: 22 brasileiros que se inscreveram para serem repatriados (12 moradores de Khan Yunis, que continuam na cidade, e 16 em Rafah, após serem retirados da escola), além de 3 imigrantes palestinos e 3 de seus familiares. O grupo de brasileiros é composto por 14 crianças, 8 mulheres e 6 homens adultos.

O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah (Cisjordânia) fretou um ônibus para levar o grupo a Khan Yunis, que fica ao sul da zona do ultimato. Os refugiados tinham inclusive posto seus pertences no veículo pela manhã, antes do adiamento inicial.

Após a chegada a Khan Yunis, a Embaixada do Brasil em Tel Aviv informou as IDF acerca das coordenadas do prédio, para tentar evitar bombardeios. Mas a avaliação foi de que, até pelos ataques da manhã, seria melhor rumar a Rafah.

Candeas disse que uma casa foi alugada na cidade e o grupo ficará lá. "Estão mais seguros", afirmou. Os brasileiros de Khan Yunis ficarão em suas residências até a definição da ida ao Egito.

Esta parte do plano, contudo, é uma incógnita por enquanto, dadas as resistências do governo do Cairo em receber um influxo grande de refugiados na península do Sinai.

Até a noite de sexta (13), havia a esperança de formação de um comboio internacional para levar todos os refugiados com passaporte estrangeiro, mas o governo de Israel suspendeu o acordo. "Todos ficaram frustrados", afirmou Candeas.

Com efeito, desde 2007 o Egito coordena com Israel o bloqueio em torno de Gaza, controlando de forma estrita a entrada e saída de pessoas e bens por Rafah e pelo posto de Erez, no norte, junto ao território do Estado judeu.

A Casa Branca informou a repórteres neste sábado que havia chegado a um acordo para abrir o posto de Rafah para seus cerca de 500 cidadãos em Gaza. Ele ficaria, segundo os EUA, aberto até as 17h. O plano, contudo, não se concretizou.

O Brasil segue em tratativas semelhantes e tem em seu favor o fato de seu grupo ser pequeno. A expectativa do embaixador é de que a saída ocorra no máximo até segunda-feira (16), mas tudo é bastante incerto. Um avião Embraer-190 da Presidência que não estava na escala de voos de repatriação da Força Aérea para Israel chegou na sexta a Roma e aguarda instruções para ir ao Egito.

Mesmo antes do ultimato, já havia mais de 400 mil deslocados internos na região devido à guerra declarada por Israel após o mega-ataque. Metade deles tinha pedido para deixar a região à ONU, tendo procurado abrigo em seus edifícios. A retaliação de Israel pelos ataques já matou mais de 2.000 palestinos.

O grupo terrorista havia emitido, na sexta, uma ordem para que os moradores da região ficassem em casa, mas foi largamente ignorado. Não há ainda números precisos, mas milhares de palestinos pegaram o que tinham e, em veículos que iam de carroças a SUVs, rumaram para o sul de Gaza.

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