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O que a Folha pensa terrorismo

Brasil, Gaza

Barbárie em Israel açula polarização brasileira e constrange Lula e a esquerda

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Passageiros depois de desembarcarem de avião na Base Aérea de Brasília
Brasileiros resgatados em Israel chegam a Brasília em avião da FAB - Gabriela Biló/Folhapress

O bairro Brasil, na cidade de Rafah, é um dos lugares mais miseráveis da Faixa de Gaza e monumento à relação do país com aquele ponto de fratura do Oriente Médio.

De 1956 a 1967, interregno entre 2 dos 4 grandes conflitos entre países árabes e Israel desde que a ONU partilhou a região, em 1948, o brasileiro Batalhão Suez operou em Gaza em nome da entidade. A presença acabou em caos e fuga na Guerra dos Seis Dias.

A conturbada história local agora volta ao Brasil impulsionada pela polarização que dividiu o país entre simpatizantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus críticos, boa parte deles bolsonarista —os de extração evangélica são especialmente ligados a Israel por razões teológicas.

O motivo é a eclosão renovada de uma guerra na região, na esteira do brutal ataque terrorista do grupo palestino Hamas, que desde 2007 controla a sitiada Gaza, contra israelenses no sábado (7).

A inominável ação, mais infame a cada imagem revelada, tornou-se motivo de enfrentamento no Brasil, onde oposicionistas acusam Lula de tolerar o terror.

O PT e outras siglas de seu espectro sempre apoiaram a causa palestina de forma irrefutável, a ponto de deixar espaço ao antissemitismo. Uma coisa, por óbvio, é condenar políticas criminosas de Israel contra os palestinos. Outra é justificar atos terroristas.

A posição histórica do Itamaraty tende a coincidir com a da esquerda, embora ela seja mais ponderada na defesa do direito à existência de Israel ao lado da Palestina —à qual esta Folha se associa.

Na atual crise, Lula e a chancelaria começaram titubeantes, criticando corretamente o terrorismo pelo nome, mas esquecendo de identificar o autor, o Hamas.

O embaraço se espalhou à esquerda, afetando até a postulação de Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, dado que seu PSOL esposa teses radicais contra Israel.

Ao longo desta semana de conflito houve novos deslizes, como o Itamaraty lamentando o massacre de dois brasileiros como meros "falecimentos" em nota. À pressão para chamar o Hamas de grupo terrorista, o governo tergiversou e jogou o problema para a ONU.

Mas correções de rumo foram adotadas, ainda que de forma tíbia, quando Lula enfim criticou o Hamas por sequestrar crianças. Até Boulos tratou de condenar o terror de forma mais incisiva.

O presidente saiu-se melhor na sua obrigação de assistir os brasileiros na região. Os que estão em Israel estão sendo retirados por eficaz operação da Força Aérea.

Já os 22 em Gaza, sob bombas, estão sendo atendidos até que seja viável enviá-los ao Egito pelo posto de Rafah —que, a 2 km do bairro Brasil, poderá sediar um capítulo digno em uma trágica história.

editoriais@grupofolha.com.br

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