Brasileiros vão deixar escola para evitar invasão de Gaza

Itamaraty muda de planos e vai remover refugiados para sul, mas após fim do ultimato

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São Paulo

A deterioração na situação de segurança fez o Itamaraty mudar de ideia, e o grupo de brasileiros que está refugiado numa escola católica de Gaza irá tentar deixar o local na manhã deste sábado (14), quando já terá expirado o ultimato dado pelas Forças de Defesa de Israel para a evacuação da cidade antes de uma ofensiva militar.

O ônibus para fazer o transporte conseguiu chegar à Rosary Sisters School já na noite desta sexta (13) em Gaza, e situação foi considerada insegura demais para fazer a remoção imediatamente. O destino será Khan Younis, região ao sul de Gaza em que já estão brasileiros que pediram para ser evacuados.

Blindados de combate israelense tomam posição ao longo da fronteira com Gaza nesta sexta (13)
Blindados de combate israelense tomam posição ao longo da fronteira com Gaza nesta sexta (13) - Jack Guez/AFP

De lá, a intenção é tentar fechar um acordo com o governo egípcio já no sábado para cruzar a fronteira, mas isso ainda não está confirmado.

A escola onde estavam os brasileiros, que já foi alvejada por Israel em 2021 sob suspeita de abrigar terroristas do Hamas, que ora é alvo da ação militar devido a seu mega-ataque terrorista do sábado passado (7), fica no extremo sudoeste da cidade de 600 mil habitantes, quase junto à praia local.

O entendimento inicial do Itamaraty, que já avisou Israel sobre a presença dos brasileiros para tentar evitar bombardeio, era de que o alerta e a posição geográfica garantiam a segurança. Isso mudou ao longo do dia.

Segundo uma nova atualização do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah (Cisjordânia), há 19 brasileiros na escola, mas apenas 10 se inscreveram para serem evacuados. Os outros 9 chegaram depois, para se refugiar —eles fazem parte da comunidade brasileira em Gaza, cerca de 40 pessoas, e outros poderão se unir a eles. O clima é de natural medo e apreensão.

Há outras 12 pessoas que já haviam pedido para serem evacuadas, mas moram em Khan Younis. Em princípio, elas ficaram em casa, e talvez abriguem alguns dos outros brasileiros.

A psicóloga contratada pelo Itamaraty para apoiar o grupo não consegue mais ir pessoalmente ao local, dada a situação de segurança, então atende os refugiados por WhatsApp. Na quinta (12), chegaram diversos mantimentos e itens como colchões e cobertores ao local.

Inicialmente, o grupo todo que pediu para ser retirado era de 30 pessoas, mas houve 8 desistências, que talvez agora sejam revistas.

A operação de Israel, que concentra tanques, blindados e soldados em torno de Gaza enquanto bombardeia pesadamente o território, é uma reação ao mega-ataque terrorista do Hamas, o grupo palestino que comanda com mão de ferro a região. Até a quinta, morreram 1.300 israelenses nos ataques terroristas e 1.500 palestinos, na retaliação de Tel Aviv.

A situação desses brasileiros é dramática, mas por óbvio está inserida em uma crise muito maior. Até a quinta, já haviam deixado suas casas em Gaza 432 mil pessoas, 180 mil delas abarrotadas em refúgios da ONU (Organização das Nações Unidas).

Um pouco maior do que Guarulhos (SP), mas com quase o dobro de sua população, Gaza traduz um pesadelo logístico para militares. Israel determinou a desocupação até o fim da noite desta sexta (13), no horário brasileiro, de 1,1 milhão dos 2,3 milhões de habitantes.

O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah está trabalhando no caso. A ideia é fazer a saída dos brasileiros pelo posto de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

Mas o Egito, apesar de dizer que a barreira está aberta, tem resistido na prática. O motivo é duplo: a ditadura local não quer arcar com os milhares de moradores de Gaza que viriam em um movimento como esse, com a península do Sinai se tornando mais um grande campo de refugiados das guerras árabes-israelenses.

Além disso, tal movimento dificultaria ainda mais uma resolução da questão da viabilização de um Estado palestino, o que de todo modo não é a preocupação do governo em Tel Aviv —o premiê Binyamin Netanyahu já falou em redesenhar o mapa do Oriente Médio nesta guerra.

Além disso, há o óbice óbvio da campanha de bombardeio israelense. Até a quinta, Israel disse ter despejado 6.000 bombas e mísseis sobre a região, algo brutal. Nos auge da ação militar sobre o Afeganistão, os Estados Unidos empregaram 7.200 explosivos em todo um ano. Dirigir uma van ou ônibus se torna uma loteria.

A evacuação de Gaza, da forma proposta, é humanamente impossível, o que já levou a críticas de potências estrangeiras. O presidente russo, Valdimir Putin, afirmou que as baixas civis de uma invasão terrestre, algo que nunca foi tentado em larga escala por Israel desde que bloqueou Gaza após sua tomada pelo Hamas em 2007, serão "absolutamente inaceitáveis".

Responsável pela invasão da Ucrânia em 2022, que já deixou milhares de civis e militares mortos, Putin afirmou que é "preciso parar o derramamento de sangue". Seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ao presidente Emmanuel Macron (França) por telefone que o Ocidente precisava conter a reação israelense, prevendo um massacre.

Já a evacuação de brasileiros no território israelense segue de forma ordenada. O terceiro voo de repatriação chegou nesta sexta cedo a Recife e depois pousou também em Guarulhos, elevando a 494 o número de pessoas atendidas. Cerca de 2.700 haviam se registrado junto à Embaixada do Brasil em Tel Aviv para sair, 60% delas turistas.

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