Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel nega visto a representante da ONU para 'ensinar lição' após fala de Guterres

Secretário-geral das Nações Unidas nega ter justificado terrorismo e diz que declarações foram deturpadas

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São Paulo

O governo de Israel disse nesta quarta-feira (25) ter recusado um visto ao subsecretário-geral para assuntos humanitários das Nações Unidas, Martin Griffiths, com o intuito de "ensinar uma lição" após críticas feitas pelo secretário-geral da entidade, António Guterres, sobre a guerra contra o Hamas.

O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, discursa ao Conselho de Segurança da ONU durante uma reunião sobre o conflito entre Israel e o Hamas
O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, discursa ao Conselho de Segurança da ONU durante uma reunião sobre o conflito entre Israel e o Hamas - Mike Segar-18.out.23/ Reuters

O anúncio aumenta a rixa do governo israelense com a organização internacional, que ganhou novos contornos nesta terça (24) depois de o embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, pedir a renúncia de Guterres.

"Chegou a hora de lhes ensinar uma lição", disse Erdan à Rádio do Exército israelense, segundo o jornal The Times of Israel. "Devido aos comentários [de Guterres], recusaremos a emissão de vistos para representantes da ONU. Já recusamos um visto ao subsecretário-geral para os assuntos humanitários."

Para Erdan, Guterres foi conivente com assassinato de israelenses ao criticar a resposta aos ataques do Hamas no último dia 7. A crise atingiu o ápice na terça, quando o secretário-geral da ONU disse no Conselho de Segurança que estava "profundamente preocupado com as claras violações do direito humanitário internacional" na Faixa de Gaza e que os atentados do Hamas "não aconteceram no vácuo", em referência às violações sofridas por palestinos após décadas de "ocupação sufocante".

As declarações provocaram ira em integrantes do governo israelense. O chanceler de Israel, Eli Cohen, chegou a cancelar uma reunião que teria com Guterres. Durante seu discurso no Conselho de Segurança, ele já havia se voltado contra o português. "Senhor secretário-geral, em que mundo você vive? Definitivamente, não é o nosso", disse.

Sem mencionar o pedido de renúncia, Guterres rejeitou nesta quarta as acusações de que teria tentado justificar os atos de terrorismo em Israel. "Estou chocado com as deturpações de algumas das minhas declarações, como se eu estivesse justificando os atos de terror do Hamas. Isso é falso. Foi o oposto".

"No início da minha fala de ontem, afirmei claramente –e volto a citar: 'Condeno inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro cometidos pelo Hamas em Israel'", disse ele.

Segundo Guterres, a retratação foi necessária em "respeito às vítimas e suas famílias". Mas a declaração não foi suficiente para arrefecer a crise com o governo israelense. Cohen disse que a falta de um pedido explícito de desculpas é uma "vergonha" e voltou a pedir a renúncia do secretário-geral.

O Conselho de Segurança vive um impasse sobre como reagir ao conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, refletindo a divisão internacional sobre a reação de Tel Aviv aos ataques sofridos em 7 de outubro.

Enquanto americanos blindam seu principal aliado no Oriente Médio e buscam permitir que o país tenha assegurado seu direito de defesa, a maioria da comunidade internacional converge no apelo para uma contenção do conflito, sobretudo para que Israel limite o uso da força de acordo com o direito internacional, e no pedido de um cessar-fogo humanitário para impedir uma catástrofe iminente em Gaza.

As críticas contra Israel foram ecoadas pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Ele afirmou ao Parlamento de seu país que uma invasão terrestre contra Gaza resultaria em um massacre e que o grupo terrorista palestino Hamas não é terrorista.

"O Hamas não é uma organização terrorista, é um grupo de libertação, mujahedin travando uma batalha para proteger suas terras e povo", disse, usando a palavra árabe para "guerreiros santos", aqueles que lutam por sua fé, que tem ressonância no mundo islâmico.

Assim, Erdogan rompe laços que já estavam fragilizados pelas suas críticas à reação de Tel Aviv ao mega-ataque terrorista do Hamas, alinhando-se com líderes de países árabes e com o russo Vladimir Putin.

Nesta quarta (25), o Conselho de Segurança voltou a se reunir e votou uma resolução defendida pelos EUA, apresentada na véspera —a proposta acabou vetada por Rússia e China. A iniciativa acontece na semana seguinte ao veto imposto por Washington a um texto formulado pelo Brasil, na qualidade de presidente do Conselho de Segurança, que teve apoio de 12 dos 15 membros.

Com Reuters

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