Lula diz que Netanyahu quer acabar com a Faixa de Gaza e que Hamas não é terrorista

Presidente diz seguir ONU em classificação dada à facção palestina, mas chama de terroristas os atos cometidos pelo grupo em 7 de outubro

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (27) que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, quer "acabar com a Faixa de Gaza". Segundo o petista, o premiê se esquece que o território palestino não abriga apenas soldados do Hamas, mas também mulheres e crianças, "que são as grandes vítimas desta guerra."

Por outro lado, Lula afirmou que o Brasil não considera o Hamas um grupo terrorista, mas reiterou que a facção cometeu um ato terrorista em 7 de outubro, ao invadir Israel em um ataque que gerou 1.400 mortes segundo Tel Aviv e deu início à guerra em curso no Oriente Médio.

Lula durante conversa por telefone com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas - Ricardo Stuckert - 14 out. 2023/ Presidência da República

As declarações de Lula foram feitas em um café da manhã com jornalistas que cobrem a Presidência da República no Palácio do Planalto.

A fala crítica ao governo israelense desta sexta se soma a outra de teor semelhante feita no início da semana, durante o programa Conversa com o Presidente, live semanal de Lula. Na ocasião, ele afirmou que "não é porque o Hamas cometeu um ato terrorista contra Israel que ele [o país] tem que matar milhões de inocentes". O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que mais de 7.300 palestinos morreram em consequência dos bombardeios de Israel ao território.

Lula usou a palavra "terrorismo" para descrever as ações do grupo pela primeira vez há uma semana, em resposta a pressões políticas crescentes —ele não tinha citado o Hamas nominalmente em seu pronunciamento inicial sobre o conflito, no próprio 7 de outubro.

Nesta sexta, disse que usou o termo em referência à atuação da facção, não a ela propriamente. Para isso, recorreu a uma justificativa já dada pelo governo antes, de que o país obedece historicamente a classificações da ONU nesse âmbito.

"Não queria que a imprensa brasileira tivesse dúvidas sobre o comportamento do Brasil. Ele só reconhece como organização terrorista aquilo que o Conselho de Segurança da ONU reconhece. E o Hamas não é reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU como uma organização terrorista, porque ele disputou eleições na Faixa de Gaza e ganhou. O que é que nós dissemos? Que o ato do Hamas foi terrorista", afirmou o presidente.

Lula ainda usou o café da manhã para defender o fim do poder de veto de Estados Unidos, França, Rússia, China e Reino Unido no Conselho de Segurança da ONU —os cinco países são membros permanentes do órgão. Como presidente rotativo do Conselho, o mais poderoso do sistema multilateral, o Brasil propôs uma resolução visando, entre outros pontos, um cessar-fogo no Oriente Médio. A proposta, contudo, foi vetada por Washington.

"Alguém tem que falar em paz. A nota que o Brasil fez [...] foi aprovada por 12 de 15 votos e duas abstenções. É por isso que queremos acabar com o direto de veto. Achamos que os americanos, os russos, os ingleses, os franceses, os chineses, ninguém deve ter direito de veto", disse.

O evento com jornalistas se dá na semana em que o presidente voltou a despachar presencialmente do Palácio do Planalto, após um período de recuperação das cirurgias a que foi submetido no fim de setembro.

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