Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel entra em Gaza pelo 2º dia consecutivo e expande ofensiva terrestre

Incursões ocorrem após dúvidas sobre invasão de larga escala e em meio a temor de deflagração regional

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São Paulo

Militares de Israel entraram na Faixa de Gaza pelo segundo dia consecutivo, nesta sexta-feira (27), e chegaram a travar combates com membros do Hamas, de acordo com o grupo terrorista, em uma ofensiva vista como um ensaio para a invasão de larga escala de Tel Aviv.

A ação começou na madrugada desta sexta nos arredores do bairro de Shejaiya, na cidade de Gaza, região norte da faixa homônima, com a participação de militares da infantaria e de forças blindadas, segundo o jornal Times of Israel. Drones e helicópteros da Força Aérea israelense forneceram apoio aéreo.

Pessoas andam sobre escombros em área de Khan Yunis, no sul de Gaza, atingida por bombardeio
Pessoas andam sobre escombros em área de Khan Yunis, no sul de Gaza, atingida por bombardeio - Ibraheem Abu Mustafa - 26.out.2023/Reuters

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disseram que os militares destruíram locais usados pelo Hamas, incluindo plataformas de lançamento de mísseis guiados antitanque e centros de comando. Vários integrantes do grupo terrorista foram atingidos na incursão, ainda segundo Tel Aviv.

A ofensiva ocorreu um dia após o que seria a maior incursão ao território palestino desde o começo da guerra, segundo a rádio do Exército. Na quinta (26), tanques e escavadeiras de Israel romperam barreiras e avançaram também no norte de Gaza. Um vídeo divulgado pelas Forças Armadas de Israel mostra os blindados disparando e explosões em prédios residenciais. A ação foi descrita como limitada, e as forças israelenses deixaram o território horas depois.

Na noite desta sexta, o Hamas reportou "violentos combates" com tropas de Israel em Gaza, enquanto palestinos disseram ter visto tanques no território. O porta-voz do Exército de Israel, Peter Lerner, afirmou à emissora americana ABC que essa, contudo, não é a ofensiva em grande escala.

As autoridades divulgaram poucos detalhes das incursões, mas o porta-voz militar Daniel Hagari admitiu que as forças de Israel intensificaram os ataques contra Gaza nos últimos dias. Ele disse também que as operações terrestres vão se expandir. "A Força Aérea está atingindo alvos subterrâneos de forma muito significativa", afirmou, acrescentando que não há relatos de soldados israelenses feridos nas duas ações.

Hagari acusou o Hamas de construir um centro de comando militar num túnel embaixo do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza. A base seria usada pelos terroristas como uma espécie de escudo contra os ataques israelenses. "O Hamas transformou hospitais em centros de comando e de controle, além de esconderijos para os terroristas e seus comandantes", disse. O militar afirmou que o Exército e a agência de segurança israelense, a Shin Bet, têm evidências que mostram como a facção utiliza de forma rotineira infraestruturas humanitárias em Gaza para suas atividades —o material, contudo, não foi divulgado.

Ezzat El-Reshiq, membro do departamento político do Hamas, rejeitou as acusações em um canal do aplicativo Telegram. Segundo ele, Israel "espalha mentiras" sobre o grupo como "um prelúdio para cometer massacres" contra o povo palestino.

Além da incursão na parte norte, bombardeios também foram registrados no sul do território palestino, onde Israel disse ter matado mais um comandante do Hamas. Madhat Mubasher, chefe do Batalhão Oeste de Khan Yunis, teria sido atingido em um dos ataques aéreos —afirmação que não havia sido confirmada pelo Hamas até esta sexta.

Segundo as IDF, citadas pelo The Times of Israel, Mubasher participou de "ataques com franco-atiradores e foi responsável por explosivos [usados] contra forças e cidades israelenses".

Desde que a guerra começou, Tel Aviv anunciou ter matado várias lideranças do Hamas. Nesta quinta, quatro chefes do batalhão Darj Tafah, do grupo terrorista, teriam sido mortos também em bombardeios.

O aumento das ofensivas ocorre em meio ao temor de uma expansão do conflito no Oriente Médio e após a invasão de larga escala, prometida por Israel, ser objeto de debates e especulações após um suposto atraso. Publicação do jornal The Wall Street Journal afirmou na quarta (25) que a Casa Branca pediu a Israel que adiasse a ofensiva para reforçar as defesas das bases americanas na região.

O oficial do Hamas Abu Hamid, que está em viagem em Moscou, disse à imprensa russa que a libertação de reféns detidos em Gaza só ocorrerá se for estabelecido um cessar-fogo. O grupo palestino afirmava ter 250 pessoas em seu poder, enquanto Tel Aviv agora contabiliza 229 vítimas sequestradas. Por ora não há sinais de apaziguamento.

Ao menos quatro pessoas ficaram feridas após um foguete atingir um prédio residencial em Tel Aviv. Segundo o Times of Israel, uma das vítimas, de 20 anos, sofreu lesões moderadas. O ataque fez parte de uma série de foguetes lançados contra Tel Aviv, cuja autoria foi reivindicada pelas Brigadas Al-Qasam, braço militar do Hamas. Segundo a polícia, o artefato atingiu um apartamento no último andar.

Um vídeo publicado nas redes sociais mostra o momento em que o foguete atinge o prédio. As imagens não puderam ser verificadas de forma independente. O prefeito de Tel Aviv, Ron Huldai, compareceu ao local atingido e disse que apenas escolas com abrigo antiaéreo vão abrir na cidade.

Após 20 dias de bombardeios diários na Faixa de Gaza, a ONU afirmou nesta sexta que Israel pode estar cometendo crimes de guerra contra civis no território palestino. "Estamos preocupados que crimes de guerra estejam ocorrendo. Estamos preocupados com a punição coletiva dos habitantes de Gaza em resposta aos ataques atrozes do Hamas, que também equivaleram a crimes de guerra", afirmou em Genebra a porta-voz para Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani.

A organização já havia informado que investiga possíveis crimes desde que o conflito entre Israel e Hamas começou. Investigadores disseram estar coletando provas de eventuais irregularidades de ambos os lados da guerra e afirmaram estar comprometidos com a responsabilização dos envolvidos, tanto dos diretamente ligados a agressões quanto daqueles em posições de comando.

Os ataques terroristas feitos por integrantes do Hamas mataram mais de 1.400 pessoas em solo israelense. A retaliação de Tel Aviv, por sua vez, matou 7.326 pessoas, incluindo 3.038 crianças, até esta sexta, segundo o Ministério da Saúde em Gaza, controlado pela facção.

Palestinos dizem que os ataques de Israel em Gaza atingem civis, enquanto os israelenses dizem ter como alvos infraestruturas e integrantes do Hamas. A agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA) disse que 53 funcionários das Nações Unidas foram mortos no território.

Também nesta sexta, a empresa de telefonia palestina Jawal disparou mensagens dizendo que seus serviços de comunicação e de internet foram interrompidos na Faixa de Gaza devido aos bombardeios. A falta de conexão coloca em risco todo o contato dos palestinos com o mundo externo.

O Crescente Vermelho Palestino, versão da Cruz Vermelha para o mundo islâmico, por exemplo, perdeu contato com a sala de operações da entidade no território e afirmou que a queda inviabiliza chamadas de emergência.

Por volta das 14h de Brasília (20h da noite em Israel), a representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, também percebeu que os serviços de comunicação haviam sido cortados, de acordo com nota da Presidência. Apesar disso, a equipe conseguiu contato com um dos brasileiros em Rafah.

"Não há relatos de brasileiros feridos em decorrência dos bombardeios que acontecem na noite de hoje na região", segundo a nota. "A representação segue acompanhando a situação em Gaza."

Com Reuters e AFP

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