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Morre iraniana hospitalizada após 'detenção moral' por não usar o véu islâmico

Armita Geravand, 16, teve morte cerebral após episódio em Teerã; autoridades negam que tenham a agredido

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São Paulo

Armita Geravand, adolescente iraniana que foi hospitalizada e entrou em coma após ter sido abordada pela chamada polícia moral do Irã no último dia 1º, morreu na madrugada deste sábado (28), informou a IRNA, a agência de notícias oficial do regime.

No informe, a agência oficial reforçou a versão do governo de que o coma foi causado por que a adolescente teria batido a cabeça após desmaiar.

Imagens de câmeras de segurança mostram Armita, 16, sendo retirada desacordada de um vagão de metrô na capital Teerã no início do mês. Segundo alguns grupos de ativistas, ela teria sido agredida por forças de segurança por supostamente não usar o véu islâmico, o hijab, e, como consequência, teve morte cerebral.

A iraniana Armita Geravand, supostamente agredida por agentes da polícia moral.
A iraniana Armita Geravand, supostamente agredida por agentes da polícia moral - Reprodução/NBC News

Grupos de direitos humanos denunciaram a hospitalização de Armita, como o curdo-iraniano Hengaw, que compartilhou fotos da adolescente em coma e com a cabeça enfaixada.

A mesma organização disse que a jovem foi espancada e "gravemente ferida" por agentes do órgão responsável por aplicar o código de conduta iraniano —acusações que foram negadas por autoridades.

As imagens disponibilizadas pelo governo, porém, são limitadas e não revelam o que aconteceu dentro do vagão. Segundo o jornal The New York Times, Armita pode ser vista em um vídeo entrando no trem do metrô com amigos sem usar o lenço na cabeça. Depois disso, as imagens mostram seus amigos a retirando aparentemente desacordada em direção à plataforma.

Um veículo mencionado pelo jornal americano traz ainda outra versão. De acordo com Farzad Seifikaran, um jornalista da Zamaneh Media, site independente de notícias em língua persa sediado em Amsterdã, Armita e dois de seus amigos discutiram com policiais sobre o uso do hijab –quando um deles empurrou a adolescente, fazendo com que ela batesse a cabeça ao cair.

A IRNA acusou meios de comunicação "anti-Irã" de usaram o incidente contra o governo.

Os pais da adolescente chegaram a dar declarações à mídia estatal alegando que o coma da filha poderia ser em decorrência de algum problema de pressão arterial ou alguma queda que ela tenha sofrido.

O caso da jovem ocorre em meio à intensificação de repressões pela polícia moral iraniana após ondas de protestos desencadeadas pela morte de Masha Amini, também supostamente agredida pela polícia por uso considerado incorreto do véu islâmico.

Na época, as manifestações tomaram o país e resultaram na detenção de ao menos 22 mil pessoas.

No Irã, restrições às roupas femininas foram impostas em 1979, tornando obrigatório o uso de vestes longas e do véu para cobrir o cabelo. Infratoras pode ser repreendidas publicamente, multadas e até presas.

Em contraposição ao código, desde a morte de Masha mais mulheres têm aparecido sem o véu em locais públicos, o que resultou em uma maior instalação de câmeras nas ruas por parte das autoridades para identificar quem desobedece o código de vestimenta.

Mulher sendo retirada desacordada de vagão de metrô
A iraniana Armita Geravand, que foi abordada pela polícia moral iraniana, sendo retirada de um vagão de metrô - Reprodução/CNN/AP


A repressão contra essas mulheres tem aumentado. Em setembro deste ano, após um ano de morte de Masha, o Parlamento iraniano aprovou um texto que endurece a punição contra quem não usar a vestimenta, acusando mulheres que se negarem a cumpri-lo de estarem "promovendo nudez".

Com a nova legislação, o uso das vestimentas passa a ser obrigatório no interior de automóveis e donos de empresas cujas funcionárias desrespeitarem a regra também poderão ser multados e até proibidos de deixar o país.

Autoridades iranianas têm buscado evitar novos protestos. Mais policiais nas ruas e restrições ao uso da internet, como o bloqueio de páginas durante o período da noite, são algumas das queixas feitas por ativistas.

Em uma ação lida como demonstração de apoio às mulheres iranianas, o Nobel da Paz 2023 foi concedido à ativista Narges Mohammadi, 51, que está presa em Teerã. "Ela apoia a luta das mulheres pelo direito de ter vidas plenas e dignas", disse o texto que justificou a escolha da ativista no início deste mês. "Esta luta, em todo o Irã, tem sido alvo de perseguição, prisão, tortura e até morte."

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